SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
SANTANA, UM VULCÃO EXTINTO? Clerisvaldo B. Chagas, 22 de outubro de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2. 599 Que...
SANTANA,
UM VULCÃO EXTINTO?
Clerisvaldo
B. Chagas, 22 de outubro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2. 599
Quem
consegue subir a ladeira extenuante do morro do Pelado ou Alto da Fé, em
Santana do Ipanema é porque busca apreciar Santana do Ipanema do alto. Mas aqui
fica o aviso: de que em nenhum mirante de Santana você observa a cidade total.
É que Santana do Ipanema é abaulada e cada mirante mostra apenas paisagens de
alguns lugares, cenários parciais. Mesmo assim é como se diz hoje em dia: “é de
tirar o fôlego, Santana vista por qualquer um deles. Estamos, porém, querendo
indicar ao visitante ou santanense desatento, a paisagem mais distante que
circunda Santana, vista do serrote Pelado, onde um bom desenhista poderá levar
ao papel o cenário entre o dia e a noite. (ultimamente algumas árvores cresceram
à frente do ponto principal do mirante atrapalhando a visão).
Olhando-se
com atenção para os horizontes, no serrote Pelado, temos a impressão de que
Santana do Ipanema acha-se no interior de uma enorme cratera extinta há milhões
de anos. As grandes muralhas que circundam à cidade seriam as paredes
vulcânicas em círculo. Vamos iniciar essas paredes com o serrote do Gonçalinho
à sudeste (já dentro da cidade) e se afastando para a direita, sempre em
círculo: serrote do Cruzeiro, serrote Pintado, serra Aguda, serra da
Remetedeira, serra do Poço, serra da Camonga, serra dos Macacos, fechando o
circulo com o serrote do Gonçalinho. Com a extinção vulcânica e erosões
posteriores, foram se formando o piso interior, aplainado, ondulado, repleto de
colinas onde sugiram riachos e por onde o rio Ipanema encontrou falhas nas
montanhas, fez o seu vale e criou sua rede hidrográfica.
Não
estamos afirmando nada, até porque nos falta embasamento para uma teoria
geológica, mas, que parece, parece. Estamos abordando o assunto para não dizer
que isso não foi percebido, embora o interesse da terra esteja morando próximo
a zero. Do citado mirante avista-se com clareza a Avenida principal do Bairro
Monumento, mas apenas um trecho e aão muita coisa mais, sobre a cidade
propriamente dita. Os complementos dos cenários santanenses são acrescidos por
outros vários mirantes, pois, como foi dito, nenhum deles mostra a cidade
completa.
Tirar
a vista do umbigo e apreciar os horizontes, Zé!
SERRA
DA REMETEDEIRA VISTA DO BAIRRO SÃO JOSÉ (FOTO: B. CHAGAS).
SANTANA HISTÓRICA Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de outubro de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.598 Foi em 1938, ...
SANTANA
HISTÓRICA
Clerisvaldo
B. Chagas, 20/21 de outubro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.598
Foi em
1938, mesmo ano em que mataram Lampião, que o prefeito Joaquim Ferreira,
originário de outro estado, construiu o Grupo Escolar Padre Francisco Correia,
no Bairro Monumento, em Santana do Ipanema. A obra foi em conjunto com o
governo estadual. Surgia assim em Santana do Ipanema uma escola oficial de
grande porte. Havia certa resistência de mão de obra para o Magistério,
sobretudo de senhorinhas de Maceió, por causa da fama de barbaridades praticadas
no Sertão. Mesmo assim o grande passo na Educação da terra fora realizado e o
quadro completo da unidade se formou. Professoras de Santana do Ipanema e de
outros lugares, preencheram todos os cargos para o início de um futuro de
prosperidade no semiárido.
Com
esse grupo sendo a grande atração estudantil do Médio Sertão, o sucesso da
educação santanense esteve sempre em evidência numa fase chamada “Época de Ouro”.
