CERCA DE VARA Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.716   Os sertões nordest...

 

CERCA DE VARA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.716

 



Os sertões nordestinos vão perdendo cada vez mais a vegetação nativa do seu Bioma. A caatinga vai se transformando em área pelada, não pelas secas periódicas, mas sim pelas ações destrutivas provenientes da falta de consciência de donos de terras. Sertão pelado faz desaparecer fauna, flora, construções e objetos   sustentados pela mata em pé. Fumaça na mata, fumaça na matéria-prima, fumaça no produtivo. Assim vai se evaporando a tradição, menos pela chegada do moderno, mas pela falta de amor aos devastadores da Natureza. E eles não são poucos.   A cerca de varas está no meio dos feitios sertanejos, mas em extinção apesar de tantas mostradas por aí.

O uso geral desse tipo rudimentar de cerca é mais encontrado em casas, sítios e propriedades rurais cujos donos possuem baixo poder aquisitivo. Antes, era a falta do arame farpado depois, a própria economia, pois despesa com arame e estacas de madeira ou de cimento continua nas alturas. Antes as cercas de varas protegiam os jardins feitos pelas donas de casa e a roça verdejante da sanha devoradora do gado miúdo: bodes e carneiros. Hortas eram coisas raras nos sertões, pois a valorização estava apenas na lavoura do feijão, do milho da mandioca. E a proteção de cercas de qualquer tipo contra o bode, a cabra, o cabrito, é coisa praticamente perdida, pois o bicho sobe até em árvores e faz malabarismos por cima de cercas de varas.

Cercas de madeira podem ser verticais e horizontais, feitas de varas, de vime, de cipós, de garranchos, de tábuas, de bambu ou mesmo de estacas juntas abraçadas por aramado.  No tempo do cangaço facilitava bem a investida silenciosa dos cabras de Lampião às residências casebres de taipa. Apesar de ser uma coisa barata e simples, não é para todo mundo a habilidade de se construir uma cerca bem feita de quilômetros de distância. Na atualidade, porém, é saber onde conseguir essas varas com o sertão pelado.

Quanto a outras serventias em possuir uma cerca de madeira é a precisão em ministrar uma surra num cabra safado, dizia um amigo nosso. O marido chega bêbado em casa, perturbando, só resta a dona do lar “danar-lhe uma surra de vara para quebrar-lhe as pontas”.

O amigo tinha experiência!

CERCA DE VARAS (FOTO: AUTOR NÃO IDENTIFICADO).

 

 

 

  AS BRIGAS DO TEMPO Clerisvaldo B. Chagas, 14 de junho de 2022 Escritor Símbolo do sertão alagoano Crônica: 2.715   As brigas de ...

 

AS BRIGAS DO TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de junho de 2022

Escritor Símbolo do sertão alagoano

Crônica: 2.715


 

As brigas de touros em território santanense era uma opção para o longo tempo sem futebol.  O auge da bola com tantos times formados nos bairros da cidade, entre eles o São Pedro, desapareceram com o tempo, com a falta de estímulos. Futebol foi embora de vez. Então, jovens fazendeiros começaram a organizar brigas de touros como saída da apatia do domingo. Praticamente não havia arena definida para os combates que podiam ser na fazenda, no leito seco do rio Ipanema ou numa estrada de pouco movimento. Houve uma certa paixão pelos embates, mas as apostas era o incentivo do negócio. Apesar de tudo, o novo esporte não conseguia atrair multidões, Depois de certo tempo, não muito, teve o mesmo destino do futebol.

