VIDA E MORTE DE UM
CINEMA
Clerisvaldo
B. Chagas, 15 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Entusiasmado
com o êxito do Cine Glória, à Rua Coronel Lucena, o empresário Tibúrcio Soares,
resolveu construir um cinema mais poderoso. Assim ergueu o gigante na Rua Barão
do Rio Branco, em pleno centro comercial. Belíssima fachada, oitocentos
lugares, cadeiras não acolchoadas de primeira, marca CIMO. Tela enorme,
toalete, galeria e saída lateral para os espectadores. Alcançava-se a sala de
projeção galgando alguns degraus passando-se por sala de espera espelhada, com
poltrona longa e única. Recebendo ingressos, o porteiro do antigo cine, índio Fulni-ô
de Águas Belas, Sinésio, conhecido como “Caboclo”. Houve concurso para o nome
do prédio, ganhando a concorrência o título Cine Alvorada. Santana do Ipanema,
sertão de Alagoas, ganhava assim seu segundo cinema de luxo.
As
paredes internas foram decoradas com estampas de motivos regionais: mandacaru,
forrozeiro, carro de boi... Em pintura moderna. Fez o trabalho de arte o
desenhista de fachadas e artista plástico denominado Zezinho Bodega. Pelas
vidraças eram vistos alguns cartazes dos próximos filmes. Mas o cartaz de
compensado que ficava no poste de esquina do Hotel Central, continuava
anunciando. Tibúrcio Soares, também era proprietário de loja de tecidos
denominada “Rainha do Norte”, entre o prédio do meio da rua e o sobrado do meio
da rua. Ali também se vendia todos os artigos carnavalescos.
Com
o advento da televisão, divertimento em casa, houve forte abalo em outras
atrações: clubes, cinemas, teatros... Levando ao fechamento de vários deles no
Brasil inteiro. Não foi diferente com o gigantesco Cine Alvorada. Passou para
outro empresário, mas os dias do cinema já estavam contados. Havia uma
lanchonete ao lado, fechou e virou barbearia por muito tempo.
O cinema, orgulho do interior, ficou
ocioso por longa data e aos poucos foi sendo transformado em casa comercial. O
interessante é que daquele mundo todo, não se tem notícia de que uma só peça
esteja no Museu Darras Noya.
É muito difícil se conservar a história
de um município quando ele próprio não se interessa por ela.
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