TEMA EM MARTELO AGALOPADO (Clerisvaldo B. Chagas. 20.10.2009) Um beijo escondido e matador Faz o mole virar-se em Lampião Quan...

TEMA EM MARTELO AGALOPADO

TEMA EM MARTELO AGALOPADO

(Clerisvaldo B. Chagas. 20.10.2009)


Um beijo escondido e matador

Faz o mole virar-se em Lampião


Quando o homem é maluco pela dona

Quando a dona é mais doida pelo tal

Sobe um fogo por dentro do canal

Rompe amor à paixão que tudo abona

O recato dos peitos é quem detona

Abre as asas no tiro campeão

Junta à língua o fator da gustação

Vibra o sangue escoiceia o domador

Um beijo escondido e matador

Faz o mole virar-se em Lampião


No silêncio do velho apartamento

O corpanzil revive a geringonça

Na floresta a gostosa vira onça

Nas carícias do homem mais sedento

Na soleira, na neve ou ao relento

Não há força que dome uma paixão

As correntes que prendem o coração

Jogam longe a ferrugem feia cor

Um beijo escondido e matador

Faz o mole virar-se em Lampião


No calor da saga nordestina

Os lábios são da cor de melancia

Se carnudos são fontes de poesia

Assassinos desenhos de uma sina

São armas infalíveis de menina

Molhadas das fontes do sertão

Se o poeta sofrer dessa paixão

Como eu que não fico sem amor

Um beijo escondido e matador

Faz o mole virar-se em Lampião


Os mais brancos lençóis em desalinhos

E um vulcão por dentro da ternura

Na voz embargada, uma tontura

Aromas de taças e de vinhos

Cerejas, batons, choros de pinhos

Violetas no jarro de latão

Suspiros de ais em gratidão

Muitas veias rotundas de calor

Um beijo escondido e matador

Faz o mole virar-se em Lampião

FRUTA MADURA E LULA (Clerisvaldo B. Chagas. 19.10.2009) “ Laranja madura na beira da estrada, ou estar bichada, Zé, ou tem maribon-do no pé...

FRUTA MADURA E LULA

FRUTA MADURA E LULA
(Clerisvaldo B. Chagas. 19.10.2009)

Laranja madura na beira da estrada, ou estar bichada, Zé, ou tem maribon-do no pé”. É assim que o povo fala e canta quando vê muita facilidade. So-mente quem não acompanha as transformações do mundo segue a vida paca-ta da cidade pequena. Sequer vê o tempo passar. As transformações que ocor-reram no mundo após a queda do muro de Berlim, nunca mais pararam e nem vai parar tão cedo. O bipolarismo deu lugar ao dono do mundo, o império ame-ricano, comprador de todas as bodegas do planeta. Foi preciso aparecer essa tal crise para que o gigante sedento parasse um pouco a sua investida e con-templasse por aí os estragos das besteiras. Obama veio sim como uma grande esperança, não só americana, mas planetária. Entretanto, parece que o ho-mem tão esperado ainda não se reencontrou totalmente, talvez, devido às po-derosas pressões das velhas hierarquias bestas do seu próprio país. Todas as nações invadidas pelos americanos sofrem o impacto, mas depois reagem e tornam-se invencíveis. Já discutíamos isso quando adolescentes: Entrar é fácil, difícil é sair. Quantos americanos já morreram no Vietnam, no Iraque, no Afe-ganistão? Em nenhum ganhou a guerra. É por isso que Obama ou volta ao passado para seguir a trilha de sangue de Bush, ou luta contra os poderosos do seu país, fazedores de guerra. Está o presidente tão preocupado com a sua própria imagem, que parece não ver a queda de outros muros como o seu próprio império, a moral da OEA, da ONU e do G7.
Foi por isso que o presidente Luís Inácio disse que a ONU é uma fruta ma-dura. Amadureceu, passou do ponto e cairá, como caiu o G7. Porque não tem mais moral para ordenar coisa alguma, já que a Águia americana é na verdade a própria ONU. Os Estados Unidos fazem o que querem, tem a ONU apenas para oficializar as suas vontades. É por isso que ainda reluta em ampliar e forti-ficar o Conselho, velho, podre, carcomido do tempo da II Guerra Mundial. Co-mo todos os outros países querem, ou a ONU entra em reforma ou muita coisa feia ainda vai acontecer. Esse negócio de conselho rotativo é coisa para boi dormir. Ou Conselho Permanente ou nada. Eles, os do Norte, ainda não abri-ram os olhos. O mundo com um Brasil forte, a Índia e a China, no primeiro pa-tamar, tudo muda. Não adianta americano espernear. Todos os impérios caí-ram como já foi dito aqui. Mais um é questão de tempo. Quando o Lula, esta-dista ou não, diz que a fruta está madura, pelo menos é o primeiro homem do mundo a reunir coragem para afirmar isso. Ele vê como eu vejo como os que não são cegos veem. O mundo não é mais o mesmo, uma nova ordem está sendo construída, mas tem certas arrogâncias que são tão comodistas que não enxergam o óbvio. Estão nos tronos de marfim cercados de teias de aranhas que impedem à luz solar. Mais uma vez o presidente brasileiro sai à frente nu-ma afirmação planetária de tão grande importância. A OEA E A ONU passaram a ser laranja de beira de estrada. É aprendendo na agricultura e na política A FRUTA MADURA E LULA.

