NO
TEMPO DA CACHAÇA
Clerisvaldo
B. Chagas, 28 de dezembro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.821
Vamos
escrevendo para uma cidade sem memória e uma juventude que não encontra a
história do município. Com essa conversa atual de rota da cachaça, em Alagoas,
lembramos mais uma vez que tivemos uma cidade fabril, inclusive com fabriquetas
de aguardente. O senhor João Aquino tinha uma fábrica de refrigerante, “Guaraná
Globo”. O senhor Júlio Pezunho tinha uma fábrica de colchões, o senhor Antônio
tinha uma fábrica de vinagre. No bairro Floresta havia uma fábrica de cordas.
Três fábricas de calçados, uma fábrica de bolos e duas fábricas de
carne-de-sol. Quanto ao fabrico da aguardente, em Santana do Ipanema, servia
bem para abastecer o mercado local. Quanto a qualidade, nunca ouvimos falar
sobre se o líquido era bom ou ruim.
Na
esquina da Travessa Antônio Tavares para a Rua Nova, casa comprida de Manoel ou
José Lopez, dizia o povo que se produzia cachaça. No comércio, muito mais abaixo da igrejinha
de São Sebastião, o irmão do padre Bulhões, Antônio Bulhões mantinha uma
fábrica de cachaça e fazia as entregas no caçuás em lombo de jumento. Por trás
da atual Loja Maçônica, “Amor à Verdade”, havia a destilaria do senhor Sinval,
morador da rua Nova, jovem ainda, bigode a Castro Alves e que gostava de
recitar poesias do poeta Zé da Luz. Algumas dessa fabriquetas de aguardente
também produziam vinagre. Ainda não vivíamos o auge de marcas de aguardentes
famosas e fabricada em larga escala pelo estado vizinho de Pernambuco, mas já
se falava numa tal de “Azuladinha das Alagoas”.
Quanto
a fruta jurubeba, produz uma bebida também chamada jurubeba e está incluída nas
bebidas alcoólicas do estado. Embora houvesse muitas plantas nativas jurubeba
na região de Santana do Ipanema, a bebida era importada e de cunho popular. E
nas margens da rodovia Palmeira dos Índios – Arapiraca, via Igaci, proliferava
a planta jurubeba ao longo de toda rodovia. Surgiu uma fábrica no distrito
Canafístula, Palmeira dos índios, cujo depósito de madeira era tão alto que
parecia uma louvação à bebida. Tempos depois fomos visitá-la, mas a fábrica de
jurubeba havia cerrado suas portas.
Atualmente
se fala muito em rota da cachaça na região agrestina, porém, Santana do Ipanema
não possui mais nenhuma fábrica de aguardente.
Entretanto,
com fábrica ou sem fábrica, com destilaria ou sem, os bebinhos da Terra de
Senhora Santana continuam sem trégua na rota da cachaça.
DESTILARIA
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