BUCHO DE ALASTRADO Clerisvaldo B. Chagas Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.669 ALASTRADO. Foto (divulgação). ...

BUCHO DE ALASTRADO



BUCHO DE ALASTRADO
Clerisvaldo B. Chagas
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.669

ALASTRADO. Foto (divulgação).
Como uma coisa puxa outra, o programa de TV que ontem mostrou os horrores da seca do Nordeste, trouxe lembranças de violência. E foi especificamente em cenas de um cidadão cortando, queimando e triturando alastrado para alimentar seus animais, o foco da questão. O alastrado, assim como o mandacaru, o facheiro, rasga-beiço e Quipapá, são vegetais espinhentos. O alastrado é o mais encorpado de todos e também chama atenção pela sua beleza e verde bonito. Sem alternativa nas secas puxadas o sertanejo apela para as cactáceas com o procedimento acima. Até pessoas são alimentadas com o miolo desses matos em situação de fome extrema.
Na minha terra existe um lugar denominado “Cipó”. Fica na periferia da cidade, saída para Olho d’Água das Flores. Sua estrada de terra paralela ao asfalto, leva até às terras do governo, fazenda “Sementeira”.
Conta o saudoso escritor santanense Oscar Silva, em seu primeiro livro de crônica “Fruta de Palma”, o episódio fatídico acontecido na seca de, provavelmente, 1932.
Alguém tinha ido até à delegacia para se queixar de roubos de bodes. O perverso soldado Zé Contente e certo companheiro foram designados para investigar. Percorrendo a região do Cipó, inclusive o serrote do Gonçalinho, nas imediações, deparou-se com a família de um morador do Cipó. Aquela filharada pequena, toda de barriguinha cheia nessa época de agruras, fez engendrar na cabeça doentia do soldado que as crianças estavam sendo alimentadas com os bodes roubados.
O malévolo recebera o apelido justamente por praticar suas perversidades sempre com os risos durante os seus atos. Assim procurou e encontrou o chefe da família no serrote do Gonçalinho acusando-o de roubo. O homem se defendeu afirmando que alimentava a família com miolo de alastrado e que não era ladrão. Zé Contente, para satisfazer seus instintos inexplicáveis amarrou o cidadão e saiu furando os seus intestinos a punhal. Nada saiu das tripas da vítima torturada até à morte, apenas a confirmação sobre o vegetal de espinhos.
Oscar não diz se o soldado Zé Contente foi punido ou não. Mas, no lugar onde foi morto o sertanejo honesto uma cruz foi fincada tendo resistido até quase os dias atuais. Hoje uma pequena fileira de casas pobres ocupa o lugar da cruz rumo à fazenda Sementeira.
O autor achou por bem colocar o título da crônica de BUCHO DE ALASTRADO.

VEM CHEGANDO A FRIEZA Clerisvaldo B. Chagas, 03 de maio de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.668 Para a Re...

VEM CHEGANDO A FRIEZA



VEM CHEGANDO A FRIEZA
Clerisvaldo B. Chagas, 03 de maio de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.668

Para a Região Norte, friagem; para nós, frieza. A frieza é uma consequência das massas de ar que entram no Brasil vindas do sul do continente. Penetram no País através do Rio Grande do Sul e vão subindo dividindo-se em duas frentes. Uma vai para a Amazônia seguindo pelo oeste, a outra chega a Sergipe, Alagoas, Pernambuco percorrendo o leste e trazendo umidade. Com essas frentes e mais as chuvas locais tangidas do Atlântico, Alagoas vai se beneficiando. As chuvas trazidas do Atlântico vão se derramando sobre a capital, Zona da Mata e agreste até chegar ao sertão com o que sobra do percurso.
O mês de maio iniciou bem quando choveu uma noite inteira e a metade do outro dia, deixando o sertanejo eufórico na perspectiva de bom inverno. Afinal, a longa estiagem dos seis anos que parece cansada, pode ser morta a pauladas com novas esperanças nos pluviômetros. Mandacaru florou, as formigas deixaram as parte baixas, o joão-de-barro fez o ninho com entrada para o poente, o Ipanema apresentou água... Como então o inverno não chegaria?
No Sertão começa a escorregar da Natura uma friezinha tipicamente conhecida, aquela que incentiva às buscas pelos casacos mais leves que hibernam. Mas também, montada na mudança de tempo, chegam as doenças respiratória leves e pesadas que preenchem os posto de saúde.
Como ainda estamos no início da estação chuvosa, quando o tempo nublado se afasta entra um céu sem nuvem bem azul e um Sol rachador que bota para correr. Na volta da chuva e da frieza, porém, ainda se houve o grito: “Corre Maria, pega o meu casaco!”.
A caatinga volta a ficar verde, o fazendeiro tira a rede do alpendre, os pássaros grasnam com alegria doida e nós vamos pedindo café com leite e queijo agradecendo a Deus no pensamento.
Quando chega noite alta fica bem gostoso captar a dança da chuva no telhado identificando um ou outro ruído dos bichos noturnos.

OS TRÊS CASARÕES Clerisvaldo B. Chagas, 25 de abril de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.667 Casarão da es...

OS TRÊS CASARÕES



OS TRÊS CASARÕES
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de abril de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.667

Casarão da esquina. Foto: do livro "230" (Clerisvaldo B. Chagas).
É complicado para a Cultura manter os velhos casarões históricos. Geralmente quando pertencem a particulares estes procuram modernizá-los ou partir radicalmente para a demolição. No local levanta-se um prédio de características novas, geralmente para o aluguel. Pronto. Desapareceu o vestígio do passado.
Quando o poder público é mais ativo, procura fazer o tombamento, ato que nem sempre agrada ao dono do imóvel. Uma vez tombado, o proprietário nada pode fazer e, praticamente, perdeu tudo sem poder mexer no prédio e nem vendê-lo. Muitas vezes acontece no Brasil, não existir verbas para a conservação do imóvel tombado. Assim o edifício vai sendo submetido às ações do tempo igual a uma pessoa envelhecendo sem amparo. Os casarões passam a enfear a paisagem, ameaçando ruir a qualquer momento pondo em risco à vida dos transeuntes.
Na minha terra, demolidos com ignorância e tudo, sem a devida atenção das inúmeras gestões municipais, fica ao prazer da vontade de cada um. Atualmente, três edifícios antigos chamam atenção em pleno Comércio de Santana do Ipanema. Todos os três construídos no tempo de Vila pelo, então, coronel Manoel Rodrigues da Rocha, comerciante, fazendeiro e industrial, falecido em 1920.
O conhecido “casarão da esquina”, com várias modificações no térreo, continua resistindo. Foi construído com várias divisórias para fins comerciais e ali já funcionou tudo, inclusive hotel e biblioteca no primeiro andar.
Outro casarão fica logo perto e tem a estátua do deus mercúrio no topo da fachada. Também já foi biblioteca, grande parceira da minha adolescência. Ali o coronel passou uma porção de tempo, morando.
O terceiro casarão está próximo dos outros dois. Foi morada definitiva do coronel Manoel Rodrigues da Rocha.
Seria uma grande satisfação guiar um grupo de pessoas interessadas pelo comércio e bairros de Santana mostrando a história viva. Fico às ordens para quem quiser organizar grupo de até quinze pessoas.