MOLION NÃO É MOLE (Clerisvaldo B. Chagas. 25.1.2010) Vivemos uma época em que os valores vão sendo substituídos por lixos de toda quali...

MOLION NÃO É MOLE

MOLION NÃO É MOLE

(Clerisvaldo B. Chagas. 25.1.2010)

Vivemos uma época em que os valores vão sendo substituídos por lixos de toda qualidade. Ficamos procurando esses valores sufocados por essa onda negativa que, como a neblina encobre os vales, mascara também as pessoas brilhantes nas mais diversas atividades do conhecimento humano.
Já havíamos ouvido falar no Prof. Molion, várias vezes. Uma das últimas foi quando uma pessoa de Arapiraca contava entusiasmada sobre uma palestra ministrada pelo professor. Molion, ultimamente vem aparecendo com mais frequência na mídia alagoana, falando sobre o tempo e dissertando cientificamente suas previsões. Mas uma dessas noites, ao ligarmos certo canal de televisão, aleatoriamente, reconhecemos o Prof. Molion cercado por feras do jornalismo brasileiro. O assunto debatido era o aquecimento global, quando o Professor, “atacado” em todos os ângulos, se defendia muito bem e com tranquilidade de quem conhece profundamente o que está debatendo. O Professor Luiz Carlos Molion tem quarenta anos de estudos climáticos e leciona na Universidade Federal de Alagoa – UFAL. Além disso, Molion tem pós-doutorado em Meteorologia e representa a América Latina na OMM-Organização Meteorológica Mundial. A cada investida dos jornalistas sabatinadores, o telespectador imaginava não haver saída para o representante alagoano. Eis que o cientista da “Terra dos Marechais”, respondia numa calma toda dele e com tremenda base de segurança. Estavam ali aqueles jornalistas interrogando como se fossem representantes de todos os outros cientistas da terra, numa corrente contrária a Molion. E, se palavras provam, o alagoano provou que todos os outros colegas do mundo estavam errados. O debate envolveu diversos aspectos do clima, o desmatamento, os efeitos do carbono, o aquecimento, as ações do homem e da natureza e muito mais. Não queremos dizer que o ilustre Professor esteja certo ou errado nos seus estudos e teorias, mas que o professor Molion deu um verdadeiro espetáculo, isso deu. Paulada de um lado, paulada de outro, e Molion absorvendo firme e quebrando os tacos a ele dirigidos. E o melhor de tudo, descobriu-se no meio do nevoeiro mais um alagoano que honra a profissão que abraçou; um valor expressivo dentro de um estado cheio de podridão, que faz até lembrar a “lanterna” do filósofo Diógenes. Durante o debate apresentado pela televisão, comparamos com o duelo de estréia do repentista Zé de Almeida em Paulo Afonso, Bahia:

“Já cantei com Manoel
E agora canto com Jó
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no mei’ me defendendo
Com um taco de mororó”

Como foi dito, não sabemos se o Professor estava certo ou errado, porém, Alagoas deve estar orgulhosa do seu cientista professor de Climatologia. Quem quiser que duvide, mas MOLION NÃO É MOLE.

“DEUSES DE MANDACARU” (Clerisvaldo B. Chagas. 22.1.2010) ANTES DA LEITURA Carlos Moliterno Seja qual for o seu conteúdo — e há realm...

"DEUSES DE MANDACARU"


“DEUSES DE MANDACARU”

(Clerisvaldo B. Chagas. 22.1.2010)

ANTES DA LEITURA
Carlos Moliterno

Seja qual for o seu conteúdo — e há realmente uma variedade de temas dentro do romance — ele representa uma das grandes aventuras da inteligência do homem.
Os teóricos sempre tentaram estabelecer regras e limites para a sua elaboração, mas o problema continua discutível e controvertido, e embora algumas fórmulas tenham sido estabelecidas, elas não conseguem englobar “a totalidade extensiva de vida que ele reúne”, na opinião de Temístocles Linhares, o excelente ensaísta paranaense.
Na verdade, o que o escritor deseja mostrar, na urdidura de um romance, é o homem, visto dos seus vários ângulos, dentro da sociedade que o cerca e da qual ele é a peça mais importante. E realmente, não há gênero que o identifique de maneira mais objetiva do que o romance.
Aí, ele aparece de corpo inteiro, revelado nas suas características psicológicas, na sua posição social, nos seus conflitos cotidianos, na sedução e no desencanto, na alegria e no desespero, que são sempre os ingredientes da vida, hoje como antes.
São estas as divagações que nos ocorrem, após a leitura dos originais do romance de Clerisvaldo B. Chagas, intitulado “Deuses de Mandacaru”. O livro focaliza um episódio histórico, que se inicia na velha cidade de Olinda, dos tempos dos holandeses, e chega à época atual, principalmente ao cangaço que imperou nos sertões nordestinos.
E desse episódio histórico resultou a existência de um tesouro recolhido dos holandeses, em Olinda, e transportado para Penedo e em seguida para Santana do Ipanema, terra do romancista.
Nesse itinerário do tesouro, o autor desenvolve sua trama, focalizando várias épocas, ilustrando-as com uma movimentação de personagens, que dão ao romance um clima de aventura, de conflito, de dramas pessoais, e tudo isso dentro de uma atmosfera em que os numerosos fragmentos da história revelam a crônica de cada época.
Há neste livro tipos bem marcados como o de João Paulista, sertanejo e machão, de Levino e de Maria Pilar, todos eles levantando os seus próprios problemas, na revelação das suas próprias identidades. E diga-se, também, não se esqueceu o autor de nos mostrar, com uma relativa clareza, os mais escondidos sentimentos de suas personagens.
Já se disse que no desdobramento de uma história romanesca as explicações são desnecessárias. É possível que esse conceito se aplique a determinado tipo de romance. Neste de Clerisvaldo B. Chagas, cujo fundo repousa numa espécie de crônica de época, as explicações são sempre desejáveis, e elas servem para dar relevo ao roteiro da história. Também seus diálogos são explicativos e bem conduzidos, deixando o leitor em situação confortável para acompanhar os conflitos e descaminhos dos personagens.
“Deuses de Mandacaru” é mais um romance de escritor alagoano que vai conseguir um lugar em nossa história de ficção.
Nota: Romance inédito e engavetado há bastante tempo.
Nota 2: Encerramos aqui a série de palavras de apresentadores das nossas obras. Segunda, voltaremos com as crônicas normais.

