domingo, 15 de setembro de 2024

 

O CHARQUE E O TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.108

 



Você gosta de uma boa feijoada nordestina? Sem charque não presta. O que é charque?  É a carne de boi, curtida no sal abundante durante vários dias. Dizem que o método de transformar carne fresca em charque foi ensinado pelos indígenas quíchuas da América do Sul. Já em 1780 o Rio Grande do Sul fazia seu primeiro lote de charque. Isso permitia uma exportação sem arruinar o produto que seria perecível. Até a metade do segundo quarto do Século XX, o charque – chamado em outros lugares de carne seca e jabá – era comida de pobre e trabalhador de roça do alugado. Inclusive, em um dos nossos romances do ciclo do cangaço, FAZENDA LAJEADO, retirantes da seca trabalhando na Fazenda Lajeado, alimentavam-se de feijão com charque. Retrato histórico da época.

Em Santana do Ipanema, comprávamos charque de primeira qualidade e bacalhau – que também era comida de pobre – no armazém de Seu Marinho, o maior da cidade. O charque dos tempos dos trabalhadores braçais da zona rural, continua resistindo ao tempo, sofisticou-se no preço e passou a ser alcançado somente pelo rico. O balcão do armazém de Seu Marinho que ficava no “prédio do meio da rua”, defronte à Casa Ideal, sapataria de luxo de Seu Marinheiro Amaral, era lotado de charque e bacalhau. O freguês, hoje cliente, mesmo indo comprar outra coisa, beliscava no charque ou o no bacalhau arrancando filepas e degustando. Valia à pena. E o sistema de se fazer feijoada era com feijão normal, com muitos ingredientes, porém, a cereja do bolo era o charque.

Esse negócio de feijão preto, não era coisa da nossa região. Havia pessoas especializadas contratadas unicamente para elaborar uma feijoada para muita gente. Não se colocava tanta coisa para não tornar a comida mais pesadona do que um porco. Tudo na medida certa, como os profissionais faziam, homens ou mulheres. E quando havia festa com feijoada, quase sempre esse tipo de almoço era servido em pratos de barro, comprados na feira livre às paneleiras do povoado Alto do Tamanduá – Poço das Trincheiras – ou do sítio vizinho e santanense, Baixa do Tamanduá. Conhecemos o comerciante Pedro, como o último de Santana a vender charque de primeira qualidade. Nem sabemos se ainda existe isso em Santana para se comprar.

Viva a feijoada, patrimônio sertanejo nordestino!

Mas... Com bastante charque.

 

 

 


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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

 

NO GINÁSIO SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.107

 



Em Santana do Ipanema, o prefeito Joaquim Ferreira, construiu com o governo estadual o Grupo Escolar Padre Francisco Correia e também a estrutura física para um hospital. Usou bastante mão-de-obra- indígena dos Carnijós de Águas Belas. Entretanto, o enorme prédio para hospital, ficou ocioso por falta de pessoal e equipamento. Mais tarde o prédio ocioso foi ocupado por um batalhão de polícia formado para combater o cangaceirismo no Nordeste. Quando o batalhão foi embora o prédio ficou novamente ocioso. Então, passou a ser usado para abrigar uma unidade escolar da Rede Cenecista em Alagoas. Foi, então, fundado o Ginásio Santana que foi inaugurado em 1950. Com seus idealizadores à frente: Padre Bulhões, coronel Lucena, padre Teófanes e outros mais o estabelecimento de Ensino passou a funcionar da quinta a oitava série.

