segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

HOSPITAL, QUARTEL E GINÁSIO, PODE?


HOSPITAL, QUARTEL E GINÁSIO, PODE?
            Clerisvaldo B. Chagas, 10 de fevereiro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.258
   
GINÁSIO. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 130)
       Estudar no Ginásio Santana precisava saltar uma grande barreira chamada: Admissão ao Ginásio. Um vestibular, um funil para os aspirantes da antiga quarta série primária. Passou? Vai estudar a quinta série ginasial. E eu de cá, do outro lado da avenida perguntando aos meus botões se a mocidade sabia que o casarão fora construído para ser hospital. Governo do município Joaquim Ferreira, anos 30, e um projeto ousado em se construir um hospital em Santana do Ipanema. O mesmo homem que tudo fizera para o surgimento do Grupo Escolar Padre Francisco Correia (cunho estadual), entretanto, não foi muito feliz no projeto saúde.  Faltando mão de obra e equipamento, o casarão ficou ocioso por um longo período. Construído pelos índios Carnijós de Águas Belas, virou Quartel de Polícia em 1936.
       Ocupado pelo batalhão, até que este fosse embora, era de 40, o casarão foi transformado em Escola Cenecista Ginásio Santana. Vários cangaceiros se entregaram ali, pós Angicos. A história do hospital ficou apenas na arquitetura; a saga cangaceira não conta todos os episódios das lutas do quartel. Houve um esquecimento, um torpor generalizado, que até o momento não se entende. Esse esquecimento fez com que pouquíssimos conhecessem o cangaço e volantes através do Quartel. Ao invés de fuzis e coturnos, livros e gravatas para ginasianos sedentos pela aprendizagem. E lá iam através do tempo, diretores e mais diretores, alunos e mais alunos e um desfile engraçado de bedéis, assim chamados os zeladores: Duda Bagnani, Lulinha, Sebastião Veríssimo, José Augusto...
O ambiente no Ginásio Santana nunca demonstrou que o prédio fora quartel; que dali saíram as volantes em perseguição aos bandidos; que inúmeras cabeças de cangaceiros ficaram por algum tempo em suas dependências; que ali dentro fora assassinado o falastrão e perverso Português; que vários marginais se entregaram e lá conviveram e que o comando era entregue a um dos mais destemidos combatente de sequazes, Lucena Maranhão. O mesmo Lucena Maranhão que junto com outros fundaram esse mesmo Ginásio Santana.
Seis anos como aluno, vários como professor, vivi a atmosfera sagrada do CASARÃO.
Hoje, Escola Cenecista Santana, a mesma trilha do SABER.
Cangaço: adeus às armas.

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