“DEFUNTO PERFUMADO” (Clerisvaldo B. Chagas. 20.1.2010) PROF. Ernani Otacílio Méro (Escritor) Recebi, com espanto até, do meu caro am...

"DEFUNTO PERFUMADO"


“DEFUNTO PERFUMADO”

(Clerisvaldo B. Chagas. 20.1.2010)

PROF. Ernani Otacílio Méro
(Escritor)

Recebi, com espanto até, do meu caro amigo Clerisvaldo Braga das Chagas, como ele mesmo afirma: “o meu Defunto Perfumado”.
Realmente, não sou um perito em avaliar um romance, todavia, a confiança do amigo em um simples escrevedor de histórias me faz aceitar o desafio.
Li com aquela certeza, pois já conhecia o seu primoroso e agradável “Ribeira do Panema”, de que iria ter em minhas mãos mais uma produção vitoriosa de Clerisvaldo, essa inteligência nova, taluda e ousada no bom sentido.
Conforme afirmam os críticos, duas linhas existem dentro da temática do romance brasileiro ─ a regional e a psicológica. Duas correntes da literatura nossa abraçaram as temáticas acima citadas, ou seja: o Romantismo e o Modernismo.
No Modernismo, vamos encontrar uma preocupação pela narrativa abrangente de um “status” urbano social, onde o leitor acompanha, envolvido pela narrativa, todo o desenrolar de fatos que o leva a sentir uma realidade social vivida.
O que seria ─ DEFUNTO PERFUMADO ─ a não ser um romance que sai da pena talentosa de um jovem dentro da linha da narração segura e clara de fatos que envolvem toda uma situação, toda uma época vivida na região de sua tão decantada e simpática ─ SANTANA DO IPANEMA ─ .
A sequência dos fatos narrados é feita com alma e poesia, impulsiona o leitor a prosseguir, pois, cada página é uma motivação à curiosidade de tomar contato com o que segue.
DEFUNTO PERFUMADO, dentro de uma linha narrativa, é envolvente e joga com os nossos sentimentos levando-nos até a um comportamento de revolta diante de certas cenas, ou, a momento de total paz espiritual quando Clerisvaldo nos pinta com alma:
“O vento acalentava os galhos mais finos das árvores. A noite prosseguia. E às vezes pensava-se que o frio da madrugada cantava com o sertanejo as mais doridas paixões:

─ Meu amô se foi embora
Num sei quando vai vortar
Meus óio choram com raiva
Da saudade a mim matar”.

Toda a narrativa histórica, feita com alma e poesia de DEFUNTO PERFUMADO”, fala, e o faz com eloquência, do valor e da pontencialidade criativa desse jovem escritor que já está entre os nomes maiores, apontando, não há como negar, como ─ valor expressivo ─ do romance histórico em terras das Alagoas.
Não posso e não devo ir além em minhas observações. Não sou, volto a afirmar, o apontado para falar sobre esta obra que me caiu às mãos para fazer uma apresentação. Li por mais de uma vez e ficava até meio aborrecido quando tinha que interromper, pois cada página é um convite, um estímulo, para continuar.
Clerisvaldo, com sua inteligência jovem, consegue empurrar o leitor para não soltar de suas mãos o ─ DEFUNTO PERFUMADO ─ que é mais perfumado pelo sabor “gostoso” do estilo suave, envolvente e poético, do que mesmo pelo “aroma” que continua envolvendo o misterioso serrote.
FIM.

Adalberon Cavalcante Lins (Escritor)-(“Curral Novo”, “Sidrônio”, “Caminhos Incertos”, “O Tigre dos Palmares”): “Ninguém se espante, pois, se em breve tempo Clerisvaldo estiver entre os maiores romancistas do Brasil”.

UM ROMANCE FORTE

“Defunto Perfumado” não é apenas mais um livro nordestino. É sobretudo um romance corajoso, cru, cheio de nuances imprevisíveis onde o misticismo junta-se ao sexo, a violência... Ao lirismo.
O desenrolar dos fatos é descrito com rara fidelidade por um escritor que nasce e vive mergulhado no mesmo cenário dos seus personagens: a misteriosa e difícil caatinga cheia de cactáceas, pelo dia, e à noite banhada em fecundos inpiradores luares.
Pelo seu estilo “turbulento e macio”, Clerisvaldo B. Chagas, autor de “Geografia de Santana”, “Carnaval do Lobisomem” e “Ribeira do Panema”, diz realmente a que veio e toma, sem dúvida alguma, seu lugar definitivo ao lado dos grandes autores das Alagoas.

José Conrado de Lima
Cadeira de História
da
Faculdade de Filosofia de Arapiraca

Nota: Livro publicado em 1982.
Nota 2: Grifos nosso (A).