HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS (Clerisvaldo B. Chagas, 6 de dezembro de 2010)      Quando não havia asfalto entre o Sertão e Palmeira dos Índios, ...

HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS

HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 6 de dezembro de 2010)
     Quando não havia asfalto entre o Sertão e Palmeira dos Índios, em Alagoas, a viagem a Maceió era longa e difícil. Geralmente as paradas eram divididas em quatro partes, para os que usavam o automóvel, à preferência do viajor: Palmeira dos Índios, Cabeça Danta, Corumbá ou o Salgado. Palmeira, terra adotiva do Graciliano Ramos, surgia aos olhos dos viajantes do Sertão e Alto Sertão como um oásis interessante. Aspecto de cidade civilizada e limpa. Água de coco e café da manhã representavam à procura de quem passava. Cabeça Danta ─ perto de Belém e da famigerada curva do “S” ─ fornecia frutas dos sítios locais, puxadas pelo coco verde, muito procurado pelos passageiros. No Salgado, sopé das montanhas sempre verdes, após a cidade de Maribondo, o atrativo era o café da manhã com bolachas cream cracker e poções de manteiga em minúsculas manteigueiras de vidro, além da cristalina e pura água da serrania. A quarta opção, sítio Corumbá, perto de Atalaia, oferecia o café com uma chamada macaxeira ouro, que fazia jus a cor e ao sabor. Em alguns pontos da estrada, como no trecho da fértil Canafístula, a atração da estrada eram bancas de frutas e abóboras produzidas nas terras do local, por trás das casas dos moradores. O condutor parava o automóvel, enchia a mala de produtos frescos, deliciosos e baratos. Quem fazia o trajeto de ônibus, tinha como certas duas paradas costumeiras: a churrascaria Brasília, em Maribondo, que pertencia a um italiano e, cujas paredes eram repletas de provérbios cívicos, escritos à tinta; e a churrascaria do Josias na cidade Cacimbinhas, bem defronte ao posto de gasolina do Galego, um dos raros postos do Sertão e que prestou serviços décadas a fio.
     Algumas coisas mudaram na paisagem. Do Sertão à capital, o asfalto reduziu de quatro horas e meia para três ou duas horas e meia o trajeto. A “Princesa do Sertão” saiu do mapa das paradas, para quem vai de carro pequeno. O ponto Cabeça Danta está desativado, permanecendo, ainda hoje, com a pequena construção onde se vendiam os frutos da terra. A casa do sítio Salgado encontra-se abandonada e quase em ruínas. O ponto do Corumbá há muito tempo fechado e sem sinal de vida. Atualmente, a parada única de quem vem do Sertão e Alto Sertão, agora é Maribondo, cidade cortada pela BR-316, a cerca de setenta quilômetros da capital. É ali em churrascaria ou lanchonete o ajuntamento de bestas, micro-ônibus, automóveis particulares e de órgãos públicos que vão resolver negócios no litoral. Parada obrigatória para os de Santana, Canapi, Poço das Trincheiras, Mata Grande e todos os do semi-árido que trafegam pela BR-316.
     As bancas de frutas ainda são encontradas, mas também não são mais a mesma coisa. Muitos produtos vem da feira, são de qualidade duvidosa e preços elevados. A pureza dos quintais tornou-se rara. Os viajantes escaldados passam direto, receosos de explorações azedas. E assim os tempos vão mudando como mudam as nuvens tangidas sob o céu azul e eterno. Maceió ─ Sertão, Sertão ─ Maceió. Reminiscências despregando-se das lameiras... Da vida, que não estaciona para chorar. Desculpe aí leitor, a HISTÓRIA E REMEMBRANÇAS.

CATAR (Clerisvaldo B. Chagas, 3 de dezembro de 2010)      Com as duas surpresas do sorteio, a FIFA apresenta a Rússia e o Catar como sedes ...

CATAR

CATAR
(Clerisvaldo B. Chagas, 3 de dezembro de 2010)
     Com as duas surpresas do sorteio, a FIFA apresenta a Rússia e o Catar como sedes da copa de futebol de 1918 e 1922. Concorrendo com fortes candidatos, esses dois países conseguiram essa façanha espetacular, motivo de desejos global. Os Estados Unidos não gostaram, bem como o âncora brasileiro Boris Casoy. De parabéns está a FIFA que não se deixou intimidar pelo poderio e representantes americanos. Ambos os países escolhidos são extremos do continente asiático, desde as nevascas de Moscou às quenturas do deserto do Oriente Médio. A Rússia já prometeu construir estádios e mais estádios e gastar uma fábula nesse grandioso evento. O catar, mesmo pequeno polegar no Golfo Pérsico, não tem problemas com dinheiro. Ficou famoso pelo seu ponto estratégico dentro de outro ponto estratégico enorme que fica na confluência de três continentes ─ Europa, Ásia e África ─ ainda hoje, passagