PRESTAR ATENÇÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 21.12.2009) Sempre soubemos que as piores situações da vida deixam resíduos positivos. Assim co...

PRESTAR ATENÇÃO

PRESTAR ATENÇÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 21.12.2009)

Sempre soubemos que as piores situações da vida deixam resíduos positivos. Assim como a bateia do faiscador deixa passar a água suja e retém o ouro, as vicissitudes também deixam a sabedoria.
Vendo por um ângulo a conferência de Copenhague, foi um fracasso. Olhando por outro lado, um degrau acima. Nunca na história da humanidade houve tanto interesse e participação como no encontro da Dinamarca; nem mesmo durante e após os dois conflitos mundiais. Estamos em uma nave só, chamada Terra. Não existe uma segunda morada para o homem. Caso a ela aconteça algo, todos pagarão o mesmo preço nem que seja de forma diferente. Acontece que os ricos ainda querem manter a pose, como aquele que pensa enganar a morte mandando o outro primeiro para o cadafalso. Quando o navio submerge também vai o comandante.
Resvalando do assunto climático realizado na Dinamarca, notamos claramente a política vacilante do presidente americano. Com o congresso ou sem ele, Obama continua com sua dúbia política inicial. É como se tivesse medo de um escorrego que manchasse a elegância da vitrina. A nação mais poderosa tem um peso, sim; por isso todos esperavam melhor posicionamento naquela conferência. Entretanto, como dissemos em nossos trabalhos anteriores, o mundo já iniciou uma nova ordem que só os americanos não veem ou não querem ver, porque eles sempre ficaram dentro da bolha. As nações se fizeram ouvir. As forças intermediárias de Brasil, Índia, China e África do Sul, mostraram aos ricos que está havendo uma revolução em busca de novos assentos para lideranças globais. Os pobres também resistem. A transformação já está sendo feito e será consolidada nos próximos cinco ou dez anos. É irreversível.
O Brasil está sabendo aproveitar o momento. Ou fracassando ou não a conferência do clima, o País sai com a voz ouvida e respeitada, tanto pelos pobres quanto pelos ricos mais os seus colegas emergentes. Como disse o ministro espanhol, o Brasil já é presente de um futuro que nunca chegava. Agora a República passa a fazer o papel de ator global, queira ou não o Tio Sam. Após a rodada de Copenhague o mundo não será mais o mesmo no assentamento da poeira. E os países desenvolvidos ─ graças às explorações de colônias nas Américas, Ásia e África ─ irão sentir seus antigos escravos à porta querendo ser também sócios do mundo. A conferência para o clima deixa um leque de novas posições políticas, sociais, econômicas que irão criar sulcos profundos na Geopolítica. Se as nações pobres e emergentes saem desanimadas sobre acordos ecológicos, o ensaio dos movimentos em blocos mostra o contrário. Novas forças são incorporadas ao torneio mundial de quebra-de-braço. De agora em diante é só PRESTAR ATENÇÃO.


VIRADA NO CÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 18.12.2009) Dois Riachos é uma pequena cidade sertaneja alagoana situada no Sertão. Foi planejada...

VIRADA NO CÃO

VIRADA NO CÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 18.12.2009)

Dois Riachos é uma pequena cidade sertaneja alagoana situada no Sertão. Foi planejada para ser cidade, quando aconteciam os trabalhos de rodagem da BR-316. A primeira ponte na BR sobre o riacho Dois Riachos foi o marco da sua fundação. Atualmente a ponte não faz mais parte da BR-316, mas foi conservada e continua servindo na periferia, sendo uma relíquia e peça de museu a céu aberto. Adquirindo terras de Santana do Ipanema e de Major Isidoro, o antigo povoado Garcia, passou à condição de município de acordo com a lei estadual Nº 2238 de 7 de junho de 1960, desmembrando-se de Major. O que mais chama atenção em Dois Riachos ─ cidade com mais de 10.000 habitantes e situada a 245 metros de altitude ─ é sua feira de gado. Apresentada semanalmente entre o riacho de origem e a BR-316, a feira tornou-se a segunda do Nordeste nesse tema. Já foi motivo de várias reportagens e é hoje importante fonte de pesquisa econômica e social do povo sertanejo. Mantendo sua tradição pecuarista, o município conta anualmente com uma festa de vaquejada que atrai autoridades de Alagoas e pessoas de várias partes do Nordeste. Como orgulho maior, a cidade exibe agora uma faixa permanente na entrada, exaltando a jogadora melhor do mundo, sua ilustre filha Marta.
E por falar em Marta, quem assistiu Brasil X China, na noite da última quarta-feira, teve o prazer de verdadeiro espetáculo. Primeiro foi a própria China quem proporcionou a satisfação, por ser um país asiático com futebol e pessoas características. Depois a própria vontade de vê o futebol feminino se desdobrando. Diga-se com sinceridade, o Brasil não foi essa coisa toda no primeiro tempo; mas no segundo foi. Um espetáculo para macho nenhum botar defeito. Dois Riachos deve ter ficada eufórica diante da telinha vendo sua filha famosa fazendo misérias em campo. Cristiane foi um espetáculo à parte nessa partida do “Torneio Internacional Cidade de São Paulo”. A bonita jogadora está “comendo” a bola. Retranca chinesa no primeiro tempo, ousadia no segundo para assegurar a vaga na final, a China apenas valorizou a vitória brasileira. Com Marta fazendo dois gols (sendo um de pênalti) e Grazielle um, o Brasil fica mais fortalecido no Torneio. Quanto a Marta, deve ter enchido de mais orgulho os riachenses. Com jogadas espetaculares e encantadoras, a camisa 10 deve ter afastado de uma vez por todas a discriminação que rondava o futebol feminino. Uma Pelé de verdade. E usando a nossa expressão sertaneja nordestina emprestada à novela, estava VIRADA NO CÃO!

CONSCIENTIZAÇÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 17.12.2009) Iniciando devagar igualmente às nascentes de um rio, foi surgindo à consciência ecol...

CONSCIENTIZAÇÃO

CONSCIENTIZAÇÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.12.2009)

Iniciando devagar igualmente às nascentes de um rio, foi surgindo à consciência ecológica no mundo. Pequenos movimentos ilhas começavam a ocupar minúsculos espaços nos jornais. Outras fontes de resistência foram aparecendo e como os pequenos afluentes, foram engrossando o todo que desembocou nas grandes reuniões de cientistas. Daí em diante foi como uma explosão que atingiu em cheio a sensibilidade ecológica adormecida. Os constantes alertas sobre uma hecatombe climática no planeta não está deixando mais ninguém quieto. Todos os meios sociais falam do assunto, principalmente nas escolas do governo e particulares. Ninguém quer ficar fora dessa onda boa para salvar o mundo em que vivemos.
Agora temos a “Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas” na Dinamarca. Estão ali, além de representantes do mundo inteiro, várias ONGS, ativistas, jornalistas, pesquisadores e inúmeros curiosos vindos de todos os recantos do planeta. Mesmo sendo um país organizado, a emoção toma conta da desordem formada por uma multidão. De qualquer maneira, chegando ou não a um grande acordo, passos importantíssimos para a humanidade já foram dados. É a ocasião, inclusive, de muita gente aparecer, do famoso ao anônimo. Confusões, brigas, zoadas e cassetetes, mas com objetivos. Após essa conferência, seja como for, o mundo não será mais o mesmo.
A Dinamarca, cuja capital é Copenhague, está situada no Norte da Europa, na península da Jutlândia, banhada pelos mares Báltico e Norte. Faz parte de uma monarquia constitucional com sistema parlamentar de governo. É membro da União Européia desde 1973 e da OTAN, da qual também é fundadora. A Dinamarca pratica o governo do estado do bem-estar social. É considerado o “país mais feliz e o mais pacífico do mundo, bem assim como o menos corrupto entre as nações”. São eficientes os sistemas de Educação e Saúde. Aliás, os países nórdicos da Europa são ricos e de vanguarda.
Deixando Copenhague e se voltando para o Sertão de Alagoas, infelizmente as providências estão chegando quase tarde demais. Em alguns lugares, tarde mesmo. A caatinga original está praticamente fora do mapa. O desmatamento acelerado movido pela ignorância, aliado a omissão dos órgãos governamentais, deixou o bioma em situação caótica. Mesmo que haja um grande movimento de recuperação da caatinga, tudo indica, não escaparemos da catastrófica desertificação. Como já falamos dezenas de vezes, nós sertanejos somos os últimos a receber as novidades do progresso. Em Alagoas ─ continuamos a afirmar ─ os benefícios somem antes de descer a ladeira de Satuba rumo ao Sertão. Sempre foi assim. Não sabemos se sempre será.
Copenhague está distante. Nosso Sertão muito presente; sem onça, sem tamanduá, sem peba... Sem tatu. A bicharada foi extinta pelo desmatamento. Torcemos para que os gritos lançados na Dinamarca alcancem o Nordeste, Alagoas, o Sertão velho abandonado à própria sorte. CONSCIENTIZAÇÃO.