CAPIM DA LAGOA (Clerisvaldo B. Chagas. 16.4.2010) Mal  iniciam os contatos para novas eleições, os viciados vão se apresentando nas rádios ...

CAPIM DA LAGOA

CAPIM DA LAGOA
(Clerisvaldo B. Chagas. 16.4.2010)

Mal iniciam os contatos para novas eleições, os viciados vão se apresentando nas rádios sertanejas, nas praças, nos aglomerados. Eles aguardam os intervalos dos pleitos trabalhando em atividades as mais diversas, mas sempre sonhando com os golpes costumeiros que lhes rendem extras. Nessa época, o viciado inventa qualquer assunto e vai para as rádios denegrir e chamar atenção da cúpula candidata em busca dos míseros dois vinténs. Todos os políticos dos municípios do Sertão conhecem os viciados profissionais. São esses cabras que regulam o mercado clandestino do dinheiro fácil. Muitos desses cambistas possuem tanta confiança em si, que não negociam pacotes. Só fazem negócios separados. Trabalhar para deputado estadual é um preço. Para o federal, “deixe que quando ele me procurar eu acerto com ele”. Contratos para governador e senador, também são coisas à parte. Nesse exemplo, se o viciado conseguir fechar acordo com os quatro candidatos separadamente, poderá comprar um carro, um sítio ou mais algumas cabeças de vacas para aumentar o rebanho.
Quer saber o preço do boi gordo, procure os aglomerados. Quer pesquisar o preço do voto, frequente as praças da cidade. Um suplente de suplente de suplente de vereador falava que deputado fulano o tinha procurado. A resposta foi clara e objetiva: doze mil reais por duzentos votos. O deputado falou que iria pensar. A nova resposta foi: “Pense logo antes que chegue outro”. Ora, se suplente de suplente de suplente já lançou a oferta, quanto custarão os mesmos duzentos votos arranjados por um suplente da vez ou por um vereador famoso em qualquer lugar do semi-árido? Certa vez ouvi um eleitor medonho falando a um candidato a prefeito não aceitar certo viciado em sua equipe. O prefeito respondeu que de fato o sujeito era cabra de peia, mas precisava dele para provocar os adversários. Pelo que se observa ninguém consegue menos de cinco mil reais para “trabalhar” para um político. E quando este cisma em não pagar quando ganha ou quando perde, é um caso sério. O cabra de peia nem denunciar pode.
Em uma rádio do interior, certo juiz dizia que havia dado uma batida durante a madrugada precedente uma eleição, tentando flagrar alguma compra de voto. Ao chegar a determinado lugar, os viciados nem aguardaram a descida dos passageiros. Saíram do mato, sequiosos com as mãos estiradas, coçando os dedos e perguntando nervosos ao juiz: ”Cadê! Trouxe o capim da lagoa?”
Com o nome de “grana”, “dindim”, “mufunfa” e outros da gíria brasileira, o dinheiro do contribuinte vai colocando a cabeça de fora como jabuti em busca de tempo bom. As barrigas continuam famintas, doidas varridas pelo CAPIM DA LAGOA.

MANÉ BOLOLÔ (Clerisvaldo B. Chagas. 14.4.2010) A memória canalizada permanentemente com o passado, mostra as areias do rio Ipanema da antig...