O Ginásio Santana funcionava devido pagamento e, seus professores eram pessoas que se destacavam na sociedade pelo seu saber, gratuitamente ou com pequenas gratificações. Era um bancário, um contador, um padre, um comerciante, um médico e assim por diante, tudo a título de colaboração. Das décadas de 60-70, lembramos como alunos de algumas características de alguns professores: O professor de História Conrado Lima, nunca deixava de falar em Rocha Pombo; o professor de História e Matemática, Ernande Brandão, era “E assim sucessivamente... “, “a ordem dos fatores não altera o produto”; a professora de Desenho dona Déa, quando se dizia que não estava entendendo: “Tenho tanta pena do senhor...”: José Pinto Araújo, professor de Geografia: “A Ponta Seixas, no cabo Branco na Paraíba”; Genival Copinho, professor de Matemática: “O crivo de Erastóstenes”; A professora de Francês, Maria Eunice: “biquinho: oui, Mademoiselle”; padre Luiz Cirilo, professor de Latim: “Puela, puela, puela...;  Neco professor de Matemática: Cai fora, deputado!;  Doutor Jório, professor de Ciência: “Quantos corações nós temos? – Dois, doutor Jório, um meu outro do senhor; Alberto Agra, professor de Geografia: “O sujeito só quer seus direitos, compreendeu? Esquece dos seus deveres”; Branco, professor de Inglês: “Nos Estados Unidos é assim, na Inglaterra é assim”.

O silêncio medroso acontecia nas aulas de Dr. Jório, dona Isinha, Seu Alberto.


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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

 

AS PEDRAS E OS SAPOS

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 106

 



Na década de 60, quando o rio Ipanema botava cheia, nós, os adolescentes, com o rio sempre às vistas, marcávamos a intensidade dessas cheias de acordo com uma pedrada margem direita do rio, logo abaixo das olarias. A pedra tinha o formato de um anfíbio, daí a denominarmos “Pedra do Sapo”.  Se a cheia não chegava até lá, era pequena; se as águas chegavam até a sua base, seria uma cheia média e, se as águas chegassem quase a cobrir a pedra do Sapo ou mesmo a cobrir, seria uma cheia respeitavelmente grande. Tudo indica que foi na década de 80, quando o mangaieiro Zé Preto – que morava nas imediações da Rua São Paulo – por motivo de promessa, ergueu um oratório no topo da pedra e fez um acesso de alvenaria. Pronto, estava acabada a nossa tradição.

Mas, tempos depois, no sítio Barriguda, às margens da AL-220, um funcionário aposentado e artista amador, tendo adquirido uma chácara por ali, notou uma pedra em forma de sapo e usou a sua imaginação: Pintou o animal aproveitando as suas formas. A pintura do artista passou a ser uma grande atração turística. Muitas paradas de viajantes para uma fotografia tirada do pé da cerca de arame farpado. Até invasor subia na pedra para exibir fotografia como troféu. Assim encontramos outros artesãos que aproveitam pedras e árvores da caatinga com formato bruto de bichos.  Pintam a forma ou terminam o trabalho da natureza ao dá acabamento. Mas somente essas pessoas dotadas percebem essas formas de imediato porque a arte já está dentro da sua cabeça. Os olhos estão aguçados.

Tempos depois do oratório com escadaria na pedra do Sapo do rio Ipanema, os vândalos destruíram quase tudo, deixando apenas a escada de alvenaria. Nem chegamos a ver o santo da devoção de Zé Preto. Quanto ao sapo do sítio Barriguda, sempre estava sendo atualizado com pintura. Não sabemos, porém, se a manutenção continuou após a morte do proprietário da chácara. Mesmo assim, o “sapo” da Barriguda foi parar em nosso livro, ainda inédito: “Repensando a Geografia de Alagoas”, fotografado em 2016. (Ver abaixo). Quem marca agora as intensidades das cheias do rio Ipanema, não é mais a pedra do Sapo, pois, a modernidade aciona o Corpo de Bombeiros, cuja sede se encontra no Bairro São José.

Ô meu Sertão curioso!

