DESLUMBRAMENTOS (Clerisvaldo B. Chagas. 30.8.2009) Três coisas no Brasil chamaram a minha atenção. A serra de Petrópolis, as curvas...

DESLUMBRAMENTOS

DESLUMBRAMENTOS

(Clerisvaldo B. Chagas. 30.8.2009)

Três coisas no Brasil chamaram a minha atenção. A serra de Petrópolis, as curvas da estrada de Santos e o trajeto da lagoa Mundaú — Manguaba entre Maceió e Marechal Deodoro. A primeira, para quem vai do Nordeste ao Rio de Janeiro, vista do alto, é um deslumbramento total. A segunda, além da paisagem nativa que encanta a qualquer um visitante, ainda apresenta uma obra de engenharia das mais adiantadas do mundo. É incrível comprovar como o homem possui inteligência para realizar tamanho feito. As curvas da estrada de Santos foram homenageadas por uma das muitas canções de Roberto Carlos:

“(...) eu prefiro as curvas

Da estrada de Santos

Aonde tento esquecer

Um amor que tive

E vi pelo espelho

Na distância se perder...”

A terceira, trecho Maceió — Marechal Deodoro, retira todo o véu das lagoas Mundaú e Manguaba, numa viagem simples na lancha de linha. Duas horas de puro encanto paradisíaco. Trecho para poetas, pintores, escritores, geógrafos e para todos os que admiram e amam a Natureza. Não compreendo como aquele caminho das águas não esteja nos roteiros turísticos do Planeta. Águas mansas, ilhas e mais ilhas, ancoradouros de tábuas, acenos de coqueiros, céu azul e a zoadinha carinhosa do motor da lancha.

A área “lagunar” de Maceió precisa apenas ser tratada como realmente merece. Os esgotos de fossas que descem diretamente em sua periferia; o lixo Jogado sem nenhuma compaixão; os produtos de indústrias que matam os peixes e o descaso do homem vão assassinando a Manguaba vão enforcando a Mundaú. O alagoano continua vendo trabalhos nos seus cartões postais, à prestação. Vai tudo ficando dependente da prioridade de cada governante que chega. Se um grande esforço tivesse sido feito após o dique-estrada — administração Fernando Collor — poderia aquela área está livre da eterna fedentina dos canais negros que sufocam a Levada e o Vergel. Por mais que se queira cantar a capital, esbarra-se na Levada, o Haiti do povo alagoano. Mais uma oportunidade de saneamento e urbanização estar chegando. O trem urbano que vai transformar o cenário imundo da Feira do Passarinho. Aliás, a área do mercado de Maceió, comparada com o mercado de Fortaleza (onde não se vê uma só casca de fruta no chão), nos leva a imaginar Maceió como o país falado acima. Nem precisa ir tão longe. Basta comparar apenas a Levada com a Ponta Verde. O céu e o inferno. E na lógica repetida do povão, a água só procura o mar.

Enquanto a Ponta Verde tem o metro quadrado mais caro de Maceió, investimentos e mais investimentos são atraídos para aquela área nobre. Levada, Vergel, áreas de lagoa, vão ficando com as línguas negras, com o petróleo de fezes, com as cascas de jacas, com todo o lixo produzido no mercado. E haja favela, imundície, degradação e extrema miséria nos barracos de tábuas que ficam por trás dos grandes armazéns distribuidores. Quando inventarem a palavra certa para tal situação, direi; com certeza não será DESLUMBRAMENTOS.

OS TRÊS CINEMAS (Clerisvaldo B. Chagas. 29.8.2009) Antes da telinha em casa, era prazeroso frequentar os cinemas da cidade. Cinema era ponto...

OS TRÊS CINEMAS

OS TRÊS CINEMAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 29.8.2009)

