quinta-feira, 15 de abril de 2010

CAPIM DA LAGOA

CAPIM DA LAGOA
(Clerisvaldo B. Chagas. 16.4.2010)

Mal iniciam os contatos para novas eleições, os viciados vão se apresentando nas rádios sertanejas, nas praças, nos aglomerados. Eles aguardam os intervalos dos pleitos trabalhando em atividades as mais diversas, mas sempre sonhando com os golpes costumeiros que lhes rendem extras. Nessa época, o viciado inventa qualquer assunto e vai para as rádios denegrir e chamar atenção da cúpula candidata em busca dos míseros dois vinténs. Todos os políticos dos municípios do Sertão conhecem os viciados profissionais. São esses cabras que regulam o mercado clandestino do dinheiro fácil. Muitos desses cambistas possuem tanta confiança em si, que não negociam pacotes. Só fazem negócios separados. Trabalhar para deputado estadual é um preço. Para o federal, “deixe que quando ele me procurar eu acerto com ele”. Contratos para governador e senador, também são coisas à parte. Nesse exemplo, se o viciado conseguir fechar acordo com os quatro candidatos separadamente, poderá comprar um carro, um sítio ou mais algumas cabeças de vacas para aumentar o rebanho.
Quer saber o preço do boi gordo, procure os aglomerados. Quer pesquisar o preço do voto, frequente as praças da cidade. Um suplente de suplente de suplente de vereador falava que deputado fulano o tinha procurado. A resposta foi clara e objetiva: doze mil reais por duzentos votos. O deputado falou que iria pensar. A nova resposta foi: “Pense logo antes que chegue outro”. Ora, se suplente de suplente de suplente já lançou a oferta, quanto custarão os mesmos duzentos votos arranjados por um suplente da vez ou por um vereador famoso em qualquer lugar do semi-árido? Certa vez ouvi um eleitor medonho falando a um candidato a prefeito não aceitar certo viciado em sua equipe. O prefeito respondeu que de fato o sujeito era cabra de peia, mas precisava dele para provocar os adversários. Pelo que se observa ninguém consegue menos de cinco mil reais para “trabalhar” para um político. E quando este cisma em não pagar quando ganha ou quando perde, é um caso sério. O cabra de peia nem denunciar pode.
Em uma rádio do interior, certo juiz dizia que havia dado uma batida durante a madrugada precedente uma eleição, tentando flagrar alguma compra de voto. Ao chegar a determinado lugar, os viciados nem aguardaram a descida dos passageiros. Saíram do mato, sequiosos com as mãos estiradas, coçando os dedos e perguntando nervosos ao juiz: ”Cadê! Trouxe o capim da lagoa?”
Com o nome de “grana”, “dindim”, “mufunfa” e outros da gíria brasileira, o dinheiro do contribuinte vai colocando a cabeça de fora como jabuti em busca de tempo bom. As barrigas continuam famintas, doidas varridas pelo CAPIM DA LAGOA.


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