 


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terça-feira, 10 de setembro de 2024

 

A MORTE DA RODOVIÁRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.105

 



Após muita luta da sociedade santanense, foi construída e inaugurada a Estação Rodoviária de Santana do Ipanema, em 13 de março de 1976; era uma das grandes conquistas da “Rainha do Sertão”. O local, muito agradável que até de mirante servia, ali na Avenida Dr. Otávio Cabral, no Bairro Monumento. Os ônibus que circulavam na linha Santana/Capital e vice-versa, finalmente puderam através da nova rodoviária, melhorar conforto, segurança e organização no transporte intermunicipal. Mas, como as reinvindicações demoraram muito a chegar, a Estação Rodoviária, quase não pega mais ônibus nenhum, pois começara a decadência dos grandes carros de transporte e a modalidade VAN, começa a tomar conta de todo o Brasil e o estado de Alagoas.

A estação, abandonada pelo estado e sem o grito municipal, entrou em ruínas. Tudo se foi acabando aos poucos: cadeiras de passageiros, bancos de bagagens, tento desgastado, fios pendurados, árvores da frente entregues à própria sorte. Ficou apenas um pequeno pega-bebo de cunho particular. Mais tarde, nem vaso sanitário, nem letreiro na fachada, nem energia no letreiro, nem vidro protetor. A marginalidade começou a rondar o prédio. Um ou dois ônibus perdidos no Sertão não encontraram mais apoio e, as VANS, estacionadas por tempo mínimo passou a utilizar a sombra maltratada das árvores defronte ou o meio da rua como ponto. Quem se aventura andar ainda por ali, é com “um olho no gato, outro no prato”, isto é, um olho no solo o outro no teto com medo do desabamento.

Até quando a Estação Rodoviária de Santana do Ipanema vai permanecer se diluindo até a última pá de cal? Estamos ainda aguardando, talvez sem esperanças, uma reforma boa, valorosa onde os novos veículos possam atender as básicas necessidades de condutores e passageiros que pagam seus impostos e precisam manter a dignidade em trânsito. Poderia indagar novamente quando é que o povo santanense será respeitado? Não se admite mais ali no bairro Monumento, área nobre da cidade, um monstrengo assombrando passageiros desinformados, inseguros e receosos. Venha senhor, governador, se servir da Rodoviária que se encontra em suas mãos. Como o senhor faria numa dor de barriga braba na hora de uma visita à estação?

RODOVIÁRIA EM 2013 (FOTO: LIVRO 230/ B. CHAGAS).

 

 


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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 

JUAZEIRO/AMOR COM ESPINHO

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.104

 




Sim, o juazeiro é mesmo a árvore símbolo do Nordeste, mas existem várias outras representantes. Pode crescer entre 4 a 5 metros e é mais conhecida por causa da sua resistência às secas. Pode-se escovar os dentes com a rapa do seu tronco e suas folhas são consideradas medicinais. Os seus frutos são pequenos, amarelos e arredondados. O homem pode comê-los em pouca quantidade. É adocicado e bastante apreciados pelos caprinos. Dizem, porém que o vegetal é abortivo. O juazeiro está sempre verde e no verão é convite para um bom cochilo na sua sombra. Aconselhamos, no caso, dá uma varrida primeiro por causa de fezes de animais e de pequenas galhas que se quebram e caem com o vento. Os galhos têm espinhos terríveis e não caem individualmente, mas sempre em fileiras de quatro ou cinco.

O espinho do Juazeiro é comprido, marrom, roliço, duro, pontiagudo e torneado. Penetra firme pelo calçado mole de borracha e provoca uma dor terrível e grossa. O Juazeiro (Ziziphus joazeiro), coopera com sua madeira para fabricação de móveis, barcos, artesanatos, peças finas e muitas outras utilidades. Nunca vimos, porém, alguém derrubando Juazeiro no Sertão onde todos procuram preservá-lo. Entre os poucos pássaros que procuram nele um bom abrigo, está a rolinha que, em casal, gosta de cantar bastante entre a sua folhagem. Terreno varrido, uma boa esteira, deve ser delícia gozar esse cochilo na sombra em pleno verão. O Juazeiro gosta de gemer, atritando seus galhos com o vento, o que bota para correr qualquer desavisado.