Antes da telinha em casa, era prazeroso frequentar os cinemas da cidade. Cinema era ponto de encontro dos amigos, dos namorados, dos apreciadores da sétima arte. Lá fora, o pipoqueiro rodando o veio do carrinho. Lá dentro, o barulho agradável da fita no complexo da projeção; penumbra convidativa; o primeiro beijo; a emoção do amor brotando. No ar, o rap-rap dos dentes e o cheiro flutuante de pipocas amanteigadas. A inocência, a mão boba, o pisca-pisca do “lanterninha” e as repetições das frases: “Dê licença! Dê licença!”
Maceió possuía e se esparramava em três cinemas importantes: o Plaza, no Bairro do Poço, próximo a Praça do Bonfim; o Ideal perto da Praça do Pirulito, no centro; e o Lux, no Bairro da Ponta Grossa. Cada um deles com suas nuances, juntos davam um ar charmoso a Maceió. Filme bom, filas na porta, ônibus de linha, frequentadores chegando das ruas, das praças, dos bairros. Cartazes, luzes, comentários na capital ainda provinciana. Mais tarde chegou o quarto cinema à Rua do Comércio, o São Luiz. Bonito, luxuoso, começava a desbancar os três cines tradicionais.
Quem passa atualmente perto da Praça do Pirulito, vê o esqueleto em que foi transformado o cine Ideal. Aquele símbolo da antiga Maceió, da tranquilidade, das noites de glamour, desperta arrepios, revolta e saudades. Hoje por ali: ponto de ônibus, comércio ambulante e número elevadíssimo de descuidistas por metro quadrado. O cine Lux na Ponta Grossa teve tratamento mais generoso. Reformado, virou casa religiosa. Nos últimos dias de glórias, apresentava os bang-bang italianos com casa cheia. O povo apreciava as aventuras de “Django”, “O Dólar Furado”, “O Bom, o Feio e o Mau” e outras tantas produções que agradavam sempre. Depois, até mesmo o diferenciado São Luiz adoeceu, suspirou e morreu à tradicional Rua do Comércio.
O divertimento em casa foi grudando o frequentador antigo nas poltronas sem o escurinho. E assim filhos e netos não tiveram o prazer de ter conhecido um cinema de verdade. O cine seguiu apenas o destino da onça, da preguiça, do javali... De todos os animais em extinção.
Os três cinemas de Maceió fazem parte da sua história, da sua cultura, do social. Não deveriam ter terminado assim. São patrimônios perdidos que fazem lembrar o Gogó da Ema (coqueiro mais famoso do Brasil); os carnavais da Praça Moleque Namorador; a bica da pedra; os parques de diversões na Praça de Faculdade de Medicina; os encontros da Praça do Pirulito; o folclore do Bebedouro e os banhos na praia da Avenida. Aonde iremos encontrar um condensado desses lugares, dessas histórias que correram nas veias de Maceió? Enquanto isso, quem conheceu o cine Ideal, leva um choque de lembranças ao se deparar com a carcaça.
Não sabemos sobre o Plaza e o São Luiz. Maceió, antes, violência somente nas telas dos TRÊS CINEMAS.


MACEIÓ E A PADROEIRA (Clerisvaldo B. Chagas 28.8.2009) Maceió comemorou com muita dignidade, o dia da sua excelsa padroeira, Nossa...

MACEIÓ E A PADROEIRA

(Clerisvaldo B. Chagas 28.8.2009)

Maceió comemorou com muita dignidade, o dia da sua excelsa padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres. Movimentaram-se os meios religiosos do mundo católico maceioense para merecida homenagem a sua protetora. Os devotos participaram de atos de fé nas diversas igrejas da capital alagoana. Para os trabalhadores, um feriado ou dia santo em meio de semana, valeu para um pequeno descanso, uma parada defronte a mãe de Jesus, um tempo para o lazer.

Nossa Senhora é evocada no mundo inteiro sob variadas denominações de acordo, muitas vezes, com as próprias localidades. O nome Nossa Senhora dos Prazeres vem muito antes da segunda peste que aconteceu na Europa. Em 1599, na capital Lisboa apareceu a imagem em fonte de Alcântara, na quinta dos Condes da Ilha. Com a presença da imagem, a fonte — que passou a ser chamada santa — passou a curar vários tipos de enfermidades. Com essas curas acontecendo, a imagem foi levada para a casa dos Condes e posta em oratório. Aconteceu, porém, que a imagem desapareceu do oratório e da casa, sendo depois encontrada em um poço. Nesse novo lugar, Nossa Senhora manifestou-se através de uma menina fazendo pedidos. Um deles foi para ser ali construída uma capela em sua homenagem. O pedido ia passando para os familiares da garota e à vizinhança do poço. A capela foi erguida e a imagem entronizada. Seguindo ainda o pedido de Nossa Senhora, a santa começou a ser venerada com o nome de Nossa Senhora dos Prazeres. Após essas providências perto do poço, os prodígios continuaram acontecendo.

Eis aí um resumo de origem da padroeira acolhida na capital alagoana.

Em Alagoas, a fé em torno de Nossa Senhora dos Prazeres, não ficou restrita a Maceió. Diversas cidades, vilas e povoados adotaram a santa de Portugal como padroeira dos seus lugares. Seguindo a tradição religiosa nordestina, a padroeira recebe muitas homenagens no seu dia. Acontecem missas, procissões, leilões, foguetório e movimentos profanos incorporados ao núcleo festivo. A Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres também surge em ilha no meio do rio São Francisco, no povoado Barra do Ipanema, município de Belo Monte. Ali pregava periodicamente, o Padre Francisco Correia. Família do sertão de Alagoas tem sobrenome Prazeres, originário da devoção à santa.

Ninguém ama ao filho sem considerar a mãe. Amar a Jesus é venerar Nossa Senhora sob qualquer denominação. Nossa advogada, Senhora do Mundo, que não desampara aos que evocam o seu poderoso nome. Parabéns a MACEIÓ E A PADROEIRA.