SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
O RELÓGIO DA MATRIZ Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.152 Sim, ele ...
O
RELÓGIO DA MATRIZ
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de novembro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.152
Sim, ele veio da reforma 1949-1953, da Matriz
de Senhora Santana, em Santana do Ipanema. Representava um dos grandes charmes
da torre de 35 metros que encantava a região sertaneja. Em cada uma das quatro
faces da torre, um enorme mostrador que ajudou em muito o comércio local e a
população. Passou a ser a hora oficial da cidade e os comerciantes abriam e
fechavam o comércio baseados nos seus quatro mostradores. Assim o, Comércio
abria as 7.30 horas e puxava para o fechamento às 11.30. Parada para o
almoço. Reabria a 13.30 e seguia para o
fechamento às 17.30. Uma marreta
automática batia as horas em um sino sem badalo e o som era ouvido por toda
periferia de Santana e por alguns sítios rurais com as Tocaias.
Lá da Rua Antônio Tavares, dava para avistar a
hora e, nesse caso fomos muitas vezes para defronte à casa do Senhor Severino
(pai de Valda) e que dava para enxergar bem as horas na Matriz. O relógio
gigante parecia regular a hora de todos em Santana do Ipanema. Depois que deu o
prego, pronto. Muito difícil se dá um jeito em coisa tão antiga. Sobre sua
origem, nada ficou registrado, bem como as origens dos sinos no compartimento
imediatamente inferior. Entretanto o relógio da Matriz nunca foi retirado da
parede. Mesmo parado há décadas, continua ocupando seu espaço antigo como quem
diz: “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Funcionando ou não, mantém a
beleza intacta da torre. Inúmeras vezes foi o meu guia nas idas para o Grupo
Padre Francisco Correia e nas aberturas e fechamentos da loja de tecidos de meu
pai, no Comércio.
Sim que a Igreja Matriz toda sempre foi o
cartão postal do nosso município na sua totalidade. O relógio podia até nem
chamar atenção, mas sua utilidade era praticamente escravagista das incontáveis
consultas públicas. Já ouvi suas badaladas encolhido na torre dos sinos. Morto
de medo, é verdade. E no romantismo do inverno, quando as andorinhas sentavam
no alto da torre e no sobrado do meio da rua, as fortes badaladas da casa do
relógio, faziam-nas voltar a rodear a torre com seus piados característicos. E
se você viu que andorinhas, relógio e torre eram tão românticos no inverno, não
pode imaginar também a expectativa do verão.
MATRIZ DE SENHORA SANTANA.
O ROMANCE QUE NÃO FOI ESCRITO Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.151 ...
O
ROMANCE QUE NÃO FOI ESCRITO
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de novembro de
2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.151
Sim, todos aqueles personagens que moravam
perto do rio Ipanema, naquela rua sem calçamento, repleta de barro de louça,
sabiam de sobra o que era a pobreza e a miséria. Alípio, Tributino, Mário
Nambu, Zefinha, Antônia, Abelardo, Arnaldo, jisus, a prostituta Tina e a
vasculhadora de casa Maria Lula. Estamos falando dos anos 50-60, em Santana do
Ipanema. Oscar Silva já havia escrito um romance Maceió-Sertão, mas havia sido
há mais de trinta anos passado: “Água do Panema”. Estou lamentando que nem eu,
por não ter pensado nisso antes, e nem outro escritor da terra, fez um romance
com os personagens acima, narrando o cotidiano daquele lugar. Falei várias
vezes em crônicas e vou lembrar novamente Maria Lula. Todos moravam defronte do
curral de gado do senhor José Quirino.
Na última casa da rua, casa pequena e de taipa,
Maria Lula vivia sozinha. Olhos azuis, alta, forte, branca galega, parecia uma
alemã. De modo grosseiros, não era bonita. Sempre estava indo ao Ipanema, lavar
a roupa e apanhar água para beber. Transportava pote de barro com água de
cacimba, ou no ombro ou na cabeça, com rodilha. Era convidada pelas casas de
pessoas abastadas, para vasculhar a casa, usando vassoura de palha e vara
comprida. Vez em quando, Maria Lula tomava uma bicada de “cana”, o que a
deixava mais vermelha do que chapéu de mestra de pastoril. Maria Lula também
podia abastecer alguém com água do pote.
E bem que um romance de amor naquele terreno
escorregadio de inverno, seria interessante: Maria Lula, vasculhadora; Mário
Nambu cantor; Tributino, pescador; Zefinha, engomadeira; Antônia, lavadeira;
Alípio, ébrio e ex-jogador do Ipanema; Jisus, carregador de sacos; a
vizinhança: Genésio, sapateiro, Zé Preto e Joaquim, manganheiros, Silvino
Sombrinha, consertador de guarda-chuva; Santana e Carrito, bodegueiros; Tina,
prostituta; Caçador, policial civil; Zé Limeira, fazedor de malas; Nego Tonho,
muito novo.... Veja que romance supimpa! Quem sabe... Quem sabe...
Quem sabe!
POVO DA BEIRA DO RIO (FOTO: JEANE CHAGAS).
FOI TARDE DE LAZER Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.150 Para nós...
FOI
TARDE DE LAZER
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de novembro de
2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.150
Para nós, a excelente turma de ginasianos, foi
uma surpresa. E, diga-se de passagem, uma surpresa boa. Alguém se preocupara
com uma atividade um momento de lazer e cultura para a 20 Série,
cujas janelas de vidros e madeira davam para a vizinha Praça da Bandeira. A
maior classe de todas as quatro da escola. Entre outras atrações apresentadas,
trouxeram a filha de um gerente do Banco do Brasil, para algumas apresentações
com um belo acordeom vermelho. Claro que eu poderia chamar de Sanfona. Mas, era
a filha do gerente, representando a elite bancária de altíssimo prestígio na
cidade. Ceci também era aluna em trânsito, do Ginásio. Novinha e simpática deu
um belo espetáculo tocando várias páginas musicais que nos encantaram. E se não
me engano ”Saudade de Matão”.
Assim, nós notávamos quanta diferença faz, uma
atividade cultural e de lazer num curso educacional puxado. Ali estava, Ceci do
senhor Barradas, tocando valsas e outras páginas, despertando a música para
colegas sem oportunidades. E de sanfona, propriamente dita, só conhecíamos a da
fama de Luiz Gonzaga ou os pés-de-bodes dos caboclos nas pontas de rua. Mas, um
acordeom chique daquele manejado pela menina-moça da sociedade de cima, era
“beleza pura” como se pronunciava o senhor Benedito Pacífico, dono do
restaurante “Biu’s Bar e Restaurante da Rua Delmiro Gouveia. Mas isso foi muito
antes de professores que gostavam de promover atos culturais, mais adiante,
como Guimarães e o pastor “Topo Gígio”.
Entretanto, podemos afirmar que o ambiente
estudantil do Ginásio Santana, era tão agradável que as nossas noites de aulas
equivaliam à Educação, à Cultura e ao lazer no próprio cotidiano. Frequentamos
aquela escola durante seis anos como aluno e vários como professor de Ciências
e Geografia. Pelo menos dois prefeitos foram meus alunos, um de Santana, outro
do Poço das Trincheiras e, entre tantos outros famosos, o repentista José de
Almeida, já na Colégio Santo Tomás de Aquino (Curso Médio de Contabilidade). O
Ginásio Santana tinha um encantamento próprio e que brilhava em qualquer lugar
de Alagoas através de qualquer um dos seus ex-alunos. Era uma das melhores
escolas do estado e muito respeitada na capital Maceió.
GINÁSIO SANTANA EM 2013. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO
230).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.