Em nosso romance DEUSES DE MANDACARU, existe uma cena em que um personagem fugitivo, depara-se com os gemidos de um juazeiro, ao descer da serra do Gugi altas horas da noite. Pois, o Ziziphus é assim mesmo, cheio de surpresas nos exemplos da sua resistência no mundo rural nordestino. Luiz Gonzaga foi muito feliz quando cantou e imortalizou o Juazeiro, inspirador do nome da cidade do padre Cícero no Ceará e da pujante urbe da Bahia.  Porém, bonito mesmo é você que não o conhece e o arrodeia ao vivo, curioso e com seu caderninho de anotações. E por falar nisso, a região da Bacia Leiteira Alagoana é pródiga na espécie, cuja figura se acha semeada pelas terras férteis e onduladas de um Sertão rico e agrestado.

Em Santana do Ipanema existe o poço do Juá, na parte mais larga do trecho urbano do rio Ipanema.

JUÁ E JUAZEIRO.

 


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domingo, 8 de setembro de 2024

 

INDEPENDÊNCIA

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.103

 



Esse dia 7 de setembro, além das nossas comemorações históricas brasileiras, traz esperanças de melhores dias por ser o mês da primavera. Abro o portão e vejo um dia nublado, escuro, úmido e frio e nem um pé de pessoa na rua. Estiro a vista para uma parte alta do Bairro Floresta, lá em cima, do outro lado do rio e, contemplo mais uma vez o Palácio de Herodes, isto é, os fundos de um edifício ainda não terminado, na vizinhança do Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo. Mas, se o dia é tristonho, a vegetação do entorno, do rio, das colinas, dos serrotes está verde, risonha e feliz nesse prolongado inverno. Não há dúvida de que o tempo nos convida para um passeio; passeio sem compromisso, pelo asfalto, pelas trilhas, pelas matas, pelos caminhos.

Ê véi...  Já passou há muito o tempo dos grandes desfiles cívicos dos nossos colégios. Desfiles que além da beleza ainda eram janela de oportunidades para músicos adultos e adolescentes que se destacavam após, até nacionalmente. Mas não estamos lamentando épocas, até porque o tempo é como um trem viageiro mostrando as diversas paisagens que permeiam a vida até o desembarque na estação final. Assim chegará a primavera para mantermos a esperança, o outono para o aquecimento, o verão para gastar energias e novamente o inverno para as profundas meditações. E assim vamos marchando entre provações e expiações, metamorfoseando o corpo, aprimorando a mente presa antes da liberdade que nos aguarda.

Enquanto isso, olho novamente em direção ao “Palácio de Herodes”. O comprido edifício de primeiro andar se recorta sob o céu chuvoso de marfim, pedaço de serrote da Reserva Tocaia, balanço de coqueiros isolados nos quintais, árvores nativas de acenos verdes, fazem a camuflagem antecipada da primavera. O Sol escondido no branco encardido das gazes celestes limpa a minha rua de qualquer forma de vida e parece que somente eu estou navegando no planeta de nata. Não, não vejo outra solução e travo a porta da rua. Convido Nosso Senhor para um café simples da Palestina e exercito a mente para uma crônica que lave, enxágue e centrifugue meu espírito e a alma inquieta de algum leitor ou leitora amiga.

Sim, vamos enxugar o pranto.

MINHA RUA (FOTO: B. CHAGAS).


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sábado, 7 de setembro de 2024

 Distribuindo livros no povoado São Félix. Ao fundo, o saudoso poeta e cantor Ferreirinha, violão


e voz.


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quinta-feira, 5 de setembro de 2024

 

SANTA LUZIA

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.102

 




Santa nascida em Siracusa, na Itália, é muito forte no Nordeste brasileiro. Sua tradição pelas zonas rurais parece mais forte ainda, onde suas novenas são celebradas com muita esperança no seu dia, 13 de dezembro. Padroeira dos oftalmologistas e das pessoas que têm algum tipo de deficiência visual, a presença de Santa Luzia está no cotidiano dos agricultores que muita a veneram. Perseguida por Diocleciano para que se convertesse aos deuses pagãos, sofreu absurdos e assegurando milagres em sua defesa, até que finalmente se tornou mártir. Seus solhos foram arrancados e entregue no prato ao imperador. Mas nasceram outros olhos sadios e mais belos do que os primeiros. Finalmente sua cabeça foi ao chão aos golpes dos perseguidores.

