VEIAS E CAPILARES
Clerisvaldo
B. Chagas, 3 de outubro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.777
Gravatá,
Camoxinga, Tigre, João Gomes e outros mais, irrigam as terras santanenses. São
fios d’água temporários ou intermitentes, assim como seu grande coletor, o rio
Ipanema. São assim denominados porque escorrem em épocas de chuvas e secam em
tempo de estio. Mas a Natureza é muito caprichosa e tudo faz para agradar ao
ser humano e que ele nem sempre corresponde. Pois, mesmo na época de estiagem,
alguns pontos ao longo desses riachos, formam poços em depressões do leito,
quase sempre em lugares de muitas pedras fixas e desgastadas pelas cheias
milenares. Grande parte do leito seco é somente monotonia, é verdade, mas os
poços das águas que sobram das cheias e encontram lençol freático, quase sempre
estão cercadas por belas pedras fixas e lisas e árvores frondosas que
ultrapassam facilmente 15, 20 metros de altura, tendo a craibeira como exemplo.
Esses
lugares aprazíveis são verdadeiros oásis e servem aos humanos para acampamento,
pesca miúda, banho, convescote e retiro espiritual. Não faz tanto tempo assim,
tínhamos um retiro espiritual do Movimento Bíblico de Santana do Ipanema, às
margens e no leito do riacho Tigre, em Maravilha. Mas o Tigre de Santana do
Ipanema também tem seus encantos, sendo riacho de montanhas, além de ser
afluente do riacho Camoxinga. Em qualquer um desses fios d’água citados acima,
você poderá iniciar um movimento de lazer, sendo bastante confabular com os proprietários
das terras porque não encontramos trechos de riachos sem donos.
Foram
por esses e outros inúmeros riachos do Sertão que os desbravadores subiram
desde o Rio São Francisco até alcançarem o território pernambucano, no caso da
Ribeira do Panema, a vila de Cimbres. Eles, os riachos, são faixas alongadas de
umidade que proporcionaram a sobrevivência do caboclo nordestino em terras
semiáridas; a criação de várzeas, baixios ou baixadas com mais oportunidades de
vida para os rebanhos bovinos e ovinos. Enfim, um refrigério para a luta
renhida e diária dos que teimaram em produzir. São veias e capilares dos rios
coletores que a Natureza providenciou para sustentar os terráqueos. Riachos,
arroios, córregos ou “corgos” como suprimem os menos letrados, não importa o
regionalismo cultural, mas sim a intimidade perene entre o homem e o meio.
POÇO
DO JUÁ NO RIO IPANEMA, AO FUNDO. (FOTO: B. CHAGAS).
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