CUTIA,
PACA, CUTIA
Clerisvaldo
B. Chagas, 27 de dezembro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.820
Em
solo sertanejo, geralmente uma confusão longa é iniciada com o ditado ainda em
voga: “gente vai ver cu de cutia assoviar!”. Ditado bastante antigo, citado até por pessoas
que nunca viram uma cutia na vida, importando apenas o sentido em que a ira
avisa que haverá bastante desassossego. Mas quem diabo inventou tão feio
jargão? E se o lugar tão sensível da
cutia é capaz de assoviar, só quem conhece de perto o animal é capaz de saber.
A paca é menor do que a cutia, são ambos roedores, ariscos e selvagens. Também
não é do nosso tempo a existência desses bichos nas matas de Santana do
Ipanema, bem como a ausência da Capivara. Isso faz lembrar a declaração de um
amigo vigilante de escola que dizia criar duas pacas no quintal, na margem
direita do rio Ipanema.
Mas
o que chama atenção mesmo é o criatório de pacas e cutias numa fazenda em Minas
Gerais. Com autorização do IBAMA, o criatório único com os dois bichos tem toda
a assistência de profissionais que ajudam a desenvolver o empreendimento. Assim
deveria ser com o mocó, o preá, a ema e veado galheiro, entre outros porque a
extinção dos bichos selvagens caminha a passos largos. Todos querem
experimentar o sabor de carne exótica, além de ajudar na preservação da espécie
em criatório. Até as mulheres sensuais eram comparadas: “redondinha que nem uma
paca! E quem quer criar clandestinamente, é um olho no quintal e um olho na
Lei. A multa é pesada de tirar a calça pela cabeça além de possível prisão em
flagrante.
Dia
nublado e frio esse de Natal, em Santana do Ipanema, fomos quebrar a monotonia
tentando fotografar os arredores. E nas ladeiras do Bairro São José em direção
ao rio, o costume rural de criar aves à solta ainda permanece. Nos terrenos
baldios, nos monturos, passeiam descontraídos os galináceos: pintos, galinhas,
galos e até mesmo o guiné. Vez em quando
quem deseja leva uma galinha, mas esse criatório tradicional persiste
indiferente ao furto. É ali mesmo sob a folhagem rasteira e o lixo caseiro
jogado que os bichos reproduzem, crescem e se divertem. Vamos fotografando
ainda, a beleza verde dos montes mais distantes, cercando as cercas de arame
farpado que nada cercam. Mas dessas andanças em busca de coisa interessantes,
nem notícia de capivara, cutia e paca.
Dia monótono e profundamente triste. Até mesmo
lúgubre.
PACA
E CUTIA (PACA DE LATERAL BORDADA)
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