ÉRAMOS DEZ (Clerisvaldo B. Chagas. 29/30.12. 2009) Vai à vida seguindo seu rumo natural. E agora na crônica 176, uma forte trovoada cai ...

ÉRAMOS DEZ

ÉRAMOS DEZ
(Clerisvaldo B. Chagas. 29/30.12. 2009)

Vai à vida seguindo seu rumo natural. E agora na crônica 176, uma forte trovoada cai sobre o Sertão, acabando a feira de Santana do Ipanema. Um trovão mais poderoso que os demais apavora o mundo. Desce água copiosamente sobre as ruas e os telhados rosa da cidade. É sinal de salvação na sabedoria popular que o escritor aceita. E uma vez passada a tormenta, o canto de um galo se faz ouvir. O pedreiro na casa do escriba também interpreta o aviso animal: “Galo cantando fora de hora, professor, é coisa ruim que vai acontecer”. Estamos às quinze horas do último sábado. O escritor não responde e espera. As dezesseis e trintas um telefonema confirma o pedreiro. Neide Braga das Chagas, a doce irmã de 58 que nunca passou dos 13 anos, chegou à passagem. E a casa de Seu “Manezinho Chagas”, acusa mais uma baixa no montante de dez irmãos. E a Rua Antonio Tavares, de luto pelo companheiro de infância mecânico “Cícero de Ambrosina”, adiciona “Dona Florzinha”, figura popular e antiga no trecho. E novamente ─ num espaço curto de tempo ─ a rua contabiliza a partida de Neide. A moça de 58 anos, vítima de meningite aos 13, nunca mais deixou de ser criança. Muita querida na rua e adjacência, uma voz no coral da Igreja Matriz de Senhora Santana, Neide calou todas as suas interrogações. Em manhã abafada de domingo, segue num ataúde branco como branca, sem mácula foi a sua vida. Entre flores e cânticos vai recebendo as últimas mensagens pela existência pura e santa. Curvas, retas, colinas e a derradeira morada no abrigo Santa Sofia. Vai repousar ao lado da mãe Helena Braga das Chagas e do mano José Almir. Ficamos nós, irmãos e irmãs marcando nos corações as perdas familiares. De cinco homens, um já partiu. De cinco mulheres, um novo adeus. E a crônica diária obrigatória sai. Mas sai capenga, vestida de negro, abafada, forçosa, sangrando o peito atingido. É possível sim, diz a fé, a existência de um lugar melhor para os limpos. Uma recepção calorosa, entusiasta dos que foram à frente. Dos amigos, dos conhecidos, dos pecadores que ornaram a amizade. O outro lado há de entrar em júbilo ao acusar o êxito final de missão cumprida. E Neide irá ainda ao desfile, inebriante, mas feliz ao lado de tanta gente conhecida.
A Rua Antonio Tavares fica às escuras. Vão retirando-se de cena personagens marcantes que ornamentaram a via. Uma saudade longa na casa de “Seu Manezinho Chagas”; Uma geral tristeza que sufoca. E as nuvens chumbos e mensageiras trocam a roupagem no domingo pós. O céu se enfeita num azul suave de nuvens rendadas; um céu amigo, complacente, acolhedor, receptivo, às boas almas.
É preciso fechar a cortina para novos atos, no teatro da existência. São aplausos à decisão divina na rosa-dos-rumos, na sabedoria eterna. A Terra esvazia uma cadeira, o céu ganha mais uma estrela. É mais um brilho a iluminar os passos desencontrados da humanidade.
Agora somos apenas oito, mas no tempo recuado ÉRAMOS DEZ.

Nota: Por problema no provedor, não foi apresentada crônica na segunda.

UMA BOIA AOS NÁUFRAGOS (Clerisvaldo B. Chagas. l6.12.2009) Neste início de verão, recebo telefonema de um amigo solicitando os préstimos ...

UMA BOIA AOS NÁUFRAGOS

UMA BOIA AOS NÁUFRAGOS
(Clerisvaldo B. Chagas. l6.12.2009)

