RECADASTRAMENTO Clerisvaldo B. Chagas, 27 de maio de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.115 PRAIA AVENIDA DA P...

RECADASTRAMENTO


RECADASTRAMENTO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.115
PRAIA AVENIDA DA PAZ. (FOTO: BRUNO TENÓRIO).
Sem ter como fugir à convocação do governo estadual, lá se vão os matutos para Maceió. Um caminho que parece mais fácil é recadastrar o servidor no seu próprio município ou região, evitando despesas com alimentação e passagens. Mas o chamamento dos aposentados é para a capital e pronto. Não se recadastrou, cabra velho, não recebe o quinto do que você merece. O melhor mesmo é juntar os panos e partir, pois, segundo o sertanejo, “o pouco com Deus é muito”.  Estamos no meio das levas que irão até a Avenida da Paz para a prova do “ainda estou vivo”. Sangue geográfico, vamos observando a vegetação, o tempo, olhos grudados nas serras que ornamentam este maravilhoso solo alagoano.
E ali perto das Lojas Americanas, aproveitamos para lançar um olhar comprido para o oceano.  O dever chama e vamos penetrando na estrutura de vidro onde um enxame de gente procura a salvação. Verdade seja dita, um atendimento raro jamais visto por essas bandas. Recepção imediata para quem chega rápida triagem de documentos, guia para levar a uma sala, guia para levar a segunda sala, eficiência nos guichês e, num piscar de olhos você está recadastrado. Papelada em dia, você se afasta pensando em aproveitar o tempo restante na capita. Da nossa parte vamos até o IPASEAL acertar pepinos até que o meio-dia futuca a fome guardada.
Procuramos o Restaurante Marhiá, ali pertinho, casa típica com traçados regionais nas paredes e peças artesanais ornando até as mesas com objetos de barro e tábuas de carne. Ambiente nota dez (recomendo) e organização tão eficiente quanto fora a do recadastramento. O Sol vai pendendo para o poente e vamos aproveitando o comércio para os últimos retoques do dia, perto do “açude do governo”, o mar.
Final de tarde de um dia profícuo e cansativo quando um copo d’água, um banho reparador e um cochilo prolongado fazem toda a diferença.
Diz o velho Sertão de guerra: “Rapadura é doce, mas não é mole, não”.



RECORDANDO E HISTORIANDO Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de maio de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.114 ESPA...

RECORDANDO E HISTORIANNDO


RECORDANDO E HISTORIANDO
Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de maio de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.114

ESPAÇO CÔNEGO BULHÕES. (FOTO: B. CHAGAS).
Na Rua Antônio Tavares – antiga Cleto Campelo – passava de tudo. Antigo trecho que fazia parte da estrada construída por Delmiro Gouveia, a rua era bastante movimentada. Lembro-me ainda de duas coisas importantes gravadas no cérebro da criança. O recolhimento de cinzas dos fogões à lenha ou carvão, das residências e, seu transporte para o leste. A cinza era recolhida nas casas, em sacos, e transportada em lombo de jegue para os curtumes da periferia, Maniçoba e Bebedouro. Esses curtumes alimentavam de sola e couros as fabriquetas de calçados de Santana, com a de Elias (Bairro São Pedro), Evilásio (Comércio), Pimpim (Comércio) e outras, além da exportação para Garanhuns.
Tempos depois, os curtumes migraram para o município de Senador Rui Palmeira.
      Fazendo trajeto oposto ao das cinzas, passavam as sextas, homens e mulheres carregando à cabeça, feixes de folhas de catingueira. Soube depois que as folhas iriam forrar o chão bruto na matança de bovinos. As reses eram abatidas a machado ali mesmo no chão bruto e imundo no local chamado mesmo de Matança. O terreno, antes, pertencera ao Cônego Bulhões e tinha ao fundo cerca de três coqueiros altos e esqueléticos que ilustravam tristemente a paisagem. Lembro-me que o artista plástico Roberval Ribeiro havia pintado aquele cenário, sem a matança, cujo quadro foi vendido ao senhor Benedito Pacífico. Roberval não gostava do quadro porque a tinta embolara. Pedi para que não o vendesse que seria um quadro histórico dentro de poucos anos. Acertei no palpite e a paisagem não mais existe. O senhor Benedito Pacífico, comerciante, é falecido e nem sei se o quadro ainda se encontra com a família. Seria peça fundamental para o Museu Darras Noya.
O lugar, antes chamado Matança, virou baixo meretrício e atualmente é denominado Artur Morais (o único dono de gandaia do Brasil homenageado com nome de Bairro). Ali nas suas imediações, foi construído, recentemente, o Espaço Cônego Bulhões que será ampliado, segundo o prefeito da cidade. Vê-se desse espaço os fundos de quintais da Rua Tertuliano Nepomuceno, antes, capoeira onde se matava bodes e cabritos em dia de feira. Os animais eram mortos com porretes e dependurados numa forquilha. Rrss...
A história mistura o bom e o péssimo, arre!