MANÉ BOLOLÔ

MANÉ BOLOLÔ
(Clerisvaldo B. Chagas. 14.4.2010)
A memória canalizada permanentemente com o passado, mostra as areias do rio Ipanema da antiga perfuratriz. A perfuratriz era uma engrenagem dentro de um prédio quadriculado de estilo único, situada a margem esquerda do rio. Dali mandava água para outro prédio situado no Bairro São Pedro, acima, a cerca de quinhentos metros, através de tubulações. Os tubos subiam pela Rua São Paulo até encontrarem o prédio que fomentou o algodão na área sertaneja. Esse prédio que fez história em Santana está sendo devorado pelo tempo. Inclusive com um tanque enferrujado que dizem ter sido do primeiro corpo de bombeiros da cidade. Da antiga perfuratriz ─ que sempre foi ponto de referência em Santana ─ não resta sequer a foto. O seu lugar exato era onde hoje inicia a Rua da Praia. Ali nas imediações as cheias do Panema sempre deixavam bons areados para a prática do futebol. Aos domingos, toda a rapaziada das imediações procurava a perfuratriz para um dia inteiro de pelada.
Como em alegria de brincadeira nunca deixa de aparecer encrenca, certa vez, com os nossos dez ou onze anos, surgiu uma comigo e o meu irmão Erivaldo. Erivaldo não era mole. Sempre foi guerreiro. Mas acontece que havia o Domício, rapagão feito, filho do soldado Joaquim Manoel, vizinho nosso de umas dez casas. Ora, o Domício, para nós, era velho e parrudo. Tinha o apelido de “Domício Grosso”. Por isso ou por aquilo ameaçava nos bater. E naquela preleção de bate, não bate, aproximou-se dele um sujeito que morava à Rua São Paulo, chamado “Mané Bololô” e montou-se às costas de Domício. O pau cantou e, o valentão Domício Grosso levou uma pisa da peste! Houve aplausos para Mané Bololô. Após a surra, Mané ainda recomendou ao Domício passar sempre por longe de nós. Qualquer coisa, por pequena que fosse, queria saber. Não tenho certeza se esses personagens da minha infância ainda vivem. Soube apenas que Domício virou soldado como o pai e trabalhava lá para as bandas de Paulo Afonso. Do nosso anjo da guarda Bololô, nunca mais obtive notícia.
No decorrer das nossas vidas, vamos sempre encontrando valentões como Domício Grosso. Quando não podem bater com braços e mãos, atacam com a língua, infeliz arma dos covardes. Outros ainda usam métodos esdrúxulos como semeadura de pedras e omissão. De qualquer maneira, dizem os espíritas (com outras palavras) que deveremos dar graças a Deus pelas barreiras que nos ajudam à perfeição. Quando tudo parece bem na vida, somos obrigados a enfrentar porcos e cães. Mas a caravana continua sua marcha porque Deus não abandona os dele, assim como teve com Elias, com Eliseu, com Jacó... Os cordatos não buscam vingança, querem apenas justiça. E de vez em quando o Filho do Homem entrega mais um da lista de justiça feita. Quem está no sangue do Pai nunca encontra um Domício Grosso sem que não apareça mais um anjo de guarda MANÉ BOLOLÔ.

GUERREIROS ALAGOANOS (Clerisvaldo B. Chagas. 13.4.2010) Jackson do Pandeiro foi um dos cantores e ritmistas mais apreciados do Brasil. Em J...

GUERREIROS ALAGOANOS

GUERREIROS ALAGOANOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 13.4.2010)
Jackson do Pandeiro foi um dos cantores e ritmistas mais apreciados do Brasil. Em Jackson, tudo me impressionava. Pequeno e franzino com apresentação frenética, voz e estilos diferentes, foi um rei em tudo o que fez e criou. Era admirado por Luiz Gonzaga e saiu influenciando gerações. Além do ritmo gostoso e contagiante, o artista surpreendia também na vida fora dos palcos, basta lembrarem o modo ímpar como conquistou o primeiro casamento. Os sucessos extraordinários do homem da Paraíba estavam no cotidiano; no forró de algum lugar, na passagem do amolador, no ninho da ave casaca-de-couro... Enfim, era um descobridor das coisas simples do dia-a-dia. Essa simplicidade que entrava pelos nervos, virava matéria-prima para os belos ritmos que encantavam multidões. Mas não pretendemos falar sobre Jackson do Pandeiro nem da dimensão que ele ocupou e ocupa entre os músicos brasileiros. Destacamos apenas uma das suas estrofes quando o assunto cortava o espaço:

“Avião, papai,
Avião, papai,
É bonito quando voa
Mas é feio quando cai...”

A queda do avião polonês que matou mais de noventa pessoas, entre elas o presidente da Polônia e esposa, causou consternação naquele país, na Europa e no mundo. A Polônia, situada no centro da Europa, tem milhares de episódios para contar. Pela sua posição estratégica, sempre foi alvo de atropelos por tropas estrangeiras como as da Alemanha nazista e União Soviética. O povo polonês sempre defendeu seu território com denodo, além de ser gente civilizada e de altivez. Na vitória ou na derrota surpreendeu o mundo pela bravura patriótica apresentada. Acertou o presidente brasileiro quando decretou luto de três dias pela tragédia que vitimou quase uma centena de pessoas. A esse desastre aéreo vão somando-se outros que tantas dores causaram deixando famílias em desespero. Foi um dia muito difícil para Varsóvia e o restante da Polônia.
É divina também a arte brasileira que se aproveita de tudo para construir. É a charge, a piada, a música, a peça teatral. Os cordelistas farejam fatos novos e lançam folhetos de qualquer gênero como desenrolar de acontecidos em primeira mão. O folclore, sempre mais lento por causa das suas apresentações esporádicas, também marca presença nas tragédias. Registramos assim a bela estrofe de Jackson, no início deste trabalho e apresentamos no fim, outra belíssima de grupo folclórico de guerreiro sobre o mesmo tema. É a toada do mestre seguida pelas figuras componentes:

“O avião subiu
Se alevantou
No ar se peneirou
Pegou fogo e levou fim...”

Dessa forma, todas as tragédias aéreas do mundo estão na música de Jackson do Pandeiro e em grupos de GUERREIROS ALAGOANOS