CARRO DE BOI, RELÍQUIA DO BRASIL (I) (Seriado em três crônicas) Clerisvaldo B. Chagas, 22 de março de 2017 Escritor Símbolo de Se...

CARRO DE BOI, RELÍQUIA DO BRASIL (I)



CARRO DE BOI, RELÍQUIA DO BRASIL (I)
(Seriado em três crônicas)
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de março de 2017
Escritor Símbolo de Sertão Alagoano
Crônica 1.649

Divulgação. Encontro do Carro de Bois. Tapira, MG, 2014.
No Brasil, primeiro chegaram jumentos e cavalos com Martim Afonso de Souza em 1534, São Vicente, data que faz parte do Século XVI. Esses cavalos faziam parte do primeiro lote. Em 1535, chegou o segundo lote de cavalos e foi para Pernambuco. O terceiro lote de equinos chegou com o primeiro Governador-Geral do Brasil, Tomé de Souza (1549-1553), na Bahia, que também trouxe carpinteiros e carreiros para o fabrico do carro de boi. O burro somente surgiu em torno de 1700 (Século XVIII).
Depois das trilhas indígenas, cavalos e jumentos palmilharam muitas terras brasileiras como montarias e animais cargueiros, praticamente nas mesmas trilhas. O carro de boi, entretanto, como vimos, na mesma época, exigia estradas para o deslocamento em pequenas e longas distâncias transportando gente e mercadorias.
Devemos muito a esses três tipos de transportes que atuaram durante séculos e permitindo o Brasil de hoje. Mais tarde, a partir do início do Século XVIII, surgiram os burros usados em alguns países vizinhos, comprados e roubados por brasileiros. Contudo, seu uso em tropas, com o chamado tropeiro à frente transportando mercadorias, só veio a acontecer nos meados deste mesmo século. As tropas de burros ganhavam na rapidez do transporte e não exigia a largura de estradas exigidas pelo carro de boi. Este, porém, nunca deixou a opção de carregar mercadorias pesadas de todos os tipos e pessoas para os mais diversos eventos: novenas, feiras, festas em viagens curtas e longas. Levaram o progresso para o interior transportando dos navios para os sertões, ferramentas, tecidos, produtos industrializados e diversos objetos europeus. Do interior levavam para os portos fluviais ou marítimos: cachaça, rapadura, mel de engenho, cana-de-açúcar, cereais, queijos, carnes, couros e peles e tantos outros objetos de exportação.
Podemos afirmar com absoluta certeza que o carro de boi abriu estradas para os veículos motorizados de outrora.
Mesmo diante do modernismo atual, os tropeiros ─ no Nordeste chamados almocreves ─ jumentos e carros de boi continuam atuando em todo o País, mesmo reservadamente em fazendas e pequenas distâncias. Ainda existem fabriquetas de carros como antigamente, fazendo com que os artesãos demonstrem toda a perícia no fabrico. Diversos movimentos no Brasil, em Minas, Goiás, Alagoas, por exemplo, procuram preservar a arte promovendo eventos importantes como Procissão do Carro de Boi, Festival do Carro de Boi, concursos e tantas outras manifestações de carinho ao veículo que varou o tempo.
O trem de ferro e o caminhão foram aos poucos transformando o País dos carros de boi em frotas, dos jumentos em récuas, dos burros em tropas, até a chegada dos automóveis que definitivamente tomaram conta das estradas e não dão nem um fonfom buzinado para os que ─ para eles ─ são alienígenas.
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·         Continua amanhã.

















·         Jumentos. Vieram com Martim Afonso de Souza: 1534. São Vicente.
·         Cavalos. Primeiro lote com Martim Afonso de Souza: 1534.
                Segundo lote: Pernambuco: 1535.
                              Terceiro lote: Com Tomé de Souza (1549-1553) Bahia.                                 Primeiro Governador-geral. Sec. XVI.

·         Carro de boi. Veio com carreiros profissionais e carpinteiros com Tomé de Souza (1549).
·         Burros. Somente a partir de em torno de 1700, comprado e roubados dos vizinhos.

1.    Carro de boi. Absoluto nos séculos XVI (1500) e XVII(1600).
2.    Tropas de burro: meados do século XVIII (1700).



NORDESTINO COM O PAU DENTRO Clerisvaldo B. Chagas, 21de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.648 A...