Na sua literatura se apresenta sempre com os dois olhos em um prato e que essa representação se encontra nas casas de inúmeros devotos, sertões afora. Em Santana do Ipanema, cidade sertaneja alagoana, entre tantos santos em nomes de ruas, está o de Santa Luzia que, segundo a população, foi promovida a bairro. Contemplamos muito os ternos de zabumba pelas ruas de povoados e cidades de casa em casa pedindo donativos para leilão e dinheiro para a novena de Santa Luzia. Tocadores atrás, mulher à frente com a imagem da santa protegida por pano branco, sombrinha protetora do Sol forte.

No meu mais recente romance do ciclo do cangaço, “OURO DAS ABELHAS”, tem uma cena de terno de zabumba tocando em um povoado onde iria haver novena de Santa Luzia, pela noite. A personagem principal do romance, Mocinha, pág. 54 do Capítulo: Onça assando Batata, canta:

 

Santa Luzia já vem

Cheia de luz e louvor

Curar os olhos do povo

Sem escolher pecador.

 

E assim vamos se deliciando com as belas história de Santa Luzia. Inclusive, muita gente devota se recusa a trabalhar no seu dia.

É dia santo no coração.

 

TERNO DE ZABUMBA NA RUA ANTÕNIO TAVARES, EM SANTANA DO IPANEMA. (FOTO: JEANE CHAGAS). ACERVO DO AUTOR. SANTA LUZIA.

 

 

 


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quarta-feira, 4 de setembro de 2024

 

 

ESCOLA DO VOVÕ

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 101

 



Temos certeza de que você, santanense, não sabe, porém, podemos dizer que a escola mais antiga da cidade é a que você está vendo abaixo. Leva o nome do primeiro juiz de Santana do Ipanema e que atuou na década de 1920. Em questão de prédio, é a escola “Bacurau”, mas no momento virou biblioteca de bairro. Então, a escolinha Manoel Xavier Acioly, abaixo, assume o lugar da mais antiga que conhecemos na urbe. Vamos levar em conta que a represa na BR-316, construída na periferia de Santana, em 1951 tenha influído na construção da escola. A represa ao lado da BR e a ponte ali erguida, deram origem ao Bairro Barragem que se formou em parte com os operários da obra (cassacos). A represa, hoje assoreada, sempre foi apontada pelo povo como barragem, o início do bairro e até hoje também, Bairro da Barragem.

Portanto, tudo levar a crer que a escolinha tenha sido fundada no início do Bairro da Barragem, para suprir a necessidade das famílias daquela periferia, em 1 de agosto de 1956. A escolinha acaba de completar 68 anos de existência.... Nem temos a ideia se ela mesma sabe disso. No caso, tínhamos apenas 10 anos de idade quando se deu o fato inaugural. Parecia uma paisagem muito triste quando víamos aquela escola pequena e isolada lá na beira da estrada. Foi reformada nos últimos anos e passou a ser um anexo de uma escola do Bairro São José. Com a situação da atualidade que tem transporte para todas as escolas do Brasil, a escolinha Manoel Xavier Acioly, também passa a acompanhar o modernismo e recebe alunos dos sítios daquela Zona Oeste de Santana do Ipanema.

Temos uma impressão muito forte de que a Educação e toda população santanense, deveriam fazer uma belíssima homenagem àquela unidade de Ensino. Inclusive, com um dia completo de lazer e inúmera atrações, com a participação de todas as outras escolas da cidade. O bairro da Barragem cresceu, formou do outro lado da pista um complemento moderníssimo que dividiu o bairro no antes e depois. Por trás da parte mais antiga e original, formou-se o bairro mais novo da cidade, denominado pelo povo de Clima Bom. Também é servido pela “Escola Vovô”, Manoel Xavier Acioly.

