SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
ASSOMBRAÇÃO: CONTADA E REGISTRADA Clerisvaldo B. Chagas, 10 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.415 O...
ASSOMBRAÇÃO:
CONTADA E REGISTRADA
Clerisvaldo
B. Chagas, 10 de novembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.415
Ouvindo
os mais velhos e lendo nossos escritores antigos, nos deparamos com três casos
interessantes de assombração. Quando Santana do Ipanema passou a fase de quatro
anos sem energia elétrica na cidade, havia jogatinas em diversos lugares. Pois
bem, um jogador de baralho que diziam ser muito destemido, morava no povoado
São Félix. Viciado no baralho, jogava em Santana até altas madrugadas quando
resolvia voltar a pé ao seu povoado. 12 km para esticar as pernas na brisa
noturna. Teria o viciado que passar pelo sopé da serra da Camonga, onde o povo
ouvia coisas. E sempre que o jogador passava na estrada, uma voz ao longe
gritava para ele: “Eeeiii! Venha cá”. E o corajoso respondia gritando também:
“Não tenho tempo, estou apressado!”. Assim, nem a alma o acompanhava e nem o
homem atendia o chamado de além.
Registrado
em livro mal assombro na igrejinha das Tocaias. Quem passava por ali nas
chamadas horas grandes, ouvia o tocar de zabumbas, como se fosse festejo de
novena. Um valentão não acreditava e até zombava dos casos contados. Certo dia,
teve que passar pelas Tocaias, e bem defronte da santa-cruz, os zabumbeiros invisíveis
tocaram as zabumbas com tanta nitidez, que o homem saiu em desabalada carreira,
conseguiu chegar em casa e caiu desmaiado diante da porta. Quando conseguiu se
recuperar ainda precisou de tempo para retornar à fala, até que contou o que
acontecera para seus familiares. Após missas e novenas no lugar, desapareceram
até hoje as assombrações. A santa-cruz foi substituída pela igrejinha que
continua resistindo ao tempo.
A
região do sítio Olho d’Água do Amaro, também foi motivo de registro em livro, o
Gritador. As pessoas ouviam uma voz masculina gritando forte por ali. Quando um
cidadão ouviu o Gritador, de longe, disse uma piada dirigida a ele e, no mesmo
instante recebeu um forte grito no ouvido e veio a desfalecer. Na região do
sítio Olho d’Água do Amaro, muita gente ouvia essas coisas e todos tinham medo
do que chamavam de Gritador. Felizmente os casos são coisas do passado, mas
registados por gente que viveu naquele trecho rural do nosso município. 
Hoje
esses casos de assombrações enriquecem a religiosidade e o folclore sertanejo
nordestino. Arrepiou-se? 
Não
duvidar e rezar pelos acontecidos.
(FOTO:
AMERICANAS/PLAYARTES).
REVISANDO OSCAR Clerisvaldo B. Chagas, 9 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.414 Abrindo espaço...
REVISANDO
OSCAR
Clerisvaldo
B. Chagas, 9 de novembro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.414
Abrindo
espaço para o saudoso escritor santanense Oscar Silva, em página que antecede o
literário trabalho: Bucho de Alastrado, Na Íntegra.
BUCHO
DE ALASTRADO
Caminhos
que se cruzam os caminhos do sertão.
Encruzilhadas
sertanejas – estradas que levam ao Norte, caminhos para o poente.
Sol
do Nascente, banho de luz na reta de uma estrada, noutra o enxame de cruzes –
sombras de arvoredo desnudo da caatinga.
Romeiros do Padrinho Cícero em busca de sua
Meca – cruzes riscadas nos troncos de marmeleiro, angico ou imburana.
Curva de estrada, volta num caminho, baixada ou
ladeira, cruzes de abertos braços – viagens para sempre interrompidas.
Caminhos cheios de cruzes, os caminhos do
sertão.
