SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
BANHA DE PORCO Clerisvaldo B. Chagas, 13 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica : 3.417 Estamos vivendo...
BANHA
DE PORCO
Clerisvaldo
B. Chagas, 13 de novembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.417
Estamos
vivendo a crise de preço dos óleos de cozinha. Antes desses óleos
industrializados, sempre usávamos em nossos sertões, a banha de porco para os
cozimentos alimentares. Para isso, os produtores criavam nas fazendas, nos
sítios e nos quintais urbanos dois tipos de porcos onde não se usavam os nomes
científicos das espécies. Eram simplesmente chamados porco baé e porco do
focinho grande. Ambos eram alimentados com lavagem, abóbora, soro do leite,
grãos e qualquer resto de alimentos jogado na lata de lavagem que era o líquido
de água usada e esses restos de inúmeros alimentos. O porco Baé, menor,
arredondado, focinho curto, bom comedor e engorda rápida. O porco do focinho
grande, maior e mais comprido, era muito ruim de desenvolvimento para o abate.
Dos
porcos abatidos artesanalmente aproveita-se a carne e a banha que serviam para
fazer torreiro e para cozinhar os alimentos das casas sertanejas. Torreiro e
não torresmo de “praciante” besta. Em Santana do Ipanema, seu Antônio (?)
Simões, na ponte do Padre, era famoso vendendo torreiro na sua bodega bem
localizada com esse produto delicioso e nutritivo. O senhor (?) Santana, no final
da Rua das Panelas, também vendia torreiros saborosos. O segredo era metade
carne, metade couro, passados na banha de porco. Outras pessoas também
produziam essa delícia sertaneja. Até as padarias compravam banha em latões
para o fabrico de suas iguarias.
Seu
João Soares, no bairro Monumento era mestre na produção e venda de torreiro,
banha e carne de porco até para exportar. Aliás, a banha de porco que o Sr.
João Soares exportava, nem precisava testes de compradores como faziam com
outras. A sua honestidade e dignidade falavam por si na alta qualidade da banha
que produzia. O saudoso João Soares Campos chegou a montar um açougue muito
moderno para a época, na esquina do beco do Mercado de Carne, público. Quando a
medicina condenou a banha de porco em defesa de óleo industrializado, tudo
mudou, a banha desapareceu do mercado. Mas, com o novo conceito medicinal, a
banha de porco está voltando à praça, vendida nas feiras camponesas e mesmo em supermercados.
O porco baé e o de focinho grande, foi substituído pelo suíno gigante, amarelo
e comprido, criado com as mais avançadas tecnologias. O povo do Sertão chama
esse novo porco criado para a indústria de “porco galego”. Mas a banha de porco
voltou com força ao mundo doméstico em condenação aos óleos e elogios a banha
para a saúde do povo brasileiro. 
Banha
de porco: heroína, Vilã, heroína de novo, IRONIA DAS COISAS.
(FOTO:
savegnago.com.br).
A LÍNGUA DA VACA Clerisvaldo B. Chagas, 12 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.417 O nordestino é mui...
A
LÍNGUA DA VACA
Clerisvaldo
B. Chagas, 12 de novembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.417
O
nordestino é muito criativo e também gosta bastante de humor. Basta citarmos
mestres como Anísio Silva, Didi, Batoré e muitos outros mais. O sertanejo dessa
Grande Região do Brasil tem uma queda e tanta para contar casos e “causos” durante
horas seguidas, achando uma boa plateia de interessados. Os longos casos falam
sobre cangaceiros, intrigas, amor, assombração, caçada, pescaria, tempos
passados... Entrando na verdade, saindo na mentira, isto é, “entrando por uma
perna de pato, saindo por uma perna de pinto, Seu Rei mandou dizer que contasse
cinco”. Tivemos famosos com o Lulu Félix, o Querubino e vários outros versados
na arte de distrair os caros espectadores. Vamos lembrar uma loa:
Alguém
deu com a mão e o automóvel parou à margem da pista. Um matuto de chapéu de
palha, cumprimentou o motorista e pediu uma carona. O condutor, vendo que o
matuto conduzia uma vaca pela corda, indagou: “Como é que senhor quer uma
carona? Não posso colocar essa vaca dentro do meu carro”. Respondeu o matuto:
“Não se preocupe, meu patrão, a vaca vai amarrada aí atrás no para-choque”. O
motorista arregalou os olhos e disse: “o senhor é doido, basta uma arrancada
minha para matar o animal. O roceiro voltou à carga: “Qualquer prejuízo eu me
responsabilizo, vamos fazer a experiência”. O condutor, então, maliciosamente,
mandou amarrar a vaca no para-choque traseiro, riu por dentro e pensou em
sentir o mórbido prazer em matar a vaquinha do homem do campo.
