EU , PITÚ E TU? Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.090 (FOTO: III CA...

EU, PITÚ E TU?



EU, PITÚ E TU?
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.090

(FOTO: III CARNAVAL DE ZÉ PILUCA).
PAU-DE-SEBO. (Jarbas Rocha).
Houve época em que um carro de som, estilizado, bonito e potente desfilava pelas cidades do Sertão e Agreste de Alagoas. Era a propaganda da aguardente pernambucana de marca Pitú. Participava de inúmeras festas regionais apoiando os eventos e divulgando o produto de Vitória de Santo Antão. Além das gravações trazidas no seu bojo, havia o apresentador com o vozeirão que combinava com aquele monumento móvel. E para animar movimentos como vaquejadas sertanejas, nada havia de melhor do que a presença viva da marca da aguardente pelo famigerado carro. Perguntava-se após elogios à cachaça: “Eu, Pitú e tu?”. A combinação da rima, certa ou errada no português, fazia um bom efeito nos ouvintes sedentos por uma “branquinha”.
as rochaHavia outras marcas de cachaça no mercado regional como a Serra Branca, forte concorrente da Pitú, e a Azuladinha das Alagoas, como as mais salientes no período. Mas com o carro de som perambulando mesmo, só havia a da marca Pitú. Pois bem, dizem que lá nas Águas Belas estava havendo uma brincadeira de vaquejada com animação do carro de som. Verdadeira multidão se divertindo na chamada “festa de cabra macho”. O carro da aguardente de Vitória fazia muito sucesso e o apresentador sempre entremeava a fala com a frase: “Eu, Pitú, e tu?”. Em um desses intervalos, foi passando por ali um caboclo de opinião própria, logo abordado, pelo locutor entusiasmado:
--- Eu, Pitú, e tu?
--- Eu, Serra Grande!... --- respondeu no som potente o caboclo.
Foi um desastre na locução.

Muitas vezes a nossa existência faz comparativos com a malícia das manobras. Vez em quando alguém que se acha poderoso no rádio, na literatura, nas organizações... Tenta nos quebrar a espinha dorsal. Não raras vezes o efeito bumerangue danifica seriamente o desavisado atirador. Uma espinha dorsal com revestimento divino fortifica-se cada vez mais com as ações nefastas dos medíocres. Alíás, o coitado não se cansa de tentar subir no pau-de-sebo com areia no bolso.
 --- Eu Pitú, e tu?
--- Serra Grande.

·         As marcas de aguardente citadas são apenas para ilustrar a “fábula”, merecendo de nós admiração e respeito.



MANDACARU Clerisvaldo B. Chagas,11 de abril de 2019                                                Escritor Símbolo do Sertão Alagoa...

MANDACARU


MANDACARU
Clerisvaldo B. Chagas,11 de abril de 2019
                                               Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.089

MANDACARU. (FOTO: DO DESIGN - S)
O mandacaru é uma planta arbustiva, xerófita, nativa do Brasil, disseminada no semiárido nordestino. É chamado também de babão, cardeiro e jamacaru. O (Cereus jamacaru) é muito parecido com o facheiro, sendo este mais delgado, ambos com a mesma elegância de vigilantes das caatingas. Mandacaru vem do tupi (mãdaka’ru ou iamanaka’ru) que significa espinhos agrupados e danosos. É chamado babão pela gosma do seu fruto roxo que abastece os pássaros da caatinga e pode chegar até aos seis metros de altura. Suas folhas se transformaram em espinhos que formam a defesa contra animais herbívoros. O mandacaru é a marca registrada representativa da caatinga e está presente em todas as ilustrações sobre o semiárido.
O sertanejo planta palma forrageira para alimentar o rebanho, mas, durante os períodos de secas prolongadas, vale-se da planta selvagem mandacaru. Para isso corta as suas ramificações levando-as ao fogo para amaciar os espinhos e assim alimenta o gado bovino, caprino e ovino. O mandacaru, além de bem representar o sertão, também possui propriedades medicinais indicadas pelos matutos conhecedores dos poderes mágicos da flora nordestina. “Nasce e cresce no campo sem qualquer trato cultural. A semente espalhada pelas aves ou pelo vento não escolhe lugar para nascer”. Até em telhados de casas rurais e mesmo urbanas, a planta regista sua presença. O mandacaru é adaptado ao clima seco com quantidade de água reduzida.
Embrapa coletou mudas encontradas no entorno da capital do Rio Grande do Norte, para multiplicação por estaquia. A Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), está desenvolvendo a versão sem espinhos como material forrageiro, que já foi plantada em propriedades na Paraíba. No Ceará, Universidade Federal do Ceará (UFC), por meio do Centro de Zootecnia, desenvolve projetos numa reserva de 246 hectares em Tauá, também com algumas mudas da espécie sem espinhos”.
São inúmeras as histórias de Lampião e o pé de mandacaru. O seu belo porte inspira, poetas e outros artistas que não dispensam o jamacuru em suas obras. Quando deus permitir, publicaremos nosso romance: Deuses de Mandacaru.




















BUCHADA NO BUCHO Clerisvaldo B. Chagas, 9 de abril de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.087 BUCHADA. (Foto: C...

BUCHADA DE BODE


BUCHADA NO BUCHO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.087
BUCHADA. (Foto: Cyberccok.com.br.buchada-de-bode).

Já dizia o forrozeiro alagoano Jacinto Silva:

“Eu faço uma buchada
De bucho de bode
   Que o sujeito come tanto
   Que mela o bigode”.

Comida grosseira do Nordeste de miúdos de bode ou de carneiro, cozidos em pedaços de buchos cosidos do próprio animal. Antiga iguaria dos sertões que também faz sucesso nas capitais nordestinas e nas feiras do Sudeste. No sertão, anda-se léguas a pé para se comer uma buchada. Segue-se o ditado sertanejo: “buchada só presta com cachaça”. Em toda família do sertão sempre tem um especialista no assunto que pode ser homem ou mulher. Na minha terra, Santana do Ipanema, sempre se sucederam mestres e mestras que adquiriram fama na arte. Alguns anos passados o ponto de referência da buchada no município, era o restaurante da Dona Neguinha no sítio da região serrana de Camoxinga dos Teodósio.
Mas há quem não goste de buchada, como o saudoso Diógenes Medeiros: “Quem tiver suas buchadas que soque no c...”. Os traumatizados com um prato mal feito passam a odiá-la mesmo. Não foi à toa que fomos prestigiar um amigo que havia aberto um bar no centro da cidade. Pense na alegria do encontro! Mas quando a buchada foi posta à mesa, comadre, não ficou um só da nossa turma. São essas coisas que acontecem com quem se mete a fazer o que não sabe. Em nossas andanças por Garanhuns, descobrimos um ponto que fazia o que chamamos de “cheio”, da buchada. Embora amarelada, diferente das do nosso sertão, mandava bem no sabor e vendia bastante para viajantes.
E durante o nosso Curso de Especialista em Geo-História, estávamos receosos da dureza de certo professor. Descobrimos, porém, que ele gostava de beber. Conseguimos arrastá-lo para a buchada de Dona Neguinha, na Camoxinga dos Teodósio e “matamos o professor a cacete”. Salvos pela buchada!
Ultimamente um amigo de 80 anos dizia diante da famosa: “É um absurdo, se comer uma comida dessas!”. Se é absurdo nem sei... Mas pergunto aos santanenses: qual é o novo Point da buchada em Santana do Ipanema?