GOSTA DE PRAÇA? Clerisvaldo B. Chagas, 11 de março de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.486   Temos admiração ...

 

GOSTA DE PRAÇA?

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.486

 


Temos admiração por belas praças sejam do tamanho que for. Em Maceió a preferência é pelas Praça Deodoro (Centro) e Praça do Centenário (Farol). Mas, mexeram tanto na Deodoro que perdeu a graça; diferente da belezura em que ficou a Praça do Centenário que poderia ser chamada de Parque.

Em Santana do Ipanema, Sertão alagoano, a primeira praça que se tem notícia, também teve o nome de Praça do Centenário. Ainda na década de 1920, era em que Santana fora elevada à cidade surgiu esse logradouro no meio do Largo do Comércio, hoje chamado Enéas Araújo. Era apenas uma pracinha o suficiente para um obelisco e três bancos de cimento sem encosto. Mesmo naquele tempo, houve muita politicagem tendo a pracinha como epicentro.

A segunda praça de Santana do Ipanema, foi construída mais de dez anos após a Emancipação da cidade. No início dos anos trinta o dirigente Frederico Rocha construiu e inaugurou obra em frente à Matriz de Senhora Santana. Muito larga e comprida a praça quase encostava no “sobrado do meio da rua” e recebeu o título inicial de João Pessoa. Com o tempo, o nome mudou para Cel. Manoel Rodrigues da Rocha, um dos homens de maior prestígio na Rainha do Sertão, falecido em 1920. Reformada várias vezes, alcançou o seu auge de beleza nos anos 60 quando se mostrava como um verdadeiro jardim, canteiro com pequenas estacas, vigias, reservatório d’água e bancos nos mais diferentes lugares. Fotografada, circulou na Revista Cruzeiro, a mais famosa da época, em 1940.

E como dizia Castro Alves: “A praça é do povo como o céu é do condor”.

As praças apontam boas fontes de pesquisas. Placas de inaugurações, datas, valores, material utilizado no piso, nos monumentos, nomes de artesãos e estilos, preencheram revistas culturais e históricas direcionadas à Educação. Além disso têm suas plantas com variações desde as gramíneas às árvores regionais que motivam estudos mais apurados.

Praça, lugar de descanso,

Ponto de lazer.

Fonte de conhecimento.

Bem vindas as praças públicas do Brasil

 

PRAÇA DO CENTENÁRI, MACEIÓ (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

  BUCHA COM AREIA Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.489   Quase não acredi...

 

BUCHA COM AREIA

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.489

 


Quase não acreditamos quando vimos a reportagem sobre o fazendeiro que trocou o plantio da uva pelo de bucha natural.  Para quem é bem vivido, lembra no Sertão de Alagoas, que a dona de casa usava areia do IPanema para arear os pratos e outras louças da casa. Muito se usava a bucha selvagem, encontrada nas ramagens que subiam pelas cercas de varas ou de arame farpado. Mas já se usava bem o sabão em barra comprado nas bodegas. Somente tempos depois surgiu o tal “Sapólio” e a bucha industrial de marca “Bom Bril”. Usava-se ainda para fritura dos alimentos a banha de porco que depois foi substituída pelo óleo de vegetais vindo das fábricas. Todo uso antigo condenado antes, todo uso moderno condenado depois.

O lixo das residências para recolhimento público, era colocado na calçada em latas tipo querosene, caixões e caixas de papelão, somente depois surgiu o lixeiro de borracha. A coleta era realizada através de carroças de burro e, lembramos ainda de um carroceiro que prestava esse serviço de nome Juvenal. As casas costumavam usar a planta Imbé como enfeite e como poderosa espanta cobra. Muitas casas já possuíam cisternas de cimento para armazenar água. Mas também havia utensílios para esse fim, fabricados em barro chamados pote, jarra e porrão (u), na escala crescente do tamanho e comprados nas feiras livres semanais. A água para beber de uso imediato, esfriava na quartinha. A água utilizada para consumo humano e limpeza, vinha das cacimbas escavadas do rio Ipanema, em ancoretas trazidas por jumentos.

Mulheres que moravam próximo ao rio, abasteciam suas casas com latas na cabeça e rodilhas. Raramente se via a prática do galão que é um pau que carrega duas latas nas extremidades, penduradas por cordas e conduzido nos ombros por elemento masculino. As casas tinham biqueiras ou bicas (calhas) de zinco e conduziam água para as cisternas ou vasilhames, das chuvas no telhado. Ocasionalmente o chamado guarda de peste, visitavam as casas e colocavam produtos preventivos nos potes. As comunicações públicas eram realizadas através de uma rede de alto-falantes distribuída nos postes da cidade. Já existia o odiento juiz de menor espantando meninos e recolhendo bolas de futebol e ximbras no meio das ruas.

Mas ainda não entendemos sobre o agricultor que planta buchas ao invés de uvas. Quem usaria buchas nesses tempos modernos?

BUCHAS NATURAIS (CRÉDITO: autosustentavel.com)

  NO JÚRI TAMBÉM TEM Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.484   Fomos assistir...

 

NO JÚRI TAMBÉM TEM

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.484

 


Fomos assistir o debate entre advogado e promotor no “sobrado do meio da rua, em Santana do Ipanema. Uma atração para cidade do interior, na época. Dr. Fernando, promotor, fora sempre uma atração à parte, que peitava bonito o advogado Dr. Aderval Tenório. Mas dessa vez o julgamento tinha o Dr. João Yoyô como advogado. Homem de fala mansa e moderada. O sobrado até que tinha muito espaço, porém a multidão ficou restrita a entrada do salão, logo após a escadaria de madeira, do primeiro andar.  O promotor acusava um cidadão de ter aplicado uma surra em outro que falecera 15 dias após. O advogado João, dizia que a morte do homem nada tinha a ver com a surra, até porque não houvera pisa nenhuma. “O acusado apenas batera levemente na vítima com um simples cipózinho de catingueira”. Foi aí que o funcionário do Banco do Brasil, João Farias, fumando muito como era seu vício e que assistia conosco o debate, disse baixinho para nós: “Já viu catingueira ´dá cipó, seu fio da peste!

Risos na porta do Fórum.

Já o advogado Aderval Tenório com seu vozeirão e sabedoria, costumava driblar a plateia bebendo guaraná batizada, istó é, debatia  bebendo uísque numa garrafa de guaraná e até o juiz seguia sem interferência.

Noutro debate – dessa vez o fórum era no prédio da atual Câmara de Vereadores – o dr. Eraldo Bulhões duelava com uma advogada. No meio da discussão, a advogada disse uma frase troncha referindo-se a uma briga entre o réu e a vítima: “Aí ele agarrou-la (rola) pelos cabelos...” Os presentes ficaram arrepiados com a frase da doutora que prosseguiu atropelando o Português. Eraldo Bulhões, que sempre foi bom e irônico orador, defendeu sua tese com galhardia. Quando encerrou suas palavras, voltou-se para nós, na multidão que acompanhava o duelo, passou pertinho e falou baixo onde só havia homens:

 “A doutora Fulana pensa que Direito é buc...”

Os homens riram, o juiz não ouviu e o preso foi solto.

Por questão de ética omitimos o nome da advogada, mas nos bastidores do Júri também tem.

ANTIGO SOBRADO DO MEIO DA RUA, VISTO DA RUA BARÃO DO RIO BRANCO. (LIVRO 230/B. CHAGAS/DOMÍNIO PÚBLICO).