CACHAÇA NO QUENGO (Clerisvaldo B. Chagas. 16.10.2009) Para os professores apologistas do folclore nordestino: Valter Alves, Fábio C...

CACHAÇA NO QUENGO

CACHAÇA NO QUENGO

(Clerisvaldo B. Chagas. 16.10.2009)

Para os professores apologistas do folclore nordestino: Valter Alves, Fábio Campos mais João de Oniel e Cecéu.

Entre os folguedos do estado alagoano, avulta-se o Guerreiro. Dependendo de inúmeras coisas, cada grupo pode variar entre 25 e 64 figurantes. O Guerreiro, com roupas vermelhas e azuis entre fitas coloridas, chapéus e espelhos, comemora o nascimento do Cristo, daí o surgimento quase sempre em época natalina. Alguns pesquisadores atribuem à origem do Guerreiro, vinda de uma dissidência do Reisado, sendo mais leve e ocupando menos pessoas. Esse folguedo teria aparecido entre as décadas de 20 e 30 do século passado. Chamam a atenção no Guerreiro, o colorido das suas vestes, as belas mocinhas que são chamadas “figuras”, o ritmo agradável, os improvisos do Mestre, também chamados de “embaixadas” e as brincadeiras dos Mateus. De qualquer forma, não cabem neste trabalho os detalhes sobre esse maravilhoso folguedo. Queremos chamar atenção apenas para a beleza dos versos de mestres talentosos. Muitos poetas célebres de Reisados e Guerreiros ainda continuam imortais em Alagoas. Algumas estrofes tornaram-se clássicas alagoanas como as seguintes:

“Ô minha gente...

Dinheiro só de papé

Carinho só de mulé

Capitá só Maceió...”

“Se eu me casar

Com mulé feia demais

O diabo é quem não faz

Todo dia ela chorar...”

Lembro da Expedita, mulherona branca e formosa chegada ao Guerreiro; era empregada na casa de meu pai. (Por onde andará a Expedita?). Gostava de cantar para mim no balançar da rede (inclusive, a estrofe abaixo foi parar em um dos meus romances):

“O avião subiu

Se alevantou

No ar

se peneirou

Pegou fogo e levou fim...”

Pois bem, deixando tantos versos bonitos de lado, resolvemos contar um caso de Guerreiro que se passou na zona rural de Penedo, segundo o subtenente Eurípedes (In memoriam). Convidado para brincar no aniversário de um fazendeiro, o grupo folclórico apresentou-se e começou a dançar até a meia-noite. O mestre era bom, tirava versos a valer e, as figuras faziam sucesso absoluto. Mas acontece que ninguém é de ferro e o mestre do guerreiro já começava a enrolar a língua pela força da “marvada”. Foi aí que alguém interferiu, dizendo ao mestre que ele já havia falado em tudo menos elogiado o dono da casa e a sua senhora. O mestre, surpreendido, arregalou os olhos e perguntou o nome do fazendeiro: “Seu Artur”. E o da dona da casa: “Dona Enedina”. E o nome da fazenda: “fazenda Urucu”. O mestre não se fez de rogado e bem que tentou uma quadrinha, mas se engrolou todo no nome da fazenda de rima parecida:

“Ô Seu Artur...

Ô dona Enedina...

Ô peça fina

Na fazenda deram o c...

Depois de a capangada quebrar tudo no cacete, dizem que o mestre do guerreiro ainda hoje corre. Alguém perguntou o que era aquilo. Outro respondeu cuspindo longe: CACHAÇA NO QUENGO!