SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
O CONTO DA CIGANA Clerisvaldo B. Chagas, 9 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.397 (CRÉDITO: JOGOABERT...
O CONTO DA CIGANA
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de outubro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.397
Algumas
décadas atrás, a população rural era maior do que a da cidade, no município de
Santana o Ipanema. Os candidatos a vereador e prefeito agiam com muita
segurança quando possuíam bases ruralistas. Com a chegada do progresso nas
cidades e os contatos juvenis com escolas diversões e facilidades citadinas,
começaram esses jovens a deixarem o campo e a vida mais dura da roça. A zona rural
foi ficando cada vez mais despovoada. Os pais viam os filhos migrando para a
cidade e já não contavam mais com a mão de obra familiar para produzirem. Gente
para trabalhar nos roçados também foi desaparecendo e se sustentando em
aposentadorias. Resultado: Muitas fazendas fecharam as porteiras, o campo virou
deserto e sua população começou a se abrigar nas periferias da sede ou em
povoados.
A
obrigação do povo vindo da roça, em trabalhar no campo logo cedo e retornar ao
povoado ou cidade à tardinha, também foi desaparecendo. A produção rural caiu e
um vazio de muitos quilômetros tomam conta dos sítios. As capoeiras cobrem os
terrenos e tomam conta do abandono. A nossa cidade passou a ter um equilíbrio
populacional com o campo quase meio a meio na balança.
Surgiu
assim uma nova mentalidade entre os jovens que vieram da roça e que absorveram
todas as informações através de escolas, rádios, televisão e nos acessos às
redes sociais. Assim, ou candidatos mudam a forma em pedir votos aos cidadãos
ou afundam com as mesmas ideias retrógradas dos tempos dos seus pais e avós.
Além disso, os rigores da lei na pandemia, obriga a mudanças de táticas e
somente os prestigiosos e mais espertos conseguirão o êxito dos seus
propósitos. Isso faz lembrar o eleitor que deixou um belo cartaz na porta da
sua casa: “Cuidado com o Cachorro bravo, conhece e ataca políticos”. E outro:
“Prezado candidato, passe por longe, todos estamos com convid-19”.
Começa
hoje o rasga-rasga. os vitoriosos irão se lambuzar no mel e entre os
desavisados, apenas choro e ranger de dentes.
A
cigana continuará gargalhando sob o véu da crendice dos ambiciosos
VOU LHE LEVAR PARA A INTENDÊNCIA Clerisvaldo B. Chagas, 8 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.396 FO...
VOU LHE LEVAR PARA A
INTENDÊNCIA
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de outubro de
2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.396
Foi noticiado mais um acidente no Sertão em que
uma pessoa perdeu a vida ao bater num cavalo. Cidadão conhecido em Olivença não
resistiu ao colidir com sua moto em animal na pista. Esse tipo de acidente não
é raro em nossas rodovias. É uma coisa tão comum que virou negócio sem
importância a vigilância rígida nas estradas e o recolhimento desses causadores
de acidentes. Quem viaja, principalmente à noite, está sujeito às colisões
fatais. Causam mortes nas estradas com
mais frequência: jumentos abandonados, cavalos e vacas. São as batidas
frontais, cujos vultos só são percebidos já em cima. Esses animais se confundem
com a noite, sendo os bichos mais escuros quase invisíveis aos faróis. Já o
cachorro, mata mais pelo desvio do veículo com as capotagens que terminam às
margens das vias.
Lembramos que na era de 60, havia verdadeira
busca pelos animais que perambulavam sem condutores pelas estradas e pela Zona
Urbana. Em Santana do Ipanema, pelo hábito do tempo dos intendentes, ainda se
conduziam esses animais para a “Intendência”. O termo desvirtuava completamente
o que fora denominado Intendência, uma coisa muito remota para a juventude dos
anos 60. Qualquer animal solto, de porte, podia ser levado para a intendência
que não era o gabinete do intendente, sombra do passado. Nesse período, a
intendência era popularmente, apenas um curral cercado de arame onde o animal
apreendido ficava preso até o aparecimento do dono que pagava multa para ter o
bicho de volta. Lembramos ainda que o senhor Duda Bagnani, figura folclórica da
cidade, parecia ter um prazer enorme em descobrir e conduzir os animais para a
prisão provisória.
A
famigerada intendência, ficava no lugar vizinho à chamada Matança onde é hoje é
piso do Bairro Artur Morais. Até motivo de chacota foi o lugar quando se dizia
como brincadeira: “Vou lhe levar para a intendência”. Os caçadores de animais
vadios não eram apreciados pelo povo. “Hem, hem, os bichinhos!”, diziam muitas
senhoras com pena. Quanto aos donos dos animais capturados, reagiam desde à
submissão à multa, aos argumentos recusados, ao ódio, discussão e ameaças a
esses funcionários públicos “desalmados”.
Mesmo assim, a “intendência” de Santana do
Ipanema, foi uma grande precursora na prevenção de acidentes nas estradas e no
paisagismo urbano mais civilizado.
IMPRENSE, ZÉ Clerisvaldo B. Chagas, 7 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.395 ...
IMPRENSE, ZÉ
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de outubro de
2020
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.395
Com o mundo dos circos em alta e pouquíssimas diversões na cidade, a chegada de um deles agitava toda uma população, Em Santana do Ipanema, o circo era armado onde hoje estar implantado o Mercado de Cereais, no Bairro Monumento. Posteriormente os circos ficavam armados por trás da Delegacia de Polícia no lugar Aterro. Havia no local uma árvore centenária com uma casa ao lado de uma senhora branca, alta, cara enrugada, irritadíssima e “boca porca” chamada Mirindão. Apesar dos nossos apelos literários e ecológicos, o então, prefeito Paulo Ferreira amolou o machado na árvore de Mirindão. Os circos, geralmente distribuíam brindes (ingressos) com autoridades e gente de influência. Logo cedo, o palhaço perna de pau estava nas ruas acompanhado pela criançada com tinta preta nos braços como senhas para o espetáculo noturno. E quando não era o perna de pau, era o palhaço montado num jegue, virado para trás e megafone à mão.
“Peguei na aba do meu chapéu...” E a meninada
respondia atrás: “Mulher buchada não vai pra o céu...”
O circo era grande espaço cultural. Além do
espetáculo propriamente dito, apresentava ainda a segunda parte denominada:
drama. Peça teatral muito bem encenada que chegava até arrancar lágrimas de
muita gente. Alguns adolescentes sem dinheiro costumavam “maiá”, na linguagem
deles, significava burlar a vigilância, passa sem ser notados pelas cerca de
arame e entrar por baixo da lona, saindo em baixo do poleiro. Vez em quando
eram flagrados pelos do circo.
Pois bem, um sujeito não perdia espetáculo.
Mostrava um belo cartão ao porteiro com o nome IMPRENSA e entrava sem ser
importunado. Um dia, porém, o porteiro estava com um mau humor terrível e
indagou abusado: “O senhor é o quê? Repentista, comunista, jornalista ou o que
peste é?
E o cabrão, fazendo trejeitos com a cara mais
sem-vergonha do mundo, respondeu: “Eu mando imprensar, bobagem! Como você não
imprensa, eu entro”.
Mas o progresso que derrubou teatros, bailes e
folclore, também não deixou escapar o circo de uma permanente e mortal rasteira
de validade.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.