MULUNGU Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.521   Cheguei bem perto do jogo,...

 

MULUNGU

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.521


 

Cheguei bem perto do jogo, mas nada entendia de lances do tabuleiro. Apenas ficava de boca aberta contemplando aquelas sementes grandes, vermelhas vivas, envernizadas pela Natureza. Os jogos da tarde aconteciam na calçada, defronte a entrada do Hotel Central, bem no centro do Comércio. Dizia o ditado sertanejo que “jogo de velho ´é gamão”. E estavam sempre ali o dono de farmácia Cariolando Amaral, o Seu Carola (ô) e seus parceiros diante do tabuleiro de madeira, copinhos de sola, sementes de mulungu, aproveitando a sombra do “sobrado da esquina”. Carola, o único homem de Santana que usava cotidianamente gravata borboleta, comercializava no “prédio do meio da rua”, parecia um galego alemão muito sisudo. Era atração na sua farmácia, o busto de um negro lustroso e fortão, envergando uma barra de aço. Representava o efeito do remédio da propaganda. Quando foi demolido o “prédio do meio da rua”, Cariolando passou a negociar em um dos compartimentos do térreo do “casarão da esquina”, mas Seu Carola continuou desafiando concorrentes do gamão.

Aquele homem tão sério se esbaldava nos carnavais de Santana, trocando incrivelmente o tabuleiro pelo reino de Momo.

Catávamos aquelas sementes maravilhosas no mato, quando as árvores mulungus despejavam-nas no solo colorindo a poeira cinza das capoeiras. Para que servia a semente além do jogo de gamão? Não sabíamos, apenas brincávamos com elas aproveitando o capricho da flora sertaneja.

A árvore mulungu (Erythrina mulungu) pode atingir até vinte metros de altura, é medicinal, usada como calmante. Sua madeira é muito leve e boia na água. Seus pedaços trazidos pelas cheias, serviam para o aprendizado da natação no rio Ipanema. A madeira ficava enganchada nas pedras, sendo aproveitada pelos banhistas.

Infelizmente muitas dessas árvores tão simpáticas, ainda são vítimas dos machados clandestinos, com punições zero.

As sementes de mulungu, pela beleza continuam encantando meninos e adultos.

Após Cariolando Amaral, desapareceram definitivamente os jogos de gamão em nosso município.

A diversão dos idosos agora é um celular que une os estranhos de longe e separa a família de perto.

TÍPICO MULUNGU SERTANEJO (CRÉDITO: PINTEREST).

 

 

    SANTA TEREZINHA Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.520   Quem é devot...

 

 

SANTA TEREZINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.520



 

Quem é devoto de Santana Terezinha, deveria aproveitar esse tempo de pandemia e procurar o monte sagrado santanense, serrote do Cruzeiro. As últimas chuvas deixaram verde o monte e seu limite de trás, o serrote Pintado, ponto de luxo da Reserva Tocaia. A capela de Santa Terezinha está localizada em um amplo lajeiro que oferece o melhor cenário de Santana do Ipanema. Esse lajeiro vai declinando na parte de trás, após cerca de 50 metros mais ou menos plano. Ali contempla-se a baixada entre os dois montes citados acima, somente mato e às vezes roça e, a parte alta da Reserva Tocaia. Se pegar um dia de sorte verá saguins transitando por ali. No tempo seco, somente solidão de fim de mundo. Ótimo lugar para meditação. Mas é preciso levar água de beber, pois a trilha de subida cobra pernas e fôlego.

Sobre o lajeiro, apenas uma pequena parte côncava que acumula água das chuvas, quase sempre muito verde, imprestável. Ali também é refúgio de urubus devido a sua altitude. Na parte lateral esquerda, o lajeiro se prolonga, oferecendo outro ângulo de vista para a cidade, consequentemente para quem deseja fotografar. Aliás, subir até o Cruzeiro sem máquina fotográfica parece um pecado do visitante. Quanto a capela em si, é a terceira construída no lugar das duas primeiras que ruíram. Como faz bastante tempo que subimos o serrote, não sabemos como se encontra a parte física da capela, se a mesma continua de porta fechada e quem tem a chave para visitas.

