A MEDIDA QUE MEDE O CANTADOR Clerisvaldo B. Chagas, 24 de fevereiro de 2014 Crônica Nº 1146   Desenho: desastroladosdesconhecido...

A MEDIDA QUE MEDE O CANTADOR



A MEDIDA QUE MEDE O CANTADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de fevereiro de 2014
Crônica Nº 1146
 
Desenho: desastroladosdesconhecidos.














A cabeça produz todo o repente
Dia e noite azeitando o maquinário
A produção independe do horário
Mas não pode ser isso tão somente
Vez em quando vem algo diferente
Escapando à rotina e o padrão
Nesse instante se rompe a vibração
E a estrofe triplica o seu valor
A medida que mede o cantador
É a cuia que mostra a criação

Não gosto de cantar uma cidade
Trânsito, avenidas e concreto
Baladas, teatros, mar aberto
Escolas, presídios, faculdade
Prefiro o furor da tempestade
A voz temerosa do trovão
O corisco que desce e fura o chão
A onça acuando o caçador
A medida que mede o cantador
É a cuia que mostra a criação
pib.socioambiental.org.

O verdume da mata é um calmante
A paisagem da seca é dor atroz
Carcará quando desce é mais feroz
O orvalho nas folhas é diamante
É mais ouro o sopé do horizonte
Os serrotes vigiam o meu sertão
Rasga-beiço protege o azulão
Entre galhos de espinho serrador
A medida que mede cantador
É a cuia que mostra a criação


Depois de um dia bem chovido
O sol pinta seus raios no poente
Pula o sapo no olho da vertente
O mocó passa as unhas no ouvido
O galho da jurema, retorcido
Baixa o dorso e balança o gavião
Um peba fugitivo cava o chão
O preá distancia o predador
A medida que mede o cantador
É a cuia que mostra a criação

Nas chapadas bonitas, colossais
Dobram hinos canários sem prisões
As serpentes protegem os paredões
Borboletas esvoaçam triunfais
Os macacos se coçam nos umbrais
Nas quebradas relincha o garanhão
O bico cortante do cancão
Silencia pra ver o sol se por
A medida que mede o cantador
É a cuia que mostra a criação

Vem à brisa varrendo o pó da terra
Semeando balidos de ovelhas
O zumbido nervoso das abelhas
Vai levando ferrões, lanças de guerra
O guará ardiloso desce a serra
Ergue ao vento o focinho de carvão
A cobra no terreiro morde o cão
Passa o ramo o velhinho curador
A medida que mede o cantador
É a cuia que mostra a criação

FIM






SÃO BENEDITO Clerisvaldo B. Chagas, 4 de março de 2014. Crônica Nº 1145 MACEIÓ: IGREJA DE SÃO BENEDITO. Foto: (Clerisvaldo). ...

SÃO BENEDITO



SÃO BENEDITO
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de março de 2014.
Crônica Nº 1145

