CAVALHADA EM SANTANA Clerisvaldo B. Chagas, 25 de julho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.738     A cavalha...

 

CAVALHADA EM SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de julho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.738

 


  A cavalhada, folguedo é de origem portuguesa, brincou muito em Maceió e desapareceu. Surgiu na zona rural de Santana do Ipanema em lugar específico há mais de 30 anos e estava desaparecido também. A brincadeira foi resgatada e neste domingo (ontem) de Festa de Senhora Santana, apresentou-se no campo da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira. A cavalhada é também conhecida como “corrida de argolinha”, representa as lutas de cristãos e mouros na tradição portuguesa. Alas e cavaleiros vestidos de azul, ala de cavaleiros vestidos de encarnado (vermelho), entram em competição

Cavalhada é uma celebração de espetáculos públicos e mostra a destreza e valentia dos seus participantes que frequentemente envolvia temas do período da Reconquista. Era um torneio que servia como exercício militar nos intervalos das guerras e onde nobres e guerreiros cultivavam a praxe da galanteria.

No Brasil, esse torneio tem suas variedades, sendo algumas muito mais vistosas nos trajes e acessórios de cavalos e cavaleiros. É folguedo ativo em algumas regiões e inexistente em outras. A corrida de argolinha em Santana do Ipanema, parece ser a mais simples de todas, resumida no básico. Os cavaleiros disputam as provas tentando retirar as argolinhas penduradas num fio, usando o cavalo em velocidade e uma “lança” na mão. Existem ainda outras observações durante a prova, porém, a habilidade e destreza na hora da argolinha é a parte mais empolgante da brincadeira.

Os personagens principais são os cavaleiros, vestidos de azul (cristãos) ou vermelho (mouros) e armados de lanças e espadas. A corte é representada por personagens como o rei, o general, príncipes, princesas, embaixadores e lacaios, todos vestidos com ricas fantasias. Mas, como foi dito acima, nem todos os lugares procedem assim. A cavalhada de Santana do Ipanema, é simples e não possui os adereços e o luxo apresentados no Centro-Oeste, por exemplo. Mas, a corrida de argolinha sempre alcançou um bom número de espectadores no sítio Caracol, onde participamos há três décadas, como curioso. Um resgate muito bom que empolga o homem do campo carente de diversões.

 No início do folguedo há uma visita à igreja ou a um santo que é colocado num pedestal e só depois começam as competições cheias de nuances. Os cavaleiros saíram da Matriz de Senhora Santana para o campo do Estadual em desfile com uma banda de pífano animando a brincadeira. Não podemos contar de certo, pois não estávamos por perto.

Parabéns aos que tiveram a ideia e aos que promoveram a volta da tradição extinta.

CAVALHADA NO CENTRO-OESTE (FUNDAJ).

 

 

 

 

  SERTÃO DAS FERRAMENTAS Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2022 Escrito Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.738   Como o Bras...

 

SERTÃO DAS FERRAMENTAS

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2022

Escrito Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.738

 

Como o Brasil é cheio de gírias, temos visto aqui no Sertão o nojo pelo sujeito manhoso, enganador, “cabra peste” que está sendo chamado de “picareta”, principalmente o tipo de político que se encaixa acima. Mas, por que chamam o indivíduo de picareta que é apenas uma das ferramentas usadas nas construções e na Agricultura? Talvez seja porque a picareta tenha duas extremidades de uso que servem para cavar a terra e arrancar pedregulhos também. Uma extremidade é pontuda, a outra é chata para o uso conforme a necessidade. A gíria pegou pelo Brasil inteiro e a ferramenta da roça ganhou notoriedade negativa. Foi não foi, você se depara com um picareta na política, na repartição, na vizinhança... Nas ruas.

