SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
REMANSO Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.517 ONTEM, 21 DE ABRIL FOI O DIA...
REMANSO
Clerisvaldo
B. Chagas, 22 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.517
ONTEM, 21 DE ABRIL FOI O DIA DO RIO IPANEMA
Em tempos de cheias no
rio Ipanema, o ponto predileto do banho era no Poço dos Homens, dividido em
Estreitinho, Largo Fundo e Largo Raso. O Estreitinho era uma pequena garganta
pedregosa no início do poço. Recebia as águas que por ali entravam. Era mais
escondido e tinha a preferência de muitos banhistas e pescadores de anzol. O
Largo Fundo, logo abaixo do Estreitinho, era aberto e mais exposto, tinha a
preferência de vários banhistas e tarrafeiros. O Largo raso, vizinho e na parte
de baixo, era mais usado pelas crianças e por aqueles que aprendiam a nadar.
Assegurava pesca de litro para piabas.
Quanto ao movimento das
águas, nós o dividíamos em Correnteza, Carneiros, Fervedouros, Panelas e Remansos.
Correnteza, o corpo
mais forte das águas. Carneiro, corcovas sucessivas formadas na correnteza.
Panela, forte redemoinho que funcionava como sugadouro, ao lado dos Carneiros.
Fervedouro, Formação ao lado dos Carneiros com aspectos de água fervente no
fogo. Remanso, retorno manso das águas nas laterais mais distantes da
correnteza. Quase todos os santanenses tomavam banho no poço, até o, então,
futuro governador Geraldo Bulhões. Houve muitas passagens engraçadas que foram
narradas em nosso livro:” Ipanema um Rio Macho.” Bem que o Poço dos Homens
merecia uma estátua de banhista anônimo nas pedras do Estreitinho. Uma bela
estátua iluminada que desafiasse as cheias. Todos tinham medo das panelas, cujo
redemoinho aquático podia levar o banhista ao fundo. O fervedouro paralisava os
movimentos do banhista podendo levá-lo ao afogamento.
Felizmente sua memória
está no livro citado acima, resgate único da maior fonte de lazer do
santanense, antes da Ponte General Batista Tubino. ONTEM, 21 DE ABRIL FOI O DIA
DO RIO IPANEMA.
RIO IPANEMA, SERENO
(FOTO OBRA DE ARTE: JEANE CHAGAS)
AINDA OS CASARÕES SANTANENSES Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.516 Tu...
AINDA
OS CASARÕES SANTANENSES
Clerisvaldo
B. Chagas, 21 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.516
Tudo leva à década de
20 do século passado, a construção do enorme prédio do governo estadual no
Bairro São Pedro. Ficou conhecido pelo
povo como o prédio do Fomento Agrícola. Foi
a época em que o governo resolveu apostar tudo na agricultura sertaneja, sendo
designado para a missão o agrônomo Otávio Cabral que fundou o Sítio Sementeira
para experimentos agrícolas e chegou a ser dirigente de Santana do Ipanema. Foi
construído ainda o prédio em forma de sobrado chamado Perfuratriz, onde hoje
funciona a Associação da Rua da Praia. O prédio da Perfuratriz (belo edifício)
foi marco da cheia do Ipanema de 1941, a mais famosa da história. Esse foi
demolido. O casarão do Fomento foi sendo desgastado pelo tempo até chegar a sua
vez de desaparecer. Abrigava o primeiro tanque para corpo de bombeiros de
Alagoas, diziam, ferrugem o devorou e, o prédio sem socorro, deixou de existir.
O casarão era como um
senhor respeitável que atraía prestígio para o bairro São Pedro. Era muito imponente
virado para a Rua São Paulo, início da antiga rodagem para Olho d’Água das
Flores. Pertinho dali, no final da Rua Antônio Tavares, um segundo casarão
havia, cheio de janelões e quintal chegando até a rua de baixo, na época
chamada Rua de Zé Quirino. (Fora ele quem a iniciara). O casarão visto pela
lateral de onde se avistava a metade dos seus janelões de madeira era realmente
impressionante. O casarão era em preto, isto é, só tijolo e barro sem reboco.
Ali funcionava a fábrica de colchões de junco do Sr. Júlio, vulgo Júlio Pezunho,
por ter um dedinho a mais na mão, atrofiado.
Santana era a terra de
casarões e sobrados que marcavam o tempo faustoso da época de vila. Construir
casas enormes e sobrados demonstravam prestígio para os respectivos donos. A
marcha inexorável do tempo, foi acabando com a moda que foi sendo esquecida na
Santana moderna.
Raras fotografias vão
contando uma história sem texto da Arquitetura dos ricos.
FOMENTO AGRÍCOLA EM
RUÍNAS, 2013. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230)
PERFUME Clerisvaldo B. Chagas, 20 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.515 Essas chuvas esparsas que ...
PERFUME
Clerisvaldo
B. Chagas, 20 de abril de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.515
Essas chuvas esparsas
que estão acontecendo em nosso sertão de Alagoas, têm aparência de fim de
inverno. Mas como estamos ainda no outono, combina vez em quando esse refresco
em terras sertanejas. Com esses serenos aguando a caatinga, o aroma selvagem de
mato invade gostosamente as narinas dos transeuntes. O velame, comum nas
veredas e margens de riachos, aparenta
comandar toda a perfumaria da caatinga. Parece até que são as primeiras
chuvas que agradam mais aos matos nativos. Como é rica a nossa flora! Até o
mato baixinho dos terrenos baldios, bota florezinhas variadas e perfuma tudo.
Isso me lembra uma curta viagem ao sítio rural Curral do Meio com o zelador do
Ginásio Santana, na época, Sebastião Veríssimo.
O zelador que voltava
sempre á noite para casa no citado sítio nos convidou para conhecer sua morada.
Contou-nos a história de ter se encontrado com um guará choco e disse que lutou
muito com uma faca-peixeira à mão e via a hora de sucumbir perante a ferocidade
e insistência do lobo solitário. Quando a fera desistiu do ataque, ele já
estava completamente exausto. São os perigos de quem transita pelos campos em
horas inconvenientes. Mas voltemos à visita ao Curral do Meio onde fica a
Fazenda Sementeira, hoje Reserva ambiental do governo do estado. Terras planas,
bonitas, de lá se avistava o serrote do Gonçalinho, atualmente chamado serra das
Micro ondas.
Veríssimo saiu me
mostrando o mato do campo, nomeando e dando sua serventia: Favela,
rabo-de-raposa, mata-pasto, capim santo... Até que disse: “vou lhe fazer uma
surpresa”. Mostrou-me uma plantinha roxa que não tinha dez centímetros de
altura, perdida no meio de tantas maiores e mais ativas, arrancou suas folhas,
entrego-as na minha mão e disse: esfregue-as e cheire. Assim procedi e fiquei
muito agitado como se tivesse descoberto ouro. Um perfume extraordinário que
poderia ser comparado aos melhores perfumes franceses. Infelizmente não dá para
lembrar o nome da plantinha. Adiante, mostrou-me outra planta sem falar o nome,
depois só fez confirmar o que o cheiro forte revelava: Vick Vaporub, matéria
prima do famoso unguento de farmácia. Eu não tinha a menor ideia do que estava
testemunhando. Aprendi muito com o homem simples do campo.
É assim a nossa flora
sertaneja. Surpresas por todos os lugares.
LOBO GUARÁ (Crédito: notícias.smbiente.com.br)

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.