Cruzes de estradas, cruzes de árvores
ressequidas, cruzes riscadas a ponta de faca ou canivete, cruzes plantadas pela
força do bacamarte.
Cruzes + cruzes + cruzes!
Sertão nordestino – Gólgota brasileiro, diplomado
pelas cruzes dos caminhos.
Cruzes que impressionam o viajor, cruzes que
arrepiam com medo dos mortos, que fazem tremer por temor dos vivos. Em cada
estrada sertaneja, cruzes à direita, cruzes à esquerda – marcos de vida que ali
se finaram.
Cruzes desabrigadas, braços túmidos da chuva,
haste rachada pela inclemência da canícula, ramo verde de florinhas silvestres
engastado nas fendas - sincera homenagem do caminhante às vítimas do destino ou
da traição.
Cruzes protegidas, casinhas brancas dos caminhos
– relicário dos que têm fé. Perna ferida, dilacerado seio, lábio corroído –
ex-votos e recordação: chaga sifilítica, angustiado peito, sofrimento!
Caminhos que se cruzam, caminhos cheios de
cruzes, os caminhos do sertão.
*SILVA,
Oscar. Fruta de Palma. Assoeste, Paraná, 1990, pág. 115.
ÁGUAS NO RIO IPANEMA Clerisvaldo B. Chagas, 5/6 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.413 A surpresa...
ÁGUAS NO RIO IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 5/6 de outubro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.413
A
surpresa do ano em Santana do Ipanema e em todo sertão de Alagoas, foram as
chuvas caídas ultimamente, pegando o fim de outubro e início de novembro.
Outubro sempre foi o mês mais seco do ano e novembro o mês dos ventos. E dos
meados de novembro em diante, tempo sujeito às trovoadas que chegam com
relâmpagos e trovões. Choveu por esses dias no sertão inteiro, armazenando água
nos açudes e barreiros para ajudar nesse período tradicional de estiagem. Mas,
para espanto dos santanenses, que nunca viram cheia no rio Ipanema no mês de
novembro, chegaram águas mansas tomando conta das suas areias grossas. Muitos
correram para às margens do rio procurando os melhores ângulos para fotografias
do incrível.
Diz
um ditado santanense: “Panema botou cheia, leva um”. Deus queira, entretanto,
que não seja dessa vez. Apesar das águas mansas das últimas chuvas de
Pernambuco e Alagoas, não se pode facilitar com as águas do rio Ipanema. Um
segundo ditado afirma que “Quando Ipanema bota cheia, o inverno é bom”. Esse
mês de novembro apenas confirma a sabedoria santanense. O espetáculo das águas
chegando a Santana, forma uma corrida de curiosos procurando o melhor ângulo
para fotografar o fenômeno, mas resolvemos mostrar uma foto que sai da rotina
dos fotógrafos. As águas passando na região das olarias, muito abaixo da ponte
do Comércio onde se concentra o povo. Águas cuja mansidão, embelezam as margens
do rio já bastante habitadas.
Geralmente
também outras ribeiras do Sertão causam a mesma alegria em seus respectivos
municípios, com as águas chegando nos rios temporários. Rio Canapi, Capiá,
Traipu, Dois Riachos, este, afluente do Ipanema e que corta a cidade que leva o
seu nome. Falamos apenas nos que se abastecem com as águas vindas de Pernambuco
e o do nosso estado. Mas, as trovoadas antecipadas só com as chuvas sertanejas
também podem dar vida às ribeiras como o Farias, Desumano, Jacaré e Riacho
Grande. Além do espetáculo, proporcionam água para os rebanhos ovino, caprino,
equino, bovino, asinino e muares, companheiros inseparáveis dos guerreiros do
semiárido. 
Rios
sertanejos! Veias de vida implantadas por Deus no corpo do sertão nordestino.
Graças, graças... Graças.
RIO
IPANEMA E A CHEGADA DAS ÁGUAS (FOTO:JEANE CHAGAS).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.