O cruzeiro fica logo na frente da capela e foi colocado ali como marco do século XIX para o século XX. É o segundo cruzeiro erguido no mesmo lugar do original.

A Capela de Santa Terezinha, a mulher que costumava jogar pétalas de flores no Santíssimo Sacramento durante as procissões, foi erguida em torno de 1915, como motivo de promessa do, então, sargento Antides. As duas primeiras capelas foram construídas com muita festa de trio de zabumba, feijoada para os trabalhadores e devotos carregando morro acima, material de construção.

Como chegar lá? Ao atravessar a ponte do Comércio, continua a caminhada sempre em frente, linha reta até a subida da colina e chegar às últimas casas da rua que encosta no sopé do serrote. Daí em diante entra-se por uma vereda que vai se alargando e ficando cada vez mais inclinada. Subindo e descansando, o turista atingirá o topo saindo bem ao lado direito do grande Cruzeiro. O restante fica por conta das emoções de cada um.

SERROTE DO CRUZEIRO E CAPELINHA NO TOPO, VISTOS Da BR-316, BAIRRO CAMOXINGA (FOTO: B. CHAGAS).

Pesquise sobre Santa Terezinha.

  ESTRELA Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 20121 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.519   Esta é uma reflexão mai...

 

ESTRELA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 20121

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.519

 


Esta é uma reflexão mais particular, porém, cabe na Geografia de compartilhamento. Sempre que eu voltava de Maceió, chamava-me atenção a cidade de Estrela de Alagoas, a última do Agreste para quem viaja pela BR-316 Maceió – Sertão. Primeiro foi a rapidez com que aquele núcleo evoluiu e modernizou-se, após a sua emancipação política de Palmeira dos Índios. Segundo, a admiração em contemplar tantas árvores nos seus arredores, entre a cidade e uma serra próxima. Um parque rural espontâneo, pensei, mas sem oportunidade de visitá-lo. Ali nos arredores também existem dois montes famosos que foram parar na Geografia de Alagoas, do saudoso Professor Ivan Fernandes (1963).

Várias tentativas da minha parte foram feitas para fotografar ambos os montes afastados da cadeia de montanhas de Palmeira dos Índios: serrote do Cedro e serrote do Vento. Este é belíssimo e visitado por inúmeras pessoas em época de Semana Santa. O máximo que consegui foram fotos azuladas pela distância da BR para lá (cerca de 3 Km) e tempo chuvoso. Era para o meu livro “Repensando a Geografia de Alagoas”, inédito e engavetado. Modesta à parte um compêndio que nada deixa a desejar ao do mestre Ivan. Entretanto, fiquei mais admirado ainda com suas terras rurais de barro vermelho constantemente exibidas na Internet em vídeos de compra e venda de chácaras e fazendas daquele município. Acho que a morada naquelas terras caracteriza bem a vida dupla campo/cidade. Mundo rural com Estrela de Alagoas e Palmeira dos Índios.

Nem sei ainda como os políticos não se assanharam para emanciparem povoados, distritos e vilas como fizeram no passado. Mas isso ainda pode acontecer com lugares como Areias Brancas, em Santana do Ipanema; Canafístula Frei Damião, em Palmeira dos Índio; e vários outros lugares progressistas de Alagoas como o Pé Leve, Candunda, Caboclo, Piau, Alto do Tamanduá, Carié e muito mais.

Mas nessa hora em que estou planejando plantar meus tomateiros pérolas, bem poderia ser com aquelas terras vermelhas e belas de Estrela de Alagoas e do sítio serrote do Vento.

Amar à natureza.

SERROTE DO VENTO (Crédito: mapio. Net)