NINGUÉM TEM RAZÃO (Clerisvaldo B. Chagas. 8.3.2010) No início da ditadura militar brasileira, Humberto de Alencar Castelo Branco foi muit...

NINGUÉM TEM RAZÃO

NINGUÉM TEM RAZÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 8.3.2010)

No início da ditadura militar brasileira, Humberto de Alencar Castelo Branco foi muito visitado. Dizem que em uma dessas visitas, foi um usineiro (antigo senhor de engenho) endividado, pedir empréstimo. Teria dito duramente o militar que ele vendesse uma das três usinas que possuía e pagasse sua dívida, sem precisar de empréstimo. Isso acontece muito entre as pessoas singelas e de boa índole da área rural. Estando em dívida, o agricultor defende-se com a venda de um bode, um porco ou uma vaca para saldar o compromisso. É duro e contraproducente, porém, quando o cidadão desequilibra-se em suas finanças e possui apenas a casa de morada. A sugestão de que venda o seu abrigo, a casa dos seus filhos e esposa (e às vezes netos), faz calar fundo o homem honesto. Não raro o credor é rico e bem poderia aguardar a recuperação do seu semelhante. O motivo social e psicológico que levaria o pai de família a ser expulso da própria casa juntamente com os filhos, é de cortar coração. Mas há quem cobre até o sangue daquela vítima cheia de boa vontade.
O caso individual acima citado faz lembrar o que estar acontecendo com a Grécia. Esse país que faz parte da União Europeia, endividado, enfrenta no momento, uma crise financeira e social que mexe profundamente consigo e com o continente. Procurando saída para essa situação, aquele admirável país que tantos serviços prestou a civilização ocidental (ver crônica: “Falando Grego”), agora é motivo de brincadeira. Prevíamos aqui a reação da Alemanha, carro-chefe da Economia da UE. Por sugestão de representantes do partido de coalizão de centro-direita da chanceler Ângela Merkel, foi publicada no jornal Bila a brincadeira-verdade. Sugere líderes que a Grécia venda uma ou mais ilhas para pagar o que deve. A nossa reação foi muito antes do pronunciamento do primeiro-ministro grego George Papandreau: “Não é sugestão séria. Há formas mais imaginativas para lidar com déficits do que a venda de ilhas gregas”, reagiu Papandreau. Se a sugestão fosse ao nosso país, seria incentivo para vender as ilhas do Bananal, de Marajó, de Fernando de Noronha ou parte de estados brasileiros. Nenhum país abre mão de parte de seu território para pagar dívidas. É incrível que essa sugestão tenha vindo de uma das nações mais ricas do mundo. Pedaços do torrão pátrio, só deixam a tutela se forem arrebatados em guerras como a Califórnia, o Texas, o Novo México e partes da Palestina. A Grécia é composta de continente e ilhas que formam uma nação. Qual a pessoa que quer se desfazer de um braço, de uma perna, de um olho, para pagar dívida? A Alemanha não foi feliz no seu pronunciamento. Louve-se a atitude diplomática do ministro grego George Papandreau. Se fosse aqui em Santana, na Câmara Municipal, mandava-se logo tomar vergonha na cara, mas o caso foi muito distante da terra do rio Ipanema. Isso nos faz lembrar o ditado popular: “Na casa em que falta o pão, todos falam e NINGUÉM TEM RAZÃO”.

Ô MUNDO VELHO (Clerisvaldo B. Chagas. 5.3.2010) Para os colunistas Avelar, Malta Neto, professor Valter Filho e o radialista Flávio Henriqu...

Ô MUNDO VELHO

(Clerisvaldo B. Chagas. 5.3.2010)
Para os colunistas Avelar, Malta Neto, professor Valter Filho e o radialista Flávio Henrique

