A GRANDE DEMOLIÇÃO, LACRIMANDO A HISTÓRIA Clerisvaldo B. Chagas, 23 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica:...

 

A GRANDE DEMOLIÇÃO, LACRIMANDO A HISTÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.424


Quando a Praça Senador Enéas Araújo ainda não tinha nome, em Santana do Ipanema, marcava bem o Centro Comercial com a enorme construção (espécie de Shopping) chamado pelo povo de “prédio do meio da rua. A grande cobertura construída no tempo de Santana vila, abrigava entre oito a dez estabelecimentos comerciais. Lojas de tecidos, armazém de secos e molhados, sinucas, barbearia, farmácia... e apenas um pequeno apartamento como primeiro andar, onde morava o prefeito da época. Ao lado, guardando distância de cerca de 50 metros, o belíssimo edifício em que a população denominava “sobrado do meio da rua”, da mesma época do primeiro. Andar de baixo, lojas diversas: Casa Atrativa, Arquimedes Autopeças, Casa A Triunfante. Primeiro andar repleto de janelões e salão único e enorme.

Nesse primeiro andar já funcionara, teatro, cinema, escola e, no seu ocaso, o Tribunal do Júri.

Um belo ou feio dia, correu o boato que o prefeito iria demolir ambos os edifícios. O povo foi pego de surpresa e nem deu tempo discutir, protestar, aprovar e nem sequer pensar. Mal o boato vazara na cidade, teve início o destelhamento do “prédio do meio da rua”. Tudo foi ligeiro e brutal assim como fora demolido no cacete à meia-noite, o primeiro cemitério de Santana. O povo, estarrecido, não aplaudia, nem protestava, nem chorava e nem sorria. Apenas o nó na garganta coletiva. Recorrer a quem? Terminado o violento serviço diante do povo estupefato, teve origem a limpeza do terreno e imediatamente o início de construção de uma pracinha, em seu lugar.

Enquanto se construía a pracinha, o “sobrado do meio da rua” sofria a mesma barbaridade das históricas cacetadas. Purgatório para a alma da tradição santanense. Destelhado, demolido e pracinha em cima da ferida.

Demorou um tempão para os habitantes da cidade deglutirem a arrogância ditatorial.

Esse episódio é sempre lembrado quando surge uma foto antiga do centro de Santana do Ipanema: “Hem, hem! Ainda lembro de tudo mulé”. Armazém de Seu Marinho, Sinucas de Zé Galego, lojas de tecidos de Seu Doroteu, João Agostinho, Pedro Chocho, barbearia de Nézio, farmácia de seu Caroula... Tudo no “prédio do meio da rua”. Arquimedes Auto peças de Arquimedes, A Triunfante de Zé e Manoel Constantino, a Casa Atrativa de Abílio Pereira de Melo, no “sobrado do meio da rua” ...

Mas como as novas gerações podem conhecer a história se O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema ainda não foi publicado! O maior documentário da terra de Senhora Santana, continua aguardando o interesse das autoridades desde o ano de 2006.

ASSASSINATO DO SOBRADO DO MEIO DA RUA (FOTO: LIVRO 230/DOMÍNIO PÚBLICO).

 

  BAIRRO SÃO PEDRO Clerisvaldo B. Chagas, 2º de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.422   Apesar de tr...

 

BAIRRO SÃO PEDRO

Clerisvaldo B. Chagas, 2º de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.422












 

Apesar de trazer tantas histórias para os santanenses, o Bairro São Pedro, continua sendo tranquilo com sua vocação para moradas e pouco comércio. Logo no primeiro dia após o pleito eleitoral, teve início a reforma da praça que tem o mesmo nome do bairro e fica defronte a igrejinha do padroeiro São Pedro. A igrejinha, iniciado em 1915, teve suas obras paralisadas e só foi concluída em 1935, com várias forças sociais entre elas a do comerciante Tertuliano Nepomuceno. O Bairro São Pedro abrigou o Fomento Agrícola quando houve em Santana do Ipanema e todo o sertão alagoano o que ficou conhecido como a Revolução do Arado. Pela primeira vez o arado foi apresentado aos sertanejos, trazendo à Santana inúmeros agricultores de Pernambuco para a novidade. As carcas de arame farpado, as novas tecnologias, a palma forrageira, o plantio do algodão, agitou e mudou os nossos sertões. Isso na década de vinte.