Já as brigas de galo tiveram boa duração.  Todas as classes sociais tinham seus representantes nas rinhas da cidade. Era uma febre em que víamos direto os nossos amigos com um galo debaixo do braço. O animal brigava tanto no solo das ruas quanto nas rinhas mais sofisticadas de Santana. Quanto às apostas não sabemos informar uma vez que não frequentávamos esses lugares. A nossa impressão é que o motivo de ter acabado tudo foi a proibição, pois esse esporte possuía grande potencial para o crescimento. Mesmo assim, ainda se encontram pessoas cuja paixão fazem-nas burlar a Lei. Há alguns meses um galo de briga solto na rua atacou uma senhora. Sua sorte foi uma sombrinha aberta conduzida por ela que a livrou de várias investidas do bicho. Foi atendida no Unidade de Saúde Posto São José.

Outra opção ao lazer, foi a corrida de cavalos. No princípio teve êxito e se desenvolveu. Acontecia no sítio Barroso a 2 ou 3 km da cidade. No grande terreno plano ainda não havia o Cemitério do Barroso, São José. As corridas eram feitas sem nenhuma proteção com cerca de arame farpado. A multidão de Santana do Ipanema lotava as duas margens da pista de corrida e, a cada uma delas, mais aumento de indivíduos baseados na fama e nas apostas do hipódromo sertanejo. Tinha tudo para dá certo, mas um dos apreciadores faleceu devido a uma peitada de um dos cavalos. Acabou tudo.

Quanto ao jogo de bola, está uma lástima.

Quer futebol? Dirija-se a Olho d’Água das Flores, Pão de Açúcar Palmeira dos Índios ou Arapiraca, Cabra Velho.

Mas que coisa!

BRIGA DE TOUROS (FOTO: SEUMENINO).

 

 

  REPRESENTANDO ALAGOAS Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.714   Para quem ...

 

REPRESENTANDO ALAGOAS

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.714

 



Para quem não sabia e nem sabe, a Craibeira é a “árvore símbolo de Alagoas”. Cresce muito e muito vive. Pode passar com folga dos cem anos de existência. É considerada madeira de lei. Seu tronco e galhos são duros como o ferro e com sua madeira se faz mesa de carro de boi. É para não se acabar e vencer diversas gerações de donos e usuários transportando as mais diversas mercadorias. Esse vegetal bota flores amarelas, principalmente na aproximação do Natal. Gosta muito de leitos de rios secos de areia grossa e salgada. Ama o nascimento entre pedras do leito, rachar e quebrar essas mesmas pedras, separando-as e ali crescendo até chegar em torno de vinte metros de altura, ou mais. Sem dúvida nenhuma, é a Rainha dos Rios Sertanejos.

A craibeira tanto é encontrada solitariamente quanto em grupos

formando belíssimos e preciosos jardins naturais. Santana do Ipanema, Poço das Trincheiras, apresentam esses jardins, notadamente no leito do rio Ipanema, mas obviamente toda a região sertaneja possui esse privilégio em seus rios, riachos e elevações como serras e serrotes. Quem já ouviu falar na tradicional pesca anual dos santanenses no riacho do Navio? Hoje não existe mais; acontecia o acampamento e a pesca sob frondosas craibeiras no leito do riacho do Navio, Pernambuco. Quando caem as sementes dessas árvores, assemelham-se a invólucros de curativo band-aid. Quando plantada em lugares muito movimentados como escolas, por exemplo, representam perigo quando cresce. Cada galho ou mesmo o tronco, podem atingir toneladas de madeira rija que ao caírem com a idade, ações de raios ou por outros motivos, podem causar seríssimos acidentes.

Bonita de se vê nas matas, nos leitos de riachos secos, principalmente quando destaque, florida diante da vegetação ressecada pelo verão puxado. Colírio para quem viaja pelos sertões e agrestes em tempos de longas estiagens. Não temos certeza, mas nos parece que a craibeira tornou-se árvore símbolo de Alagoas no governo estadual Geraldo Bulhões. Também não sabemos quais foram os critérios, pois existe muitas belas árvores na Mata Atlântica (floresta tropical).

Sertão orgulhoso com a Rainha Craibeira.

CRAIBEIRA COM MAIS DE 30 ANOS VISTA POR CIMA DOS TELHADOS (FOTO: B. CHAGAS).