PENSANDO NA CAMONGA Clerisvaldo B. Chagas, 7 de maio de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.106 SERRA DA CAMO...

PENSANDO NA CAMONGA


PENSANDO NA CAMONGA
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.106

SERRA DA CAMONGA E AÇUDE DO BODE. (FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS).
Deixando o rio Ipanema, vamos pensando seriamente em subir a serra da Camonga, no município de Santana. O citado monte está situado a cerca de três quilômetros da sede, em direção norte. Ultimamente a serra foi descoberta pelos praticantes de escaladas e outros esportes afins. Com cerca de quatrocentos metros de altitude, a montanha tem subida gradativa até chegar à cabeça rochosa com perigoso precipício. É nessa cabeça rochosa, virada em direção à cidade que os praticantes de esportes radicais formalizam suas incursões. A serra da Camonga não é a mais alta de Santana do Ipanema, mas juntamente com a serra do Cabeça Vermelha aguardam aventureiros diversos. Claro que não iremos praticar esporte, mas apenas curtir as paisagens em todos os ângulos.
Tínhamos uma fazenda no pé da serra, chamada Timbaúba, com as condições de duas rotas de chegada. Seguir pelo caminho a que chamamos Colégio Estadual ou seguir pela estrada do Povoado São Félix, entrando a esquerda na subida da ladeira da Camonga. Particularmente desperdicei vários convites ao lombo da Camonga; um deles feito pelo saudoso colega professor Aloísio Ernande Brandão, cuja família possuía fazenda no cimo. Era contada pelo professor a maravilha da paisagem vista do alto, fora a atração das fruteiras que havia. Tão perto, um pulo da Timbaúba a Camonga, mas dizem que tudo tem seu dia. Gosto de chamar a serra de “Baronesa”, pois a parte rochosa parece uma baronesa bem sentada a contemplar a eterna paisagem a seus pés.
A serra da Camonga faz parte do Maciço de Santana do Ipanema, tendo como vizinhança outras serras como Poço, Tigre, Pau Ferro e Macacos. Existe estrada para o topo, mas é preciso solicitar autorização do proprietário. Corre a tradição de que um vaqueiro caiu no precipício, ao campear uma rês. Foi fincada uma cruz sobre as rochas. Também alcançamos histórias de mal assombros que os mais velhos contavam sobre a região da Baronesa.
O açude do bode, na periferia da cidade, faz parte do cenário visto do alto da serra.
Bem, se der certo, enviaremos fotos aos nossos amados leitores.








NOVAMENTE PELO IPANEMA Clerisvaldo B. Chagas, 6 de maio de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.105     ÁGUA CH...

NOVAMENTE PELO IPANEMA



NOVAMENTE PELO IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.105
    ÁGUA CHEGANDO NO RIO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS).

Os rios do sertão nordestino em geral, são temporários, isto é, escorrem apenas em épocas chuvosas. Muitas vezes nas estiagens prolongadas são dados até como rios mortos. Mas quando um desses rios passa tanto tempo sem sinal dessa modalidade de vida, alegra-se o sertanejo com as primeiras águas. Fica tocaiando junto à família e amigos as águas da frente chegando de mansinho, serpenteando como a cobra, fazendo ferver as areias quentes do seu leito. E na facilidade das tecnologias, inúmeras fotos registram as pioneiras barrentas e o aviso do abre-alas sobre o que vem acima. Muitos animais sentem o cheiro de água nova e procuram escapar da enchente. Outros sentem por instinto o que virá e desocupam a calha com antecedência.
A vegetação do leito seco que se criou com a reserva do lençol freático e o sal da areia recebe sem saída a água que lhe beija o tronco e a que tenta chegar às folhas. Logo se formam as ilhas sob o alarido da passarada que resiste à seca. No meu sertão alagoano é assim com o rio Traipu, com o Ipanema, Capiá, Canapi, Farias, Jacaré, Desumano, João Gomes, Camoxinga, Dois Riachos, Riacho Grande e muitas outras artérias, veias e capilares do grande São Francisco. Mas a beleza de um rio cheio no sertão iguala-se a mesma beleza de outros rios, parecendo não ter o que mostrar de diferente. O destaque dessa época é o símbolo do bom inverno que enriquece a terra e o homem numa larga e generosa dádiva divina Rio cheio, sapos cantando, peixe subindo e barriga feito zabumba.
Pois vamos margeando o rio Ipanema celebrando a vida aquática e a vida dos jardins de estio que de fato encantam. Poços, cacimbas, moitas, refúgios, pedras, esconderijos... Vão mostrando a face contrária à pujança das águas.
São muitos os rios sertanejos e os da zona da Mata alagoana, originários do solo pernambucano. Descem do planalto da Borborema num todo, particularizando o chamado planalto de Garanhuns. Outros são filhos do nosso próprio estado e nascidos nas regiões serranas, tanto da Mata quanto do Sertão. E como estamos mais perto do rio Ipanema, este sempre termina levando a louvação. Louvação essa que todos os rios e riachos sertanejos merecem por igual.



  

                  O CUSCUZ DA VELHA          Clerisvaldo B. Chagas, 3 de abril de 2019              Escritor Símbolo do Sertão Alago...

O CUSCUZ DA VELHA


                 O CUSCUZ DA VELHA
         Clerisvaldo B. Chagas, 3 de abril de 2019
             Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
            Crônica: 2.104


Civilização do milho, o Nordeste brasileiro continua levando seus usos e costumes do sertão para o litoral. São inúmeros os pratos regionais desse produto originário das Américas. Entre as comidas costumeiras do (Zea mays), está o cuscuz, o mais popular de todos. Rico em proteína, potássio e gordura, o milho sustenta o sertanejo há séculos. Até certo tempo atrás, após a espiga ralada, a massa era colocada em um pano dentro da cuscuzeira. O cuscuz fumegante aromava toda a casa e saía em forma de montanha. Com mais moderno modo de fazer, o cuscuz sai arredondado, pois no lugar do pano, tem-se um dispositivo vazado, arredondado por onde sobe o vapor. Essa iguaria invadiu as capitais nordestinas e até São Paulo onde existem vários lugares especializados no tema.
Existem muitas histórias, piadas, brincadeiras sobre o cuscuz sertanejo de cada dia. Hoje a massa já vem industrializada, cabendo ao usuário medir a quantidade, colocar numa vasilha, acrescentar metade d’água, sal, misturar e aguardar por uns cinco minutos. Terminado o prazo coloca-se na cuscuzeira no recipiente vazado. Um pouco d’água no fundo da cuscuzeira vai ferver e, em carca de dez minutos no fogo, o bicho estará cheirando nos quatro cantos da casa. Pode ser servido de várias maneiras, a mais tradicional, porém, é com leite. Conhecido como comida forte é bom para as longas caminhadas, trabalhos ou viagens. Em Santana do Ipanema tem lugares que servem o cuscuz com carne de bode. Em Maceió, na Serraria, tem a Casa do Cuscuz.
 Pois a velha Totonha, sertaneja dura de embarque, conseguiu chegar facilmente aos 97 anos de idade. Adoeceu, e ficava muito pensativa ao receber visitas. Uma delas ousou perguntar se a mulher tinha medo de enfrentar o outro mundo. A velha Totonha respondeu com a maior desenvoltura: “Não tenho medo de morrer não, minha ‘fia’; somente fico desgostosa em deixar o cuscuz com leite”.
E o cuscuz vai com tudo: com leite, com carne assada, piaba torrada, torreiro, pilombeta frita, charque, linguiça e... Deixe-me parar por aqui para não ter que falar igual à velha Totonha.
Ah, Sertão macho da gota serena!