quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

AMOSTRA GRÁTIS

AMOSTRA GRÁTIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 4 de fevereiro de 2011)

       Tudo conferido, despedimo-nos do índio e do filho e iniciamos a nossa marcha seguindo o sangradouro da barragem, beirando cercas de arames farpados de criatório bovino. 6 horas foi o início da caminhada.
       Em pouco tempo encontramos as escarpas. O Ipaneminha, apenas um filete, tão puro, tão cristalino, meteu-se por dentro da grota, em emaranhados de uma vegetação de árvores e arbustos de folhas marrons escuras e marrons claras. Parecia preservada. Nessa época, estava quase toda seca. Encontramos inúmeras espécies da Caatinga e outras típicas da Floresta Tropical.
       Destacamos imensas dificuldades na descida íngreme da grota. Os malotes às costas dificultavam o nosso equilíbrio. Esbarrávamos nas árvores, nas pedras, nos cipós, em nossas corridas curtas, sem querer, que o declive impunha.
       Quando nos era permitido, chegávamos perto do filete e, quase euforicamente, bebíamos aquele líquido gelado, transparente que naquelas circunstâncias parecia néctar.
       O filete escorria aos nossos pés. Ipaneminha sombreado, sozinho, murmurando pelo pedregulho, consciente do seu destino. Desejamos que todos os santanenses estivessem conosco naquela hora sagrada e solene onde só a Natureza mandava.
       (...) O rio não oferecia mais nenhuma novidade. Só o lastro contínuo de areia grossa, margens desmatadas, muita cerca e raríssimas cabeças de animais domésticos. Nem passarinho, nem raposas, nem mesmo cobras. Era o sertanejo um exterminador da fauna e da flora que fazia dó!
       Fomos anoitecer num joelho do rio onde havia um pequeno gramado com uma fila de quatro ou cinco algarobeiras ralas. Breve, estávamos sob a lua cheia. Armamos as nossas redes nas árvores e fizemos uma fogueira. Pelo cansaço, era para eu ter adormecido imediatamente, como uma pedra. Mas o descampado do desmatamento não me deixou pregar o olho até às 4 da manhã. O vento soprava forte, uivando virado nas seiscentas pestes! Meu companheiro repousava como um justo e não haveria vento nenhum do mundo que impedisse aquele “tanque de guerra” de dormir.
       Foi a pior noite das duas viagens. Só consegui adormecer lá para as 4 da manhã quando o vento parou sua latomia e sua frieza. Mas logo cedo estávamos com os pés na estrada.
Aguarde.



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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

DILMA NO EXTERIOR

DILMA NO EXTERIOR
(Clerisvaldo B. Chagas, 2 de fevereiro de 2011).

       Dilma sabe bem o que pretende e, pelo jeito, conhece todos os caminhos. A decisão da primeira viagem para fora do país, como presidenta, para os entendidos é uma forma bem ampla de se mandar um recado para a quem interessar possa. A preferência pela Argentina pode ser resumida de várias maneiras. Não indo logo a Europa, Dilma evita valorizar aquele continente em detrimento ao seu. É como se dissesse que ele é importante, mas já não representa o grande foco de atração como há pouco tempo, para países sul-americanos. Para os Estados Unidos, acostumados com as vassalagens do sul, não tão antigas assim, Dilma declara indiretamente o fim do beija-mão latino. Fez o que o Tio Sam costuma fazer com seus novos presidentes, prestigiar primeiro os seus vizinhos. Isto é, “aguarde sua vez, você não é mais prioridade”. Obama deve ter engolido seca a petulância brasileira. Escolhendo a Argentina para seus primeiros passos, a Presidenta sabe que a nação vizinha, será sempre vizinha geograficamente. Sabe também que a Argentina é uma grande nação, tem enorme potencial e já viveu uma ótima fase desenvolvimentista. Dilma entende que sem a parceira vizinha, é impossível a pretendida união da América do Sul. É do seu conhecimento que a nação do Prata, no momento, é uma respeitável cliente dos seus produtos e, finalmente sabe que o Mercosul unido, representa força substancial para grandes entendimentos econômicos e políticos no Planeta. Em síntese, fortalecer a Argentina e aumentar sua autoestima, é tornar o Brasil muito mais forte diante das outras nações. Depois virá o afago ao Paraguai e Uruguai para arrumar a casa abaixo do Equador e alçar voos para onde achar conveniente. É a Geopolítica funcionando em favor da inteligência.
       O encontro com a presidenta Cristina Kirchner deixa, sem dúvida alguma, água na boca de outros dirigentes da América do Sul e mesmo do Caribe. O fato do encontro com as mães e avós da Praça de Maio é bastante representativo e soa como um aviso claro aos países que mantêm a ditadura e desrespeitam constantemente os direitos humanos. Entendam-se aqui direitos humanos como tolhimento da liberdade básica de cada cidadão nos países opressores. Pode-se até dizer que o movimento das ruas pela democracia egípcia ─ que tomou proporções gigantescas ─ tenha ofuscando a visita da presidenta Dilma Rousseff a Argentina. É verdadeiro sim a afirmativa, entretanto, o encontro com as mães, representa um apoio indireto ao povo do Egito que não suporta mais vê o rosto de Hosni Mubarak. Aliás, “o fora ditador”, iniciado na Tunísia, atingindo em cheio o país de Hosni, vai queimando a região com o grito há muito reprimido. A China mesmo retirou da mídia a palavra Egito. Mas como já havia sido aqui analisado, tudo é questão de tempo. De repente as coisas acontecem por que ninguém tem condições de barrar infinitamente o poder da comunicação. É ela a principal responsável da sede por democracia. Precisamos testar a presidenta no Brasil e a DILMA NO EXTERIOR.


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