terça-feira, 1 de julho de 2014

VIVA JULHO!



VIVA JULHO!
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de julho de 2014
Crônica Nº 1218

Usando a expressão sertaneja, junho entrega julho com falta  de chuvas. O que se transforma em transtorno nas capitais vira ouro vindo das nuvens, no sertão. A predominância da agropecuária no interior faz com que as conversas de todos quase sempre girem em torno de chuvas. Não é só fazendeiro ligado no tempo dia e noite. O ciclo das águas envolve as áreas econômicas do semiárido, em geral, formando uma tácita homenagem às nuvens.
Direta ou indiretamente perscrutam-se os nimbos numa esperança, mesmo longínqua de prosperidade. Mas, além do ciclo normativo da estiagem, fenômenos anunciados vão cobrindo de breu as perspectivas enfraquecidas.
Maio ameaçou com bonança, junho refugou e julho segue uma trilha que parece amargosa. As feiras livres vão agonizando na extensão e densidade, a carestia sorri das carteiras cambaleantes. Os riachos choram, os barreiros não enchem, o céu economiza.
A tradição de meio de ano padece com a culinária chocha que escapa com zonas irrigadas. E lá vamos nós, nas mesmas levas de preocupações companheiras, como se fôssemos guerreiros do campo.
Até a frieza que maltratava os ossos dos viventes, chega mansa no mês de Senhora Santa Ana. Pergunta-se o que está mesmo acontecendo nos climas mundiais. E assim o planeta vai girando num desafio estranho, fazendo a cabeça do esqueleto virar-se a toda hora na busca dos arcanos.
Enquanto isso, o espetáculo da Copa vai tapeando a plateia com seu pano carmesim. Julho não vem mais aí. Julho chegou no seu cavalo alazão de riscos incolores. “Ah velhos enganos de heróis de panos”. Aonde vamos nós nesse planeta reluzente a abrasivo?
Julho chegou! Julho chegou! Na velha Roma alagoana vai ter muito mais pão e circo. VIVA JULHO!



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domingo, 29 de junho de 2014

A TURMA DO FUNIL



A TURMA DO FUNIL
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de junho de 2014
Nº 1.217
Lá nos idos da era 60, surgiu uma marchinha de Carnaval, entre tantas outras, simpática e que deixava eufórico o participante da brincadeira. Numa composição de Mirabeau, M. de Oliveira e E. Castro, a música carnavalesca chamava-se “A Turma do Funil”. Na minha terra foi formado um bloco com esse nome, tendo a marchinha como carro-chefe. Desfilando pelas ruas e entrando nas casas dos influentes, lá ia à rapaziada:

Chegou à turma do funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Ai, ai, ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos e eles ficam tontos (BIS)

Como jovem adolescente eu pensava como seria bom fazer parte da Turma do Funil. A maioria fantasiada, alguns com os rostos cheios de farinha de trigo, todos conduzindo garrafas e funis. Sempre havia um trio musical composto, geralmente, à base de sanfona, pandeiro e triângulo. Aquela latomia pelas ruas e avenidas da cidade iniciava cedo e se prolongava até às 13 ou 14 horas quando a turma começava a se dispersar.
Não tinha quem não acompanhasse a musiquinha;

Eu bebo, sem compromisso
Com meu dinheiro
Ninguém tem nada com isso
Aonde houver garrafa
Aonde houver barril
Presente está à turma do funil.

Ao ver o jogo Grécia X Costa Rica, o sofrimento dos latinos, veio imediatamente à imagem do funil do vestibular, o objeto de zinco mais temido da época. E o bloco de Carnaval da “Rainha do Sertão” também veio à tona.
As etapas da copa se afunilam e, só os privilegiados rompem a parte delgada do instrumento infundíbulo.
Queiramos ou não, todos nós pertencemos À TURMA DO FUNIL.


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