LAMPIÃO E O TIRO DE GUERRA Clerisvaldo B. Chagas, 20 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.149   Co...

 

LAMPIÃO E O TIRO DE GUERRA

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.149

 



Conta a história sertaneja que na década de 20, Santana do Ipanema, já possuía uma representação do Exército Brasileiro. Era o tão falado na época, Tiro de guerra, composto por, aproximadamente, 25 homens.  E no ano de 1926, Lampião que desceu furioso do Juazeiro do Norte, entrou nas Alagoas e assaltou vários sítios rurais do município de Santana do Ipanema. Mas por que o bandido não invadiu a cidade que se organizou com barricadas na Rua da Poeira? Não foram poucos os que afirmavam o receio do cangaceiro em enfrentar a representação verdinha. Lampião optou por um ataque à vila de Olho d’Água das Flores, totalmente desguarnecida. Pulemos então, para o final dos anos 50 e início dos anos 60.

Naquela época o Tiro de guerra ainda continuava em Santana do Ipanema. Seu alojamento era no “sobrado do meio da rua”, aproximadamente onde funcionou “Arquimedes Autopeças”. Conhecemos o comandando da unidade, um cabra forte e musculoso chamado Cadete, que residia entre a Cadeia Velha e os fundos de uma padaria (não temos certeza se era a padaria do Senhor Raimundo Melo). Em um dia estiado de inverno, os soldados passaram marchando em exercício pela rua sem calçamento Antônio Tavares. Quase defronte à casa da professora Adelcina Limeira, havia uma poça d’água e, o soldado Jaime Chagas (futuro prefeito da cidade) tentou burlar o comandante se desviando da poça. Esse percebeu a manobra e fez o recruta voltar e marchar por dentro da água barrenta.

Não sabemos quando o Tiro de guerra deixou Santana do Ipanema, talvez nos anos 70. Mas, antes de 1964, o Exército construiu um quartel em Santana e que foi abandonado pouco tempo depois. O prédio ocioso passou a funcionar como escola. Ali foi fundado o Colégio Estadual Deraldo Campos, em 1964. Repetia-se a história do Ginásio Santana que passou a funcionar no edifício ocioso que fora quartel de polícia.  Amigos e amigas, se ainda não te contaram isso, é porque faltou a leitura do “Boi, a Bota e Batina, História Completa de Santana do Ipanema”.

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TIRO DE GUERRA EM OUTRA REGIÃO.

 

  A COBRANÇA Clerisvaldo B. Chagas, 19 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 148   Não era ônibus mo...

 

A COBRANÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 148

 



Não era ônibus moderno, nem o trem, nem vans, era o caminhão bruto quem levava e trazia passageiros e mercadorias. Os mascates de Santana do Ipanema que davam feira em Olho d’Água das Flores, Carneiros, Pão de Açúcar, submetiam-se a esse único tipo de transporte. Assim, os caminhões partiam para as cidades circunvizinhas lotados de mercadorias para vender naquelas feiras. Os donos da mercadoria, isto é, os mascates, viajavam em cima da mercadoria, sentados em duas alas, pernas penduradas para fora da carroceria. A dureza da profissão fazia surgir tipos engraçados que também iam para feira levando tipos de jogos como negócios. Piadas gargalhadas, histórias curtas e divertidas, procuravam amenizar a tensão nascente do dia.

Quando o destino era Olho d’Água das Flores, por exemplo, a jornada pela rodagem empoeirada, tinha estacionamento na divisa dos dois municípios onde havia uma casa de fundos voltados para rodagem e um grande pé de jasmim no terreiro. Ali, o proprietário do caminhão, o próprio motorista, fazia a cobrança subindo à carroceria e se equilibrando por cima de lona dobrada, caixas de tecidos, louças e tantos outros objetos. Registramos proprietários caminhoneiros como o senhor José Cirilo e Plínio, irmão de Eduardo Prazeres, dono de olaria. Clientela costumeira, sem problema algum, pagamento certinho, cobrança em lugar estratégico e jornada de volta.  Em tempos de inverno, às vezes, no retorno da feira, se pegava o valente riacho João Gomes com cheia violenta e ainda sem ponte. Pense na trabalheira infernal que entrava pela noite!

Essa gente representava os verdadeiros heróis do progresso que abasteciam cidades e municípios de tudo o que eles precisavam

para garantir azeitado o cotidiano. Tempo duro para quem era mole onde o futuro era ali mesmo na hora presente. Ah... E quando o rio Ipanema, também sem ponte, assustava os mascates com suas cheias descomunais! Entretanto, desafios sempre estiveram presentes no caminho da humanidade. Sem desafio tudo vira rotina e monotonia esfriando o caminheiro do planeta Terra. Mas, voltando aos heroicos tempos dos mascates, nunca conseguimos apagar da mente a parada da cobrança, na casa virada do pé de jasmim.

Assim é o caminhar da gente quando, de vez em quando, a vida pára e nos faz a cobrança.

REPRESENTAÇÃO SANTANA

  O CALUNGA Clerisvaldo b. Chagas, 18 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3. 147   Após o carro de bo...

 

O CALUNGA

Clerisvaldo b. Chagas, 18 de novembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 147



 

Após o carro de boi que carregou esse Brasil pesado em sua mesa, surgiu o caminhão que entrava pelas trilhas alargadas pelo carro de boi e chorava na rampa de terrenos brutos. O motorista, na época chamado chofer, precisava entender um pouco de motor para eventuais problemas pelos esquisitos caminhos. Tinha prestígio sim, por todos os lugares aonde rodava. Mas, o que chamava atenção mesmo era o seu inseparável ajudante, chamado pelo próprio chofer e pelo povo de “calunga”. O calunga servia para carregar nas costas as mercadorias do caminhão, carregar e descarregar, era essa a função principal.  Mas também servia para colocar o cepo na roda traseira do veículo quando este parava nas ladeiras. Cepo de madeira com três quinas e um cabo que evitava uma possível pulada de marcha e uma descida surpresa com prováveis acidentes.

Pois bem, no meu romance” Fazenda Lajeado”, apresentamos uma cena em que um caminhão carregado de couros e peles é parado por cangaceiros perto de Pão de Açúcar. O episódio é muito forte e realista. É ali onde se vê a frieza do chofer e o pavor do calunga. Mas isso o leitor viverá quando adquirir Fazenda Lajeado que ainda não foi lançado oficialmente. E por falar nisso, quem conheceu em Santana o famosos Miguel Mão-de-onça, tem dele o relato da falta de um calunga quando fora pegar uma carga no estado do Maranhão. Nenhum dos presentes quis ajudá-lo a carregar o caminhão e ele teve que sozinho, fazer às vezes de calunga. Amaldiçoava o lugar chamando aquele povo de preguiçoso. Mas... Isso era opinião dele.

Atualmente, meus prezados e prezadas, um caminhão, por mais simples que seja, só falta falar de tanta tecnologia. Mesmo assim, o atrativo, a sedução pela máquina do momento, continua dentro dos que acham romântico um caminhão na estrada. E como tem gente pelos quatro cantos desse Brasil, a figura musculosa do calunga perdeu o passo do progresso e sumiu. Como já estão colocando asas nos automóveis, não duvidamos de futuras asas em caminhões para que eles pareçam nos ares com besouro mangangá. Assim o tempo vai acabando profissões antigas e modernas e apontando novas que você jamais ouviu falar. Mas, depois do sumiço do calunga será que vai na mesma trilha, o chofer, o motorista?

Como estamos viajando no tempo, logo, logo descobriremos. De calunga ao Século XXII.

CAMINHÃO FORD ANTIGO.