TAMBÉM AS COBRAS                                     Clerisvaldo B. Chagas, 13 de julh...

 

                                                  TAMBÉM AS COBRAS                                   

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de julho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.733

 



Em solo sertanejo nordestino, encontramos alguns tipos de serpentes identificadas por quase todos que habitam os campos. A base das espécies mais vistas e identificadas popularmente, são a cobra jiboia (a maior de todas), a cascavel, a salamanta, a coral, a corre-campo, a papa-ovo, a caninana, a de cipó, a verde e a cobra preta.

Quem não se lembra da música: “Os zoio da cobra verde, hoje foi que arreparei/se arreparasse há mais tempo/não amava quem amei”? Pois bem, até as cobras inspiram cantores e compositores brasileiros. Também Gilberto Gil que fala da cobra corá (l).

Floro Novais, o famoso vingador sertanejo, costumava nomear todas as suas armas. A um revólver 45 ele o chamava de cobra-preta.  Indagado por um amigo, o porquê desse nome, “se cobra-preta não tem veneno”, ele respondeu: “Não tem veneno, mas engole as outras”. E é uma verdade. Por mais perigosas que sejam as outras serpentes como a cascavel e a salamanta são engolidas por ela.

Nesse momento toda a vegetação do Brasil passa por situação difícil: a Floresta Equatorial (Amazônica), a Floresta Tropical (Mata Atlântica), o Cerrado, os Campos Limpos e Sujos, a Vegetação Litorânea, os mangues e outras. A Caatinga resistiu o quanto pode, mas hoje está pelada com pequena percentagem do original.  Desaparecida a mata, desaparecidos os bichos. A quantidade de cobras era proporcional a caatinga, hoje, o perigo de ser picado por uma delas, foi muita reduzida. Mesmo assim, ainda se encontram as espécies citadas acima.

Quem anda pelas trilhas, apesar da raridade de  animais selvagens, “Não pode andar com a cara para cima” como diz nosso matuto. Foi não foi, pode se deparar com uma cascavel nos pedregulhos, nas touceiras de cactos, ou nas caçadas noturnas. Também foram desaparecendo com a mata e as serpentes, o curador de cobra que se apresentava nas feiras, curando no rastro e nas orações. Dificilmente você vai encontrar o curador que cura contra cobras na fazenda; os homens que ainda perguntavam para você por onde quer que as cobras saiam da sua propriedade.  

Vez em quando encontrávamos um caçador de serpentes encomendadas pelos institutos de vacinas. Hoje coisa rara.

Neste final de mundo, as cobras mais venenosas estão perdendo feio para a raça de bandidagem em duas pernas, desse torrão brasileiro.

INSTITUTO BUTATÃ (FOTO: DIVULGAÇÃO).

  TIRADOR DE COCO Clerisvaldo B. Chagas, 12 de julho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.732   Quem convive com...

 

TIRADOR DE COCO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de julho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.732


 

Quem convive com o Sertão, conhece muito bem a urtiga, a planta mais temida da caatinga, capoeiras e caminhos. É uma erva de 60 a 70 centímetros de altura com uma boa variedade. Pertence à família das Urticaceae. Pelo menos três espécies são muito comuns na área: uma baixinha de folhas largas e verdes, outra baixinha de folhas largas e vermelhas e uma terceira, caneluda de caule pelado e folhas pequenas nas extremidades, assemelha-se à favela. São terríveis ao triscar em qualquer parte do corpo e faz coçar desesperadamente.

Peia é um trançado forte de corda que se coloca numa pata de trás e outra na da frente das cavalgaduras, para que elas não se distanciem muito na folga do trabalho.

É chamado no Sertão: “cabra- de-peia”, aquele indivíduo ruim, que não vale nada. E que merece levar uma pisa, surra de peia, peça de corda.

 E, de um modo chulo, não se sabe a razão: peia=pênis. “entrar na peia”, copular. Os cantadores costumam ameaçar colegas nas cantigas desafios: “você vai entrar na peia”, mas com sentido normal da peça usada nas cavalgaduras.

Embolador ou tirador de coco, é aquele indivíduo que canta na rua com pandeiro fazendo versos de emboladas ou coco, com um parceiro, em desafio.