A minha mãe, Professora Helena Braga, não estava presente, não fez parte da
turma de inauguração do Grupo. Proveniente de Viçosa, chegou de Maceió para se
engajar na luta em 1944. Aqui aconteceu o seu casamento, sua aposentadoria e o
seu falecimento. Um novo brilho veio a acontecer na Educação da cidade quando
foi inaugurado o Ginásio Santana, em torno de 12 anos após. Iniciava assim uma
nova fase educacional da quinta à oitava série numa escola da Rede Cenecista de
Alagoas, uma das primeiras do interior.
Não
está com tanto tempo assim, o antigo grupo ganhou uma reforma e ficou mais belo
ainda. Sua arquitetura e seu histórico fazem parte do Patrimônio Cultural e Arquitetônico
de Santana do Ipanema, justamente ao lado do Tênis Clube Santanense, do Ginásio
Santana e da Igrejinha de Nossa Senhora da Assunção. É o grande quarteto que
enobrece à cidade. Quem passa pela sua calçada como simples transeunte jamais
imagina que dentro daquele enorme e bem conservado muro tem tanta história de
progresso e amor em seus anais. Motivo de honra em ter estudado naquele casarão
que até o presente momento envaidece Santana.
(FOTO:
AUTOR DESCONHECIDO).
CARNE DE SOL Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de outubro de 2021 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.597 A faca enorme e af...
CARNE DE
SOL
Clerisvaldo
B. Chagas, 18/19 de outubro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.597
A
faca enorme e afiada cortava carene como se fosse manteiga. Salão com dois ou
três cochos grandes, era cenário da salgadeira do senhor conhecido como Otávio
Magro. As mantas de carne repousavam nos cochos dentro da salmoura. Algumas
peças ficavam penduradas na parede em ganchos de ferro como amostras daquela
delícia. Foi a única salgadeira de fabricar carne de sol, em Santana do Ipanema
que eu conheci. Ficava a salgadeira na Rua Antônio Tavares, esquina do beco que
fazia ligação com a rua de baixo, Rua de Zé Quirino, hoje prof. Enéas. Era ali,
defronte a casa do sargento Leôncio, do outro lado da via que se comprava carne
de sol. O povo jogava lixo por trás da
salgadeira e que descia até a rua de baixo, malgrado à fábrica de carne de sol,
de um lado, e uma fábrica de vinagre do outro.
Neste momento em que me
delicio com um naco de carne de sol, carne preta, como diz o meu netinho Davi,
fã dessa iguaria, à semelhança do bisavô Manezinho Chagas. A pedido do meu pai,
anos 60, lá ia eu até à salgadeira do senhor Otávio comprar carne que era
enrolada à mão e embrulhada em papel comum. Em casa a carne iria para o varal,
secar ao Sol, enquanto eu a vigiava com um cabo de vassoura contra ataques de
possíveis urubus. Hoje não existe mais o beco. Foi transformado em residência,
embora tenha sido formada uma rua de ligação entre ambas, bem vizinho. Após o
fechamento da salgadeira, não conheci até hoje nova fabriqueta em nossa cidade.
Marchantes e comerciantes
alegam muito trabalho e demora na venda pelo alto custo do produto bem feito.
Ensinam, porém, a você fazer sua própria carne de sol, sem levar ao Sol e
usando geladeira. É fácil e fica muito gostosa, mas não é a original fabricada
pelos nossos antepassados. Mais uma relíquia sertaneja que poderia gerar
emprego e exportar o produto como acontece no Pernambuco, em São Caetano. Você
poderá encontrar a carne de sol num restaurante à Rua Delmiro Gouveia,
deliciosa, mas não espere que seja na fórmula original com o Sol sertanejo.
Assim vamos matando a vontade com o produto feito em casa com quem aprendeu com
o famoso marchante e fazendeiro, saudoso Eufrásio Militão.
Na verdade, era muito melhor
quando carne de sol se escrevia com hífen. Você até pode chamar de carne de
geladeira.
Sertão em festa!
PRATO DE CARNE DE SOL (IMAGEM
DE AUTOR NÃO IDENTIFICADO).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.