Quando os escravos ganharam a liberdade no Brasil, houve um momento de euforia, logo seguido de tristeza. Os senhores das terras – com suas mentes rancorosas – diziam aos negros, não aceitá-los mais ali. Se eles estavam libertos, procurassem novos rumos. Assim, os pretos que trabalhavam sol a sol e eram castigados nas desobediências, pelo menos tinham abrigo e comida. Com a liberdade assegurada, os ex-escravos não sabiam como aproveitá-la. Expulsos das fazendas dos patrões, sem terras para cultivar, formaram levas de mendigos pelas ruas de povoados, vilas e cidades. Um dos mais tristes e vergonhosos episódios da história do Brasil.
Após a Segunda Guerra Mundial, também houve uma libertação em massa dos países africanos. Quando os donos do mundo se retiraram da África, deixaram aqueles povos piores do que a situação dos ex-escravos brasileiros. É que tribos inimigas ficaram dentro de um mesmo país e aldeias amigas ficaram separadas. Ainda hoje o continente sofre as consequências de ambas as coisas: a exploração do início e o abandono do depois. Como no Brasil, sem técnicas agrícolas, sem recursos, sem instruções, os africanos se prolongaram em infinitas guerras tribais. Muitos desses embates tiveram suas armas financiadas pelas ex-metrópoles. Em alguns lugares da África o jovem morre antes dos trinta anos, de AIDS, de fome ou de tiros. Os brancos da Europa pareciam dizer: “Eles que se acabem; quem vai se meter em brigas de negros e pobres”.
Pois foram essas populações de negros e pobres que incomodaram a fatia rica com as imigrações clandestinas em busca de melhores dias. Se os países desenvolvidos e imperialistas europeus tivessem deixado a África estruturada, hoje teriam ali uma grande reserva alimentar para exportação. Não estamos nos referindo as plantations de algodão, amendoim, cana e chá. Como alimentar a Europa agora e no futuro? Olhem a falta que faz o continente africano com cerca de trinta milhões de quilômetros quadrados (quase quatro vezes maior do que o Brasil) se tivesse sido incentivado a produzir. Mas o que apareceu foi apenas o fomento das guerras tribais e a ganância pelo trono. Em um planeta onde parte dele tem como solidariedade o brilho das armas ao invés do reluzir da razão, tem mesmo que sofrer as consequências da Natureza.
A presença do Brasil na África parece aplicar uma lição diplomática aos responsáveis pela situação em que deixaram o “berço da humanidade”. O esporte, agora com a copa do mundo no país mais meridional daquelas terras, talvez desperte as consciências nubladas mais do que nunca. É que ainda existe a tentativa de esconder a face como no teatro grego. Com certeza não será em vão a luta do bispo Desmontutu, de Nelson Mandela e de outros gigantes negros e iluminados, cujos exemplos percorrem savanas, florestas e desertos. De que vale o tempo se o Século XXI continuar semelhante ao XIX? Sim, esse mundo é de expiação, onde se misturam bons espíritos e degredados, mas o que fazer? Nele estamos e por ele lutaremos com suas virtudes e desigualdades que tanto incentivam o bem quanto o mal. Ô MUNDO VELHO!
Nota: Use o Mural de Recados do Blog.

CHIBATA NO LOMBO (Clerisvaldo B. Chagas. 04.3.2010) No Brasil , os castigos corporais na Marinha, foram abolidos um dia após a proclamação ...

CHIBATA NO LOMBO

CHIBATA NO LOMBO

(Clerisvaldo B. Chagas. 04.3.2010)
No Brasil, os castigos corporais na Marinha, foram abolidos um dia após a proclamação da República. Um ano depois, contudo, voltaram à legalização. Entre os castigos impostos estavam as 25 chibatadas que levaram à revolta dos marinheiros. Esse levante passou à história com o nome de “Revolta da Chibata” e teve início na noite de 22 de novembro de 1910. Os dois navios de guerra mais importantes do Brasil, os encouraçados “Minas Gerais” e “São Paulo”, ficaram sob o domínio dos revoltosos. Ameaçando bombardear o Rio de Janeiro, os marujos ─ comandados pelo sergipano João Cândido ─ negociaram com o presidente Hermes. Com as promessas de Hermes da Fonseca, os homens depuseram armas. Fazendo papel de homem sem palavra, o presidente ignorou o que havia prometido inclusive anistia. Muitos foram expulsos da Marinha; 16 morreram por sede, calor em sufocamento nos subterrâneos da ilha das Cobras; nove foram fuzilados entre 105 destacados para a Amazônia. João Cândido, marujo preto e comum, escapou da morte na ilha, mas foi internado no Hospital dos Alienados como louco e indigente. Só em 1912 veio a absolvição que não devolveu a vida àqueles que tombaram.
Por aí se ver, que a falta de palavra na ética nacional vem de longe. Alagoas também tem algo a ver com a chibata. Em torno dos anos 60, entre os vários candidatos havia um chamado Ari Pitombo. Baseados em sua fama, os adversários diziam como slogan de campanha ao contrário: “Quer levar chibata no lombo, vote em Ari Pitombo”. O símbolo do açoite não estava somente na Zona da Mata dos Senhores de Engenho. Achava-se presente também no Sertão dos Coronéis fazendeiros que ─ igualmente aos Senhores de Engenho do Nordeste e aos Barões do Café do Sudeste ─ cometiam atrocidades medievais.
Quais as diferenças de 1910 para 2010 (cem anos depois)? Dirigentes continuam com a mesma palavra de Hermes da Fonseca e a população sem um João Cândido para defendê-la. As chibatadas da Marinha, dos Ari, dos Coronéis... Continuam mais ativas do que nunca. Agora não mais trançadas com agave ou caroá, mas sim com a matéria-prima corrupção que é muito flexível e abrangente. Está nos taturanas, nos gabirus, nos Arruda, nas prefeituras, câmaras e Senado (Deus salve a minoria), matéria diárias dos jornais. Esse látego de fogo enraizado na cultura do rato, do catita, da ratazana, continua. A corrupção é a mãe da safadeza que atua às costas do nativo. É como se os políticos (não os corretos), dissessem após as vitórias da seleção brasileira de futebol: “Agora, povo, se ajoelhe que lá vai CHIBATA NO LOMBO”