E como estamos falando em ferramentas, utilizamos ainda no campo a faca, o facão, a foice, o machado, a enxada, o enxadeco, o livião...  O cavador. Algumas dessas palavras o dicionário nem registra, ferramentas, algumas delas, variam de pronúncia conforme a região brasileira. Essas ferramentas que ainda possuem o valor do ouro em nossa agricultura sertaneja nordestina, chegavam ao Sertão alagoano transportadas para os nossos ancestrais, primeiramente em navios vindos de Salvador ou do Recife que entravam pela foz do rio São Francisco e subiam até Pão de Açúcar que era o grande porto da época. Ali, frotas de carros de boi (até 20 carros) e tropas de burros desciam de várias partes do Sertão para o desembarque dos navios e também a fim de transportarem essas ferramentas para outros núcleos sertanejos, mas também abasteciam os navios com nossos produtos: couro, peles, carne-de-sol, madeira e muito mais.

Estradas para a Capital ainda não havia e todo percurso era feito pelo mar e Rio São Francisco. Mas as ferramentas não deixaram de aparecer nos armazéns que vendiam de tudo: ferramentas, charque. Bacalhau, arame farpado, querosene, munições e muitas outras coisas. Nessa época não se chamava ninguém de picareta. O sujeito ruim, manhoso, não confiável, era tido como cabra-de-peia, cabra de aió, cabra safado...

E assim o Brasil continua com suas gírias, criando várias em uma só e continuadas gerações. E se você é agricultor, vai dizer:

Coitada da picareta!

PÃO DE AÇÚCAR (FOTO: ALAGOAS NA NET).

 

 

  USANDO O APRENDIDO Clerisvaldo B. Chagas, 20 de julho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.737   Quando estudá...

 

USANDO O APRENDIDO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de julho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.737

 


Quando estudávamos no Ginásio Santana, as provas eram ditadas pelo professor ou escritas por ele no quadro. Nós escrevíamos numa folha dupla pautada. Conforme o professor e a prova, podíamos usar totalmente a folha dupla ou não. O professor de Geografia, Alberto Nepomuceno Agra – ex-pracinha, fazendeiro, e dono de farmácia – costumava escrever no quadro apenas uma prova curta de cinco questões.  Ao entregarmos os testes, raramente usávamos a folha dupla. O professor cortava a folha ao meio e nos devolvia a outra banda não usada, dizendo mais ou menos assim: “Vamos aprender a economizar. Leve para casa essa parte em branco, você poderá precisar mais tarde”. Da mesma maneira procedia quando avistava um grampo de papel no chão. Extrapolava a Geografia, ensinando para a vida.

Comprávamos o papel de prova no centro comercial ou na bodega do senhor Oseas, bem pertinho do Ginásio e que também vendia “puxa” (doce pegajoso enrolado em forma de trança e macarrão). Era gostoso e ruim de mastigar. Enrolávamos a folha dupla em forma de canudo, passávamos um papel comum e mentalizávamos uma boa prova. Alguns espertos colocavam “filas” no meio das folhas e, vez em quando era surpreendido pelo professor.  O papel em forma de estêncil que facilitava a vida do aluno e do mestre só foi aparecer, se não estamos enganados, no Colégio Sagrada Família, atualmente extinto. Mas vamos voltar aos ensinamentos práticos de Alberto, meu Grande na Geografia e na vida.

Assim vamos ainda hoje, longe da sovinice, economizando grampo, papel, palavras ofensivas, orgulho, egoísmo, iras e invejas, esbanjando, porém, amor, caridade, fé, generosidade e setas indicativas do seguimento da existência. Vamos lembrando outros mestres que nos ajudaram a subir a montanha e falar do cimo para o resto do mundo. Vamos levar para o nosso futuro os tesouros acumulados na mente, no coração, no currículo terreno.

Ginásio Santana, escola de vida.

Professor, guia nas trevas com archote perene.

Gratidão: Sentimento impagável na condição humana.

GINÁSIO SANTANA EM 1963 (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230)