PUNHAL ENFERRUJADO (Clerisvaldo B. Chagas. 22.2.2010) BLOG DO AUTOR: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/ Em Santana do Ipanema, décad...

PUNHAL ENFERRUJADO

PUNHAL ENFERRUJADO

(Clerisvaldo B. Chagas. 22.2.2010)

Em Santana do Ipanema, décadas 50/60, havia um doido conhecido pelo vulgo de “Coleta”. Lembramos muito bem da sua figura alegre usando chapéu de palha quebrado nas laterais. Coleta costumava fazer o trecho do Largo da Feira, entre o mercado de carne e a Igreja Matriz de Senhora Santana. Sua parada predileta era na padaria de Isaías Rego, onde recebia seus admiradores. Ninguém mexia com o doido, apenas falava animado com ele e, Coleta respondia fazendo gestos de esfaquear. “Olhe o punhal velho enferrujado!”
Ainda refletindo sobre a política, ficamos admirados com o vigor físico dos candidatos. O postulante a vereador percorre todos os sítios existentes na área rural e todas as ruas da cidade. Esse conhece, sem dúvida alguma, as bibocas do sertão e sabe exatamente onde o cão dorme, cochila e come. Uma vez eleito, com prestígio ou sem prestígio do Executivo, naturalmente continua suas peregrinações. É que o edil não tem nada a perder. Se conseguir realizar os pedidos dos eleitores, fica feliz; se não conseguir, escora-se na doce vingança de atribuir a falta ao chefe do município. Tirando os eleitores mais exigentes, os outros se conformam com apenas a presença da autoridade, como sinal de bom relacionamento.
Por outro lado tem o candidato a prefeito. Esse é guiado pelos vereadores ou postulantes pelas estradas, trilhas e veredas. Se não tem energia, arranja, mas vai percorrendo vales, grotas e montanhas na ansiedade febril de conquistar os munícipes. Além do gasto exorbitante do real, as promessas miraculosas levam finalmente o indivíduo ao éden insistentemente desejado. Uma vez com seus paramentos na cadeira fofa, a lógica se inverte como as gangorras da nossa juventude. Antes, uma pessoa preocupada com o porvir do município e o bem-estar dos cidadãos; um futuro empregado do povo, pago para administrar honesta e corretamente seus bens. Agora, um reizinho a mais no emaranhado político do País. Uma autopromoção a dono do município, patrão de todos e não mais gerente do povo. Na campanha podia, agora não pode mais aumentar salário, nem promover a Cultura, nem assegurar a Educação... Nada pode. Contudo, apresentar bandas caríssimas em espetáculos de macaquices com o dinheiro do contribuinte, pode. Em geral não existe uma equipe, existe um bando que freneticamente imita o ritmo sem parada das saúvas cortadeiras. Pobre reino de César, de Calígula, de Nabucodonosor... De fulano de tal. Final de mandato, malas arrumadas, voos para chácaras, fazendas, Europa... E o eleitor que recebeu uma onça ou outro bicho qualquer, cabisbaixo, humilhado, desmoralizado, se levantar a cabeça vê somente passar o rabo do avião. O bando se desfaz e fica cada um a espera de qualquer outro chamado para novo saque.
Não se preocupe meu amigo. Nada disso que foi dito acima é verdade. É apenas ficção de romancista. No sertão do Nordeste brasileiro não ocorre isso não. Mas, se você tem dúvidas, nas próximas eleições, ao abrir a porta para quem bate, fique atento; pode ser um “Coleta” travestido: “OLHE O PUNHAL VELHO ENFERRUJADO!”

LÁ VEM O VELHO FÉLIX (Clerisvaldo B. Chagas. 19.2.2010) (Blog do autor: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com) Diga conosco: “Lá vem o...

LÁ VEM O VELHO FÉLIX

LÁ VEM O VELHO FÉLIX

(Clerisvaldo B. Chagas. 19.2.2010)
(Blog do autor: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com)

Diga conosco:

“Lá vem o velho Félix
Com o fole velho nas costas
Tanto fede o velho Félix
Como o fole do velho Félix fede.

