SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
O RELÓGIO DA MATRIZ E AGRIPINO Clerisvaldo B. Chagas, 19 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.514 A...
O
RELÓGIO DA MATRIZ E AGRIPINO
Clerisvaldo
B. Chagas, 19 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.514
A imponente Matriz de
Senhora Santana, em Santana do Ipanema, possuía na sua torre, um grande relógio
que ocupava as quatro faces do edifício, acima do campanário. É conhecido desde
o final dos anos 40. Com suas poderosas badaladas acontecidas de meia em meia
hora, o soar do sino era ouvido à distância incrível. O comércio da cidade
obedecia ao relógio da Matriz. Abria com a badalada das sete e trinta e fechava
exatamente as onze e meia. Com o passar do tempo o relógio foi precisando de
reparos aqui, acolá, até que chegou ao ponto de parar completamente. Práticos
da terra sempre tentaram dar sobrevida ao marcador, mas os paliativos não deram
certo.
Bem que tentamos
pesquisar a origens dos sinos da Matriz indo à casa do padre Jaciel, mas nada
encontramos em registros do passado: de onde vieram os sinos, o preço, os
diferentes sons... Assim também não encontramos sobre o relógio. Fazer o quê? O
relógio não manda mais no Comércio, porém continua lá como ornamento
indispensável à torre e a história. Isso lembra os homens corajosos que subiam
até o campanário, continuavam para o compartimento do relógio e alcançavam a
passarela dos minaretes, subindo desafiadoramente a escadinha da cruz para
consertos de lâmpadas ou implantação de outras. Vistos do solo, dava até mal
estar diante daquela coragem nas alturas.
No chamado Casarão de
esquina, vizinho à igreja e que formava esquina com a Rua Coronel Lucena, havia
uma loja com várias portas de madeira pertencente ao senhor – comerciante e
fazendeiro – José Quirino. Ali trabalhava o senhor Agripino Pontes, descendente
Fulni-ô de Água Belas, bem adaptado em Santana e querido na sociedade
santanense. Entre o trabalho e a brincadeira, Agripino começava a abrir a
primeira porta da loja na badalada única das sete e meia. Depois saía abrindo
as outras até a última quando dizia: “Dar doze horas e não dá onze e meia”.
Ilustração do relógio
rigoroso.
RELÓGIO DA MATRIZ
(FOTO: B. CHAGAS).
CHEGANDO O PAI VELHO Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.51 Para a ...
CHEGANDO
O PAI VELHO
Clerisvaldo
B. Chagas, 16 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.51
Rio Ipanema, primeira
grande estrada de penetração para os desbravadores do estado do Norte que
subiam pela sua foz no lugar Barra do Ipanema, até suas cabeceiras na serra do
Ororubá, em Pernambuco. Rio percorrido também em Alagoas pelos índios Carnijós
ou Fulni-ôs com sede em Água Belas. Rio em que foi descoberto ouro na sua parte
inferior, no antigo tempo das penetrações. Rio que deu lugar aos canoeiros do
Ipanema em época de pontes inexistentes.
O rio penetra em
Alagoas pelo município de Poço das Trincheiras, banha aquela cidade de
fronteira, desce para Santana após banhar o povoado Tapera do Jorge. Arrebanha
vários afluentes importantes naquele município e chega à Santana pelo Norte e
outrora periferia, hoje urbanizada do Bairro Barragem.
Quando o Ipanema está
seco é um jardim. Variados tipos de vegetais nascem na areia grossa e salgada,
nas frestas das pedras quebradas com gramíneas, arvores, arbustos e arvoretas.
Mas nem sempre esse jardim é respeitado pela população que ali deposita seus
lixos doméstico e comerciais, despeja direto de fossas e todos objetos
descartados em casa. Mas isso é antigo na história do rio. Quando a chamada
Cadeia Velha funcionava na Rua Nilo Peçanha, os presos eram obrigados a jogarem
as fezes recolhidas em cubas, no rio Ipanema. Conta-se que o soldado Fonfon era
bom atirador e ficava vigiando dos fundos da Cadeia os presos que desciam para
o rio. Um deles tentou fugir, porém, Fonfon atirou de fuzil de uma distância
enorme e o fugitivo foi baleado nas areias do rio.
Rio meu, rio seu, rio
nosso.
ÁGUA CHEGANDO MANSA EM
TRECHO DO RIO IPANEMA. (FOTO: ACERVO B. CHAGAS).
SEM MÉDICOS Clerisvaldo B, Chagas, 15 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.512 Você já ouviu falar em...
SEM MÉDICOS
Clerisvaldo B, Chagas, 15 de abril de 2021
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.512
Você já ouviu falar em
Arnica, Mastruz, óleo de Copaíba e Terebentina? Quando não havia médicos no
sertão de Alagoas, esses nomes acima estavam sempre presentes no conhecimento
popular. Quando as pessoas adoeciam entravam em ação as rezas e os remédios do
mato, os mesmos das tradições indígenas e dos repasses pelos mais velhos. Em casos mais complicados quem tinha
condições viajava a Palmeira dos Índios, no agreste, mais perto da capital ou
mesmo para Garanhuns, Pernambuco, conhecido como lugar de bons profissionais da
medicina. Afora as orações e os remédios da vovó, havia ainda as garrafadas,
ervas e raízes de vários tipos, dentro de uma garrafa, preparada pelo raizeiro,
benzedor ou garrafeiro, que tanto vendia o seu produto curativo nas feiras
livres quanto aguardavam específicas encomendas.
As parteiras foram
essenciais nos campos e nas cidades. Muitas delas ficaram famosas porque nunca
perderam uma só criança. A parteira também possui as suas orações particulares.
No campo era praxe o curador de cobras. Eram curados até cercados onde as
cobras que havia se retiravam e as de fora não entravam naquela propriedade. Da
mesma maneira que havia ervas medicinais para os humanos, a prática sertaneja
também curava todos os tipos de animais: galinha, cavalo, vaca, carneiro,
bode... Pois sempre havia alguém com algum conhecimento sobre o tema, uns
superficialmente, outros, profundos conhecedores dos efeitos transformadores da
flora.
Em Santana do Ipanema,
o Dr. Arsênio Moreira, foi o primeiro médico de fora. Já trabalhava para o
Batalhão de Polícia de combate aos cangaceiros e também ficou atuando em sua
própria residência. Daí em diante muita coisa mudou no sertão. Foi o doutor
Arsênio quem examinou o frasco de veneno que Lampião carregava. Isso após a
hecatombe de Angicos. Arsênio chegou a morar no edifício onde hoje funciona o
Museu Darras Noya. O segundo médico a clinicar em Santana, foi o Dr. Clodolfo
Rodrigues de Melo, filho da terra, vindo da zona rural, trazido pela família
que fora importunada pelos sequazes de Virgulino Ferreira, o Lampião. Clodolfo
atendeu muita gente no campo e atuou em cursos para parteiras leigas.
Já havia as chamadas
boticas. Com as chegadas de médicos, também foram implantadas farmácias e
chegando medicamentos modernos.
O padre Cícero do
Juazeiro era profundo conhecedor da flora sertaneja. Gostava de receitar
mastruz com leite para pessoas com problemas de pulmões. Nós sertanejos
confiamos na medicina, mas dificilmente você encontrará uma residência que não
guarde no armário um chazinho qualquer, tirado da mata catingueira ou dos
terrenos baldios de periferia.
ARNICA (crédito: Pinterest).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.