CORRE DARRAS QUE MATARAM LAMPIÃO! Historiando Santana                                     Clerisvaldo B. Chagas, 21 de maio 2019 E...

CORRE DARRAS QUE MATARAM LAMPIÃO!


CORRE DARRAS QUE MATARAM LAMPIÃO!
Historiando Santana
                                    Clerisvaldo B. Chagas, 21 de maio 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2013

    
Em 11.07.1934, houve a fundação, em Santana do Ipanema, Alagoas, do “Colégio Santanense” que funcionou no chamado “sobrado do meio da rua”. Foi o primeiro estabelecimento particular de ensino de grande porte, movimentando o primário, secundário e curso comercial. Depois este colégio passou a funcionar na Rua Nova (Benedito Melo) em sede própria, tendo sido o seu fundador, o professor Flávio Aquino Melo. Em algum momento, apertado com falta de mão de obra, Flávio recebeu ajuda de um jovem da cidade de Pão de Açúcar que passou a comandar a educação física e o social da escola. O jovem tinha nome incomum de Darras Noya e que passou a residir em Santana do Ipanema. Foi em 1938 que Darras entrou na história cangaceira.
Em 1938, mataram Lampião. Era o dia 28 de julho de 1938 e um novo interventor estaria tomando posse em Santana. Na hora do almoço chega um telegrama do sargento Aniceto para o comandante das volantes, Coronel Lucena. Os rapazes José Marques e Darras Noya estavam nos Correios aprendendo Código Morse, quando receberam de Piranhas via-Pão de Açúcar o telegrama. Veja o que Darras disse depois aos amigos:
“Saímos correndo os dois, eufóricos, em busca da casa do coronel. Fomos encontra-lo à mesa numa refeição com Pedro Gaia que naquele dia iria ser empossado em Santana como prefeito. Gritamos: ‘tem um telegrama para o senhor: Mataram Lampião’. O coronel pareceu não acreditar em nós. A sala ficou em silêncio de repente. Ele fechou os olhos, levantou-se, olhou um quadro sobre Jesus que estava na parede e chorou emocionado, bem de leve, dando graças a Deus pelo acontecido”.
Conheci Darras Noya quando eu era estudante do Ginásio Santana. Trabalhava nos Correios e era casado com a Professora Marynita Peixoto Noya.  Gostava de uma cervejinha. Andava sempre com fotografias antigas no bolso e vez em quando surpreendia a companhia com uma delas. Mania de confiar às pontas do bigode fino e criticar com humor os títulos de lojas do comércio. Ao falecer, Darras Noya passou a ser denominação do museu local.
Fontes: O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema (inédito) e Lampião em Alagoas, 2012. 
CORONEL LUCENA. (FOTO: LIVRO: LAMPIÃO EM ALAGOAS).