Esse fraseado todo se chama trava-língua. Essa linguagem curiosa sempre foi motivo de brincadeiras entre amigos. O trava-língua também foi muito usado entre os cantadores de pagode, emboladores e até por repentistas-violeiros. Ninguém acha fácil fazer uma leitura de trava-língua, quanto mais cantá-lo.
A política brasileira é interessante, tanto no todo quanto na forma regionalista, principalmente no Nordeste dos antigos coronéis. Até certo tempo atrás, na segunda metade do século XX, caso um prefeito não tivesse em sintonia com o governador, teria como certo um poderoso adversário para lhe fazer sombra e raiva. O chefe-político era essa figura que, por um lado, aliviava os seguidores da oposição, por outro, roubava completamente o prestígio do prefeito. Nesse caso havia quase sempre dois mandatários no município: o de fato e o de direito. Quando o eleitor não conseguia um favor com o chefe do executivo, recorria ao chefe-político que apelava para o governador.
Mas existe outra coisa também interessante na política. Quem entra fica deslumbrado com o poder, as mordomias, as facilidades e as bajulações. Não quer sair mais nunca da arte de governar. É como se tivesse ganhado um pedacinho do céu que, para defendê-lo, usa unhas, dentes, coices e mordidas. O leitor procura gente nova, jovens idealistas inteligentes e capazes, mas quando esses jovens aparecem, quase sempre é a continuação genética dos poderosos. A grande maioria não tem aptidão nenhuma de governar o povo. Mas o tronco velho insiste em colocar o rebento no mesmo ramo. Se puder, coloca também a empregada, o papagaio, o cachorro porque tudo significa dinheiro e poder. A próxima eleição, a próxima e a próxima, são os mesmos, os mesmos e os mesmos. O político brasileiro não procura servir ao seu povo, mas sim, servir-se do povo. Qualquer profissional como um médico, um professor um empresário, como exemplo, tira o seu tempo de mandato e não quer mais voltar à antiga profissão. Não já ocupou o cargo público? Por que não dá vez a outro? Não, o político de primeiro mandato começa a tratar a política como emprego permanente. Lembrando as eleições passadas, só os políticos profissionais tinham oportunidade. Homens e mulheres de outros segmentos debateram em vão os problemas do estado. Enquanto não houver rigorosas punições para os desvios de conduta, como nos países desenvolvidos, os velhos continuarão criando novas raízes igualmente às bananeiras. Você quer votar nas próximas eleições para governador, deputado, senador? Prepare-se para votar nos mesmos. Ô sina triste dos nordestinos. Pior de que a situação de Cuba: sem liberdade de escolha, mas sem corrupção. Pode ser até que um novato quebre o círculo. Você acha fácil? Então diga conosco: LÁ VEM O VELHO FÉLIX...






NA PELE DO TIGRE (Clerisvaldo B. Chagas. 18.2.2010) Para louvar a Deus durante o Carnaval, foi fundado há bastante tempo o retiro dos home...

NA PELE DO TIGRE

NA PELE DO TIGRE
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.2.2010)

Para louvar a Deus durante o Carnaval, foi fundado há bastante tempo o retiro dos homens em Santana do Ipanema. Tendo à frente o bíblico da Paróquia de São Cristóvão, José Vieira (de saudosa memória) tornou-se realidade o objetivo de louvar ao Senhor, em local distante da influência carnavalesca. Assim foi escolhido o sítio Tigre, no Município de Maravilha, às margens da BR-316 e do riacho topônimo do sítio. Indo no sentido Santana─Paulo Afonso, o açude está localizado à direita da BR, ficando o acampamento no lado oposto. O riacho passa banhando o local, deixando um recanto com pedregulhos e árvores frondosas. Ali, o grupo do senhor José Vieira organizou o terreno que possui várias árvores naturais e outras plantadas. Foi construída capela, banheiro, coreto e outras dependências.
Durante a época da folia, os homens se cotizam e compram alimentos em grande quantidade. São levados para o lugar, cozinheiros e auxiliares, não faltando comida a qualquer hora do dia ou da noite. A animação é grande e entre rezas, brincadeiras e descansos, os objetivos são alcançados. Lá para trás ficam as cozinhas de alvenaria e ao ar livre. Na entrada fica a capela à disposição. No centro, o coreto de estudos, orações e debates. Ao lado, as árvores às margens do riacho Tigre. Existe uma ala onde se improvisam os barracos para armações de redes. Muitos se protegem do vento e da chuva naqueles abrigos, mas, quem quer, pode dormir em outro local isoladamente. São quatro dias agradabilíssimos, onde os cristãos católicos renovam suas energias e aperfeiçoam a parte espiritual. Às vezes afluem ao retiro centenas de homens (a maioria de Santana) vários vindos de outros municípios e até de Pernambuco com ônibus lotado. Comida farta, brincadeiras, pesquisas, debates, rituais... São encerrados com a vinda de um padre para confissões e missa. O retiro do Tigre tornou-se tradição do mundo católico de Santana do Ipanema.
Estivemos no retiro há alguns anos, infelizmente saindo antes do encerramento. Na época, comandavam o encontro os senhores José Vieira e José Nogueira, veteranos da Paróquia. Em geral, a pessoa que nunca foi ali, poderá ser convidada por qualquer um daqueles frequentadores. Mas desejando participar desse magnífico encontro no próximo ano, cremos, é procurar informações na Igreja Matriz de São Cristóvão. O saudoso José Vieira também foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana do Ipanema e teve participação ativa, junto a José Nogueira, na fundação do Centro Bíblico da Paróquia, além de ser compositor sacro dos movimentos bíblicos do Município. Vale à pena para quem não pula Carnaval, esse encontro tão gratificante que enche a alma de paz e alegria. Foi um dos melhores que participamos até o presente momento. É a ocasião exata de fugir da violência urbana e se refugiar por inteiro na PELE DO TIGRE.