NORDESTINO COM O PAU DENTRO




NORDESTINO COM O PAU DENTRO
Clerisvaldo B. Chagas, 21de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.648

A famosa cachaça sempre predominou no Basil desde os tempos de D. João VI. Daí para cá uma vasta literatura preencheria qualquer tamanho de coleção livresca. No País, já com o título Cachaça, registrado mundialmente, ela possui dezenas e dezenas de apelidos que chegam facilmente a uma centena: Moça Branca, Branquinha, Richona, Marvada, Pinga e tantos outros que até seria difícil listá-los. A mesma coisa acontece ao modo de se referir à bebida na hora de procurá-la: Tomar uma; tomar uma flechada; Espalhar o sangue; veneno e assim por diante.
Os escravos gostavam bastante de cachaça, até porque era a bebida a que eles tinham acesso. Samba e cachaça viraram paixões. E sem preconceito nenhum, meu pai dizia: “quando vê um preto tristonho em qualquer ajuntamento, chame-o e ofereça a ele um copo de cachaça. Ele vira de uma vez só e, ao terminar, perfila-se, bate continência e diz: estou às suas ordens, patrão”.
Bebe-se no Brasil pelos mais diferentes motivos. O Nordestino é maluco por uma “água que pinto não bebe”. Uns só ingerem cachaça pura. Outros somente com tira-gosto. Alguns lambem os beiços, fazem careta, cospem no chão. Muitos emborcam o copo sereno, sem gestos ridículos, sem mugangas.
Bodegueiros passaram a encomendar de mestres raizeiros a cachaça com pedaços de ervas medicinais que se apresentam no recipiente com folhas, galho, caule e raiz. Às vezes os raizeiros colocam dentro da cachaça até vinte produtos diferentes. Entre esses produtos estão: cravo, canela, anil, barbatimão, alecrim, ameixa, boldo, camomila, capim, catuaba, gengibre, manjericão, e tantas outras, conforme a região, a disponibilidade e a perícia do raizeiro. No Sertão nordestino, esse tipo de cachaça está no balcão de  bodegas e botecos que se prezam. Para distinguir da cachaça normal que se chama cachaça limpa, a denominação mais comum é “misturada”, daí variando para os mais inimagináveis nomes entre os quais: “ninho de garrincha”.
Bebe-se a misturada com alegações as mais diversas: é mais gostosa; é medicinal; é afrodisíaca. Muitos a chamam, maliciosamente de “Pau-dentro”.
Quem sabe se a corrupção no Brasil não se acabaria se em cada ladrão de Brasília lhe fosse aplicado o “pau-dentro”!
Nordestino tem receita pra tudo.



NEM SANTO NEM IGREJA Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.647   Ruínas da...

NEM SANTO NEM IGREJA



NEM SANTO NEM IGREJA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.647
 
Ruínas da igreja do Clima Bom, em 2.3.17 Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
Lembramos um bom momento da intensidade inicial dos bíblicos da Paróquia de São Cristóvão, em Santana do Ipanema, Alagoas. Muito bonito o movimento em que um dos líderes era o ainda jovem José Vieira também fundador do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Depois veio a fundação do Centro Bíblico no Bairro Camoxinga, um belo espaço que, inclusive, consta no livro 230 e que estar sendo veiculado. O Retiro espiritual realizado anualmente durante o Carnaval no sítio Tigre, município de Maravilha, foi outra grande conquista dos estudiosos da Bíblia. Ali tivemos oportunidade de passarmos um dia e uma noite com uma convivência maravilhosa. Temos impressão, porém, de que uma igreja projetada para o Clima Bom, Bairro mais recente e esquecido da cidade, fazia parte desse mesmo Movimento Bíblico. Lembramo-nos do cidadão José Noqueira ─ um dos líderes daquele povo ─ à frente de uma luta para construção da igreja na parte mais alta do Clima Bom.
Na realidade, pouco ou nada sabemos sobre o assunto, salvo um movimento de bastante gente trabalhando para erguer o templo e entre eles o senhor José Nogueira, homem da voz bonita que puxava os cânticos dos louvores. Todas as igrejas e igrejinhas de Santana do Ipanema contaram com muitos problemas até chegarem a “inauguração”. E para citar apenas um exemplo, apontamos a igrejinha de São Pedro no mesmo bairro, interrompida na construção por mais de 15 anos.
Passado tanto tempo do trabalho para se erguer o templo do Clima Bom, quinze ou vinte anos, andamos por lá ultimamente. Ao avistarmos o local onde seria erguida a igreja, uma grande tristeza nos abateu. Um nó ficou enganchado na garganta e acho que, as lágrimas sentiram acanhamento e  não quiseram aparecer. Estava ali diante dos nossos olhos tristonhos apenas as ruínas do esqueleto que não prosperou. Tivemos impressão de que aquelas ruínas da igreja nos chamavam num pedido de socorro, clamavam pedindo justiça e erguiam os braços em agonia. Que grande impacto para a nossa sensibilidade naquela hora de meio-dia!
Não sei por que a igreja não foi construída, mas tenho certeza de que daria uma boa história comovente e fantástica. Quase tremendo de ansiedade fotografei a vida que não vingou, quis mostrá-la a um dos líderes daquele movimento de outrora, mas soube que isso seria um golpe mortal no cidadão que se encontra enfermo.
Nada pesquisamos. Apenas levamos a alma da igreja na máquina fotográfica que algum santo, por termos nos comovido, ajudou a formar uma OBRA-PRIMA semelhante à pintura que a muito custo resolvemos publicar.
·         Igrejinha não concluída do Clima Bom, em Santana do Ipanema, AL. Ao compartilhar ou usá-la, lembre-se da sua autoria.
·         Foto de Clerisvaldo B. Chagas em 2.3.2017.