O bairro já teve sua fábrica de mosaicos e importantes fabriqueta de calçados pertencente ao senhor José Elias, sendo a porta de entrada e saída para a capital. Tinha uma tradição muito forte das noites de São João, das danças de quadrilha e das missas com o famoso ‘pãozinho de Santo Antônio”. Ultimamente ganhou reforma da igrejinha do seu padroeiro, Posto de Saúde, Biblioteca Pública exclusiva, escolinha particular que se tornou famosa e asfaltamento nas ruas principais.

O bairro expandiu seus casarios até às margens do rio Ipanema, por um lado, por outro, teve grande reforço ao subir até encontrar-se com o Bairro Monumento na região da Rodoviária e saiu se estirando pelo asfalto até os antigos subúrbios Maniçoba e Bebedouro. Inúmeros edifícios modernos residenciais ornamentam o final do bairro em direção a Maniçoba. Mesmo assim, o lugar não possui a agitação do comércio e continua na tradição de moradas tranquilas, lembrando quando ouvia, ao Centro, as badaladas longínquas dos sinos da Matriz de Senhora Santana. Também funcionou no prédio do Fomento Agrícola a Defesa Vegetal, onde abrigava o primeiro tanque de Corpo de Bombeiros de Alagoas e que nunca foi levado para o museu, por ignorância social. São Pedro é santo forte e porteiro do céu, amém, amém, amém.

IGREJA SENDO REFORMADA E APÓS. (FOTOS B. CHAGAS/ LIVRO 230).

 

  CONSCIÊNCIA NEGRA E BRANCA Clerisvaldo B. Chagas, 19 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.421 Quando o...

 

CONSCIÊNCIA NEGRA E BRANCA

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.421

Quando os primeiros escravos negros chegaram a Alagoas trazidos pelos seus donos, o objetivo era o trabalho nos canaviais. Desde a época inicial de povoamento do estado que a preferência econômica estava baseada na Agricultura, principalmente no cultivo da cana-de-açúcar. Os engenhos multiplicavam-se desde a região do Penedo, no baixo São Francisco, atingindo a zona da Mata, escolhida pelas suas terras férteis para a produção da gramínea forte e alta em que o mundo estava precisando. Sem haver braços suficientes para alavancar a lavoura, os escravos trazidos da África, para os que exploravam a terra, foram a solução para fazer rodar os engenhos trabalhados com eles ou puxados por bois amestrados. Logo. Logo Alagoas era uma grande potência tanto em número de engenhos quanto na produção de cana-de açúcar.

No desenrolar dos fatos, a consciência negra era a mesma de todos os povos do mundo que desejam ser completamente livres. Uma fuga dos canaviais, duas fugas, três fugas e fugas em massa para esconderijos nas matas e nas serras de difíceis acesso. Houve debandadas também em direção ao baixo São Francisco. No Sertão de agricultura de roça e pecuária rústica, o número de escravos foi quase inexistente em relação à Zona da Mata, mesmo assim ainda houve vendas de africanos para alguns vaidosos senhores que tinham mais precisão de mostrarem prestígio de que necessidade. Em Santana do Ipanema, a chamada Cadeia Velha, à Rua Nilo Peçanha, também era ponto de venda de escravos. Entretanto, a descendência sertaneja veio mais do cruzamento branco e indígena gerando o caboclo ou curiboca.

A consciência branca em geral era que negro não tinha alma, não era gente e fora designado pela Providência para servir ao branco. As aglomerações de negros fugitivos ganharam as altas serras da Zona da Mata, onde a organização social foi reconstruída e o preparo para a defesa forjou heróis como Ganga Zumba e Zumbi dos Palmares, na serra da Barriga, atual município de União dos Palmares, o maior quilombo do Brasil. O município de Atalaia foi acampamento para as expedições designadas a exterminar o quilombo.

No dia oficial da Consciência Negra, o mundo inteiro reverencia o passado e presente do histórico preto na serra da Barriga, em Alagoas.

Quantos Zumbis serão precisos para uma sociedade igualitária e justa?