Sua bênção!...

ESCOLA MANOEL XAVIER ACIOLY, em 2013. (LIVRO 230 ICONOGRÁFICO AOS  230 ANOS DE SANTANA DO IPANEMA/B. CHAGAS).

 

 


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terça-feira, 3 de setembro de 2024

 

REVENDO A CAPELA

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.100



 

A primeira capela em homenagem à Senhora Santana, em Santana do Ipanema, remonta ao ano de 1787 (Século XVIII). Construída pelo padre Francisco Correia nas terras do fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia, a capela fora inspirada pela esposa do fazendeiro Ana Tereza, primeira devota da santa na região. Ana Tinha pedido ao padre uma imagem de Senhora Santana e que ele trouxera da Bahia.  Nada mais justo de que a construção da capela para posterior entronização da imagem desejada.  E a capela fora inaugurada também com a imagem do Cristo Crucificado, esculpido pelo padre Francisco Correia, além de outras ações. Sua belíssima arquitetura para a época, ainda hoje impressiona. Só foi reformada em 1900.

Pelo nosso conhecimento, somente no ano de 1900, a capela recebeu a sua primeira reforma. Além de um resumido registro em livro de outro escritor, temos uma foto da capela em preto, com movimento de procissão também. Após essa foto de 1900, vamos encontrar outra foto da igreja, em 1020, já reformada e caiada de branco. Afora isto, somente a grande reforma do final dos anos 40, ocasião em que foi construída a imensa torre que ainda hoje perdura na sua forma externa. A Igreja Matriz de Senhora Santana sofreu modificações internas, após a queda completa do seu forro ainda no final da gestão do padre Luís Cirilo Silva. Depois sofreu mais algumas significativas modificações na gestão do saudoso padre Delorizano. Quer dizer, não é mais internamente a original da década de 40.

Entretanto, a parte externa, em relação a degraus, jardins, iluminação, foi sendo modificada aos poucos, desde mesmo antes das remodelações internas. Mas a sua arquitetura geral, baseada na capela primeira de 1787 (Ver figura abaixo), nunca foi modificada. A Igreja Matriz de Senhora Santana, ainda continua sendo a maior atração turística do nosso município e o seu mais belo cartão postal. A propósito, foi dentro da nave, logo após a entrada interna para o Salão Paroquial contíguo onde foi sepultado o tão querido padre Luís Cirilo, o mais carismático de todos os que por ali passaram.  Após o falecimento do padre Luís Cirilo, as andorinhas em bando que frequentavam o alto da torre da Matriz, desapareceram e nunca mais retornaram para a alegria costumeira.

ORIGINAL CAPELA DE SENHORA SANTANA FUNDADA EM 1787. (LIVRO “230, ICONOGRÁFICO AOS 230 ANOS DE SANTANA DO IPANEMA/FOTO OU PINTURA: MARINA FALCÃO/ACERVO DO AUTOR.


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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

 

CANCÃO-DE-FOGO

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.099



 

No sertão alagoano é Cancão, em outras regiões também é chamado: Cancão-de-fogo, gralha-cancã, Quem-quem, cancão de nuca branca. O cancão é uma ave (Cianocorax cianopogor) típica do sertão nordestino, mas que o desmatamento o obrigou a emigrar para o Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. É muito barulhento na caatinga e talvez o seu nome tenha vindo do som aparente do seu canto. O cancão é muito inteligente e habilidoso no voo acrobático. Qualquer coisa diferente que avista na caatinga, sai avisando a todos os moradores, animais e humanos. O caçador experiente costuma estar atento às manobras do cancão.  O próprio cangaceiro Virgolino Ferreira, escolado sertanejo das caatingas, sabia de todos os avisos do bicho em questão e de todos os outros, do seu habitat. Isso o ajudou muito nas suas lutas contra as forças volantes em todos os estados onde atuava.