Neste início de verão, recebo telefonema de um amigo solicitando os préstimos do espaço. Essa pessoa bem sucedida financeiramente tornou-se alcoólatra, conseguiu sair da situação, voltou à bebida e agora tenta segurar-se definitivamente. Resolvendo socorrer a si mesmo e ao próximo, dedicou-se a divulgação dos Alcoólatras Anônimos - AA, com denodo e fé. É muito fácil cair na esparrela da bebida, difícil é sair da armadilha. Um gole hoje, outro amanhã, um fim de semana embriagado, o encontro com os amigos e finalmente o domínio absoluto da aguardente... Da cerveja. Uma vez viciado, as companhias passam a ser somente de outros viciados. Assim vem as dívidas, a perda de emprego, as desavenças em casa, a depressão... A consciência do fracasso. Não raras vezes são as brigas no trânsito, os assassinatos pela intolerância e a própria vergonha de não encontrar forças para reagir.
Santana do Ipanema, Maceió, Arapiraca e quase todas as cidades brasileiras contemplam com tristeza grupos de jovens dedicados ao vício da embriaguez. Ao ser advertido, o rapaz costuma sempre dizer que não é alcoólatra, que bebe apenas uma cervejinha em final de semana. Mas se ninguém da família tiver pulso forte para afastá-lo dos bares, o futuro não é de maneira alguma promissor. Tenho alertado parentes a amigos para o maléfico, mas fiquei impressionado com a força de luta pelos demais, através do amigo do telefonema. Prometi uma crônica sobre o assunto e estou contribuindo com o que disponho. A palavra amiga e orientadora no espaço reservado.
Entre inúmeros conselhos do meu velho ─ vez em quando citados alguns nesses escritos ─ estava um sobre os vícios. Dizia ele: “quando o homem resolver deixar um vício qualquer, a primeira providência é conversar com Deus e pedir ajuda. Com Deus tudo, sem Deus nada. Não se vence o vício sem ajuda de Deus". Agora para complementar o amor pelos que sofrem, surgiu o AA, refúgio e orientação para os apanhados pelo vício da embriaguez. Em Santana do Ipanema o AA já funcionou em outros lugares e, se não me engano, passou algum tempo sem um ponto fixo. O meu amigo pede para que divulgue o endereço e dias de reuniões. O AA está funcionando no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, no Bairro Camoxinga (vizinho ao Hospital Dr. Arsênio Moreira) em Santana do Ipanema. As reuniões acontecem as terças e as sextas às 20 horas. Para informações sobre o AA, é bastante dirigir-se ao Sindicato Rural nos dias e horas estabelecidos. A frase de mão estendida dos Alcoólatras Anônimos é: “Se você não quer deixar de beber, o problema é seu; se quiser parar de beber, o problema é nosso”. Em Olho d’Água das Flores também existe um AA em funcionamento. Se você é alcoólatra, salve sua vida antes que seja tarde, procure o lugar certo. Mas se você apenas conhece um amigo, um companheiro precisando de ajuda, leve-o ou o encaminhe a uma reunião do AA, UMA BOIA AOS NÁUFRAGOS.

FELIZ NATAL E ATÉ SEGUNDA-FEIRA!

AA. Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Bairro Camoxinga, Santana do Ipanema, Alagoas. Reuniões as terças e sextas às 20 horas.

CONTINUAR A JORNADA (Clerisvaldo B. Chagas. 22.12.2009) Sendo esta a semana do Natal, nada mais gratificante de que a reportagem da Rede...

CONTINUAR A JORNADA

CONTINUAR A JORNADA
(Clerisvaldo B. Chagas. 22.12.2009)

Sendo esta a semana do Natal, nada mais gratificante de que a reportagem da Rede Record, com o título: “Os Sete Milagres de Jesus”. Um presente máximo para quem se interessa pela religião. Curiosidades sobre a parte física da antiga Palestina onde viveu o Mestre. A apresentação aconteceu domingo passado à noite, com segurança e didática dignas dos maiores elogios. Afinal, muita gente esquece o verdadeiro dono da festa que o deus comércio quer trocar por Papai Noel. Para muitos cristãos supérfluos, o velhinho europeu é quem tudo comanda numa fantasia exagerada que supera o sentido do Nascimento. O mal não está em reconhecer o ancião de barbas brancas, está em elevá-lo ao pedestal que não é dele. Jesus está em poucos lares, Noel em todas as vitrinas. E se os adultos esquecem quem os convidou para os festejos, imaginem as crianças ansiosas pelos embrulhos.
Lembramos perfeitamente de duas coisas marcantes na adolescência. Havia duas farmácias importantes em Santana do Ipanema que chamavam atenção com objetos à parte. Uma delas era o busto de um negrão lustroso envergando resistente barra de ferro. Essa estatueta fazia parte de propaganda de certo xarope e já foi motivo de crônica neste espaço. O outro objeto era um cartaz com alegoria sobre a porta estreita e a porta larga que se tornou tradicional na Farmácia Vera Cruz. O motivo era uma alusão ao comportamento humano com a advertência: “Entrai pela porta estreita”. A preocupação consumista parece que vai tornando a porta estreita mais estreita ainda. E como “A” puxa “B” e “B” puxa “A” de novo, não custa nada lembrar a passagem de Jesus na casa de duas amigas. Enquanto ele palestrava sobre a vida com uma delas, a outra se preocupava em cuidar da casa. E a segunda recebeu amistosamente uma advertência sobre o que era mais importante.
Dizia Nelson Gonçalves em uma das suas belíssimas canções:

“Esses moços
Pobres moços
Ah se soubessem
O que eu sei (...)”.

Não, não somos contra a fantasia do Papai Noel. Mas não podemos esquecer que é para o filho de Deus todo o aparato, toda honra e toda glória dos preparativos de dezembro. Quem conhece a sugestiva frase de lameira de caminhão: “Eu não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono”? Bem elaborada, não? Ah, com seria bom se esse reconhecimento também fosse feito no Natal!
É tempo de reflexão; de um balanço profundo nos proveitos e desperdícios de 2009. E que as lembranças das boas semeaduras não aconteçam somente na missa do galo, na leitura da porta estreita ou em lameira de caminhão. “Ah esses moços (...)”. Vamos CONTINUAR A JORNADA.