Pois bem, um coronel do Sertão, fazendeiro abusado e matador de gente acabara de perder um profissional tirador de cocos dos coqueiros da fazenda. Fora embora para São Paulo. A colheita de coco rendia bastante dinheiro ao coronel que vendia aos caminhões para todos os lugares. Com as mãos à cabeça o fazendeiro não sabia o que fazer. Para subir num coqueiro e tirar cocos ninguém se atrevia que a missão é muito pesada. Pois bem, certo dia chegou um sujeito por ali e pediu emprego e comida. O coronel perguntou o que ele fazia na vida e o homem respondeu que era tirador de coco. Imediatamente ficou empregado, encheu a barriga do bom e do melhor até que o coronel disse: “Pronto, vá descansar que amanhã bem cedo você começa a tirar coco naqueles coqueiros da baixada”.

O novo empregado respondeu: “Eu não sei subir em coqueiro, coronel”. E o patrão de boca aberta “Oxente! você não disse que era tirador de coco?” “Sou tirador de coco de embolada, coroné. – Puxou o pandeiro de um saco que servia de mala.

O coronel ficou mais vermelho do que pimenta. “Como é a história, cabra! Eu não vou mandar lhe dar uma surra de peia, mas vou mandar lhe dar uma pisa de urtiga de bunda limpa, cabra da peste!" Um capanga já estava preparado e fez o serviço mandado pelo patrão. Após a pisa de urtiga, o embolador saiu correndo, correndo e se coçando numa agonia triste.

Daí em diante, o embolador podia tirar abacaxi, manga, banana, mas não queria nem saber de falar que era tirador de coco.

EMBOLADAS. (DIVULGAÇÃO).

  DEFININDO OS FENÔMENOS Clerisvaldo B. Chagas, 11 de julho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.731 Vamos aproveitando ...

 

DEFININDO OS FENÔMENOS

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de julho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.731



Vamos aproveitando o tempo invernoso cheio de manifestações atmosféricas para entendermos o que é neve, granizo neblina ou nevoeiro e geada. O engano sobre eles é costumeiro.

Você pode dizer: está caindo neve, porque ela vem de cima. Isso corresponde a precipitação do vapor d’água sob a forma de cristais de gelo, que se aglomeram produzindo flocos de neve. Nos níveis em que a nuvem tem origem a temperatura situa-se obrigatoriamente abaixo do ponto de congelamento: 10 graus.

O granizo a que chamamos também pedra de gelo (choveu pedra) provem da precipitação do vapor d’água contido nas nuvens que, caindo em forma de pequenas gotas, em contato com uma camada de ar mais fria, acabam por se congelar.

Deu para notar a diferença?

A neblina, também chamada nevoeiro, corresponde a uma formação de nuvens pouco espessas, próximas da superfície, provocadas pelo resfriamento e condensação do ar úmido, também próximo da superfície. Ela ocorre normalmente em noites claras, de céu límpido, sobretudo no inverno e no outono. O solo, perdendo calor rapidamente provoca o resfriamento do ar das camadas contíguas à superfície, e a umidade condensada aparece sob forma de nevoeiro, que tende a acumular-se nos vales e nas planícies, porque o ar frio, sendo mais pesado, geralmente se concentra nas partes baixas do relevo. Fenômeno muito comum em nossa região, mas, geralmente não entendido.

Pulando a pauta: Lampião tinha importante cabra no bando, chamado Nevoeiro.

Orvalho, aparece quando o ar, durante à noite resfria-se abaixo do ponto de saturação. Esta forma de condensação ocorre muito próximo da superfície e pode ser observada nas plantas e nos objetos ao amanhecer. Quando, porém, a condensação ocorre com temperaturas inferiores a zero grau, surge a geada, representada pela formação de uma camada fina de gelo sobre a vegetação e outros objetos. Ao contrário da neve, você não diz: está caindo geada porque ela não vem do alto. Nós, sertanejos, chamamos a condensação da noite de sereno e a do amanhecer de orvalho.

E se você quiser medir a quantidade de chuva que caiu no quintal da sua casa, mede em um aparelho chamado pluviômetro e que pode ser feito até com garrafa pet.

Esperamos que tenha gostado.

Texto baseado em Elian Alabi Lucci.

NEBLINA EM SANTANA DO IPANEMA (FOTO: CLEMILDA/ARQUIVO)