MACEIÓ: IGREJA DE SÃO BENEDITO. Foto: (Clerisvaldo).
Numa época em que ainda existe o preconceito, lembramos à Igreja de São Benedito, em Maceió. Situada à Rua Barão de Alagoas, o templo católico possui tradição na capital deste estado. Até a pouco era ainda a única igreja que recebia cadávares a serem velados em prédios católicos. Foi ali onde faleceu, após celebrar a missa, o Padre Capitulino que foi intendente em Santana do Ipanema e chegou a ser governador substituto por alguns meses. A primeira reforma (1900) da capela original que virou Matriz de Senhora Santana e, a construção da igrejinha/monumento que ainda hoje existe, para homenagear a passagem do século XIX para o século XX, foram realizadas pelo mesmo padre radicado em Santana, vindo de Piaçabuçu.
Sobre a vida do santo negro, motivos de muitas piadas dos brancos, podemos resumir o que se encontra na literatura cristã:
“Diz o Ofício Litúrgico de São Benedito do próprio da Ordem Franciscana: ‘Benedito que pela sua cor preta foi chamado o santo preto’. Benedito era de família descendente da África. Seus avós eram etíopes. Benedito, portanto, tinha a pele de cor negra. Uma piedade falsa dos séculos 19 e 20 (até os anos 50) queria atribuir uma cor de pele morena, quase branca, ao nosso santo, como se não ficasse bem a glorificação nos altares da raça negra. Assim como Benedito, também Santo Elesbão e Santa Efigênia são de cor negra e deram muitas glórias ào Senhor e à Igreja.
Foi pastor de ovelhas e lavrador. Aos 18 anos de idade já havia decidido consagrar-se ao serviço de Deus e aos 21 um monge dos irmãos eremitas de São Francisco de Assis chamou-o para viver entre eles e aceitou. Fez votos de pobreza, obediência e castidade e, coerentemente, caminhava descalço pelas ruas e dormia no chão sem cobertas. Era muito procurado pelo povo, que desejava ouvir seus conselhos e pedir-lhe orações.
Cumprindo seu voto de obediência, depois de 17 anos entre os eremitas, foi designado para ser cozinheiro no Convento dos Capuchinhos. Sua piedade,sabedoria e santidade levaram seus irmãos de comunidade a elegê-lo Superior do Mosteiro, apesar de analfabeto e leigo, pois não havia sido ordenado sacerdote. Seus irmãos o consideravam iluminado pelo Espírito Santo, pois fazia muitas profecias. Ao terminar o tempo determinado como Superior, reassumiu com muita humildade, mas com alegria suas atividades na cozinha do convento.
Sempre preocupado com os mais pobres do que ele, aqueles que não tinham nem o alimento diário, retirava alguns mantimentos do Convento, escondia-os dentro de suas roupas e os levava para os famintos que enchiam as ruelas das cidades. Conta à tradição que, em uma dessas saídas, o novo Superior do Convento o surpreendeu e perguntou: 'Que escondes aí, embaixo de teu manto, irmão Benedito?' E o santo humildemente respondeu: 'Rosas, meu senhor!' e, abrindo o manto, de fato apareceram rosas de grande beleza e não os alimentos de que suspeitava o Superior.
São Benedito morreu aos 65 anos, no dia 4 de abril de 1589, em Palermo, na Itália.
Todos os anos a seguir à Páscoa, há uma missa e festa em sua honra na localidade portuguesa de Coval, concelho de Santa Comba Dão
Humilde foi a origem do santo negro. Benedito era filho de Cristovam Manasseri e Diana Larcan, descendentes de escravos trazidos da Etiópia, África, para a Sicília, Itália. O pai fôra escravo de um rico senhor, Vicente Manasseri, e dele recebera o sobrenome. Diana, sua mãe, fora libertada por um cavalheiro da Casa de Lanza. E como os escravos tomavam o nome de seu senhor, veio a chamar-se Diana Larcan ou de Lanza”.
* Fonte, São Benedito: (Wilkipédia).

ZUP NA ESTRADA Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2014. Crônica Nº 1144 PÔR-DO-SOL MATA/AGRESTE DE ALAGOAS. Foto: (Clerisval...

ZUP NA ESTRADA



ZUP NA ESTRADA
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2014.
Crônica Nº 1144

PÔR-DO-SOL MATA/AGRESTE DE ALAGOAS. Foto: (Clerisvaldo).
O automóvel roda tranquilamente pelo litoral maceioense. Nem parece sábado de Zé Pereira na pista dupla entre os manguezais. Vamos fotografando as belas paisagens alagoanas entre o mar e a lagoa. Barracas às margens com suas guloseimas típicas, Massagueira, Barra Nova, Barra de São Miguel... Vai passando o mundo do mangue e entramos pelos canaviais que nos levam a São Miguel dos Campos. Nada de Carnaval. Resolvido o motivo da ida à cidade miguelense, após farto almoço na Zona da Mata, vamos seguindo rumo a Santana do Ipanema, encontrando o trânsito comportado como o de início da viagem, em Maceió.
AVIÃO SOBRE POSTE. Foto: (Clerisvaldo).
A tarde ia caindo quando iniciamos uma sessão de fotos de crepúsculo, espetáculo entre a Mata e o Agreste sempre caprichado em amarelo vivo. No povoado Belo Horizonte, perto de Campo Alegre, nos deparamos com uma figura inusitada: um avião em cima de um poste. Lá vai máquina! Mas todos queriam mesmo era chegar ao Pé Leve, povoado que vende as comidas típicas populares, em barracas. Mas os barraqueiros haviam evoluído e transformaram as barracas em ótimas casas de alvenaria. Procuramos o tradicional ponto “Barraca da Galega” para comprarmos bolo de milho, broa, má casada, pé de moleque cozido na folha da bananeira e outras iguarias. Mas a galega não estava mais sozinha. Outros moradores tiveram a mesma ideia e o local tornou-se ótimo ponto de negócios devido ao intenso movimento por ali. Tocamos para Arapiraca. Queria anoitecer quando cruzamos o núcleo e continuamos rumo ao Sertão.
PÉ LEVE E SUAS GULOSEIMAS. Foto: (Clerisvaldo).
Nas imediações de Batalha, já noite firme, víamos relâmpagos assustadores ao norte. Calculamos que estivesse acontecendo trovoadas pesadas entre Palmeira dos Índios, Cacimbinhas e Pernambuco. Enquanto isso as guloseimas cheiravam que era uma beleza e não víamos a hora de chegarmos a Santana do Ipanema, para um cafezinho fresco com aquelas coisas trazidas do Pé Leve. Tudo consolidado. Nada de chuva em Santana e nem Carnaval pelas rodovias.
 Pois é, enquanto uns pulavam o frevo por aí, nós ZUP NA ESTRADA.