Colocou
a velocidade mínima, a vaca acompanhou. Foi aumentando gradativamente a
velocidade e a vaca acompanhando. Sentindo-se incomodado, o motorista resolveu
logo puxar o que o carro continha como velocidade máxima. O roceiro pitava
calmamente e sua tranquilidade irritava o condutor. Quando o automóvel chegou à
maior velocidade, mais uma vez o motorista lançou o olhar ao retrovisor,
alegrou-se e disse: “Sua vaquinha enfim vai entregar os pontos, meu amigo, já
colocou a língua de fora”. Então, o roceiro indagou com a mesma paciência de
início: “A língua está para a esquerda ou para à direita?”. “Para a esquerda”,
respondeu o motorista. O matuto afirmou com segurança: “Pois o senhor vá todo
para a direita porque a MINHA VACA QUEBROU A CORDA E ESTAR PEDINDO PASSAGEM. (FOTO.
Istockfhoto.com).
AÇUDE DO BODE Clerisvaldo B. Chagas, 11 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 1.416 O nome pode não parec...
AÇUDE
DO BODE
Clerisvaldo
B. Chagas, 11 de novembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.416
O nome pode não parecer
romântico, mas romântico e doce é a beleza do açude do Bode. No início dos anos
50, muito, muito antes da água encanada em Santana do Ipanema, o governo
federal fez construir, através do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
– DNOCS, um açude aproveitando a vertente do pequeno riacho Bode. O riacho do
Bode nasce nas imediações da serra da Camonga e escorre pela periferia da
cidade, tendo sua foz no final do subúrbio Bebedouro. É um afluente do rio
Ipanema. O açude seria para abastecer a cidade, mas sempre foi mal explorado ou
nunca explorado para tal fim. É um ponto turístico por excelência, porém jamais
utilizado nesse segmento. 
O paredão do açude foi
muito bem feito e gramado no barro vermelho e jamais apresentou qualquer
problema de barragem. Atualmente crescem arbustos e até arvoretas em ambas as
faces, mas um passeio por cima do paredão é coisa que encanta poetas,
pesquisadores e apreciadores da natureza. Imagine uma lua cheia refletindo nas
águas do açude ao som de violão e voz afinada flutuando em torno. 
Arapiraca tinha um lago
do riacho Perucaba, praticamente inútil. A visão de um administrador
revitalizou o lago, urbanizou o seu entorno e o transformou em um dos belos
lugares da Alagoas. Lugar de multieventos e caminhadas. Pois assim, o Açude do
Bode, nome robusto de sertão nordestino também poderia fazer o mesmo nesse
lugar tão esquecido como antes era o lago do Perucaba.
O problema é a falta de
visão de sucessivos administradores do município que não ousam sair do
feijão-com-arroz. Construir o Parque do Bode seria um passo importante para
inúmeros setores de lazer, muito mais que o simples pedalinho nas águas do
açude. Uma atração turística a altura do nome da nossa cidade.  Enquanto isso as águas serenas represadas,
vão sentindo a expansão do casario do Bairro Lagoa do Junco chegando perto,
ameaçando uma poluição supimpa e enxurradas de esgotos ali para dentro. Uma
ameaça séria que pode ser evitada agora antes de tornar-se realidade. Novamente
a visão geográfica enxerga à frente dos gestores e manda recados.
O que será no futuro o AÇUDE
DO BODE? 
Só Deus sabe.
Na crônica: Visitando o
Bairro Novo, fiquei devendo uma foto da paisagem que dali se vê: AÇUDE DO BODE
(FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.