O cancão come insetos, fruta de mandacaru e praticamente tudo, até ração de galinha, se encontrar. Faz o seu ninho nas árvores mais altas da caatinga, forra o piso com folhas secas e choca três ovos para enfeitar a mata com seus cancãozinhos. Na sociedade sertaneja, é costume apelidar poetas repentistas emboladores ou violeiros com apelidos de pássaros cantadores. E cancão já foi apelido de muitos desses vates. Uma das grandes feras da poesia escrita, com alguns livros publicados com suas poesias sertanejas divinais, chamava-se Cancão.  O título Cancão-de-Fogo também está em folheto de cordel, de grande sucesso no passado e ainda no presente.

Todos os animais da caatinga merecem estudos profundos, porém, alguns são especiais e estão enraizados na sabedoria popular trazida da roça, dos campos das matas que muitas vezes serve de provérbio. Entre os especiais estão a seriema, a cauã, o cancão, a rolinha, o bem-te-vi.  E por falar em rolinha, talvez o pássaro mais querido do sertão, surgiu hoje, primeiro de setembro, tempo úmido e nublado, um casal de rolinha caldo-de-feijão catando pedrinhas defronte a nossa casa. É resultado do desmatamento e a adaptação dos animais no ambiente urbano. Voltando ao assunto inicial, preste atenção na figura abaixo do cancão, sua pose e majestade.

CANCÃO (PINTEREST).


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domingo, 1 de setembro de 2024

 

O MOTOR DIABÉTICO

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.098

 



A antiga Escola Cenecista Ginásio Santana era dura nos seus propósitos do Ensino, mas o ambiente às vezes trazia fatos divertidos. Nós, santanenses, vivemos tempos difíceis em relação à luz elétrica da cidade. O Ginásio Santana que funcionava à noite, aqui, acolá tinha problemas com a falta de energia e várias vezes os alunos foram mandados para casa por falta de luz no meio das aulas ou porque a energia estava passando da hora de chegar. Isso fez com que a direção da escola adquirisse um motor próprio. Antes um pouco do início das aulas tinha alguém encarregado de “virar” o motor. Virar era o termo usado que significava “botar o motor para funcionar”.  Nunca fomos lá até a casinha do motor para verificar o ato. Mas temos a impressão que era o bedel quem manobrava o motor. Sim, bedel era o encarregado da limpeza da escola, uma espécie de zelador.

Os alunos da oitava série, quase sempre eram adultos. Entre eles havia o Jorge de Leusinger, cujo pai era o senhor Leusínger, proprietário do “Hotel Avenida”, perto do prédio dos Correios e do outro lado da avenida. Quando criança estudando no Grupo Escolar Padre Francisco Correia, já havia presenciado o adulto ou quase, Jorge se exibindo a correr sobre os pilares do muro baixo da escola. E corria pulando de pilar em pilar como se estivesse no plano. Aquilo representava uma falta de censo, pois um passo em falso resultaria morte imediata. Ficávamos com o Credo na boca. Pois bem, o Jorge era muito presepeiro.

Uma noite o motor do Ginásio não quis virar. Nada dava jeito. Mandaram os alunos para casa e descobriram que o motor fora sabotado. Mais tarde, correu o boato interno de que alguém colocara açúcar no motor para que não houvesse aula. Tomaram conta do Ginásio Santana: investigação doméstica, risos frouxos e gargalhadas. A culpa foi cair na cabeça do famigerado Jorge de Leusínger. Tudo indicava que sim, porém não havia provas. Quem sabia era cúmplice da malandragem e ficara de boca piu. E assim passamos alguns dias sem aula, aguardando a limpeza da máquina de luz. (Jorge não está mais no mundo dos vivos).

Quem ainda se lembra do fato, compara as doenças que havia no passado e no presente. E todos apontaram que o motor estava diabético.

GINÁSIO SANTANA EM 1963, EM TORNO DA DATA DO FATO ACIMA (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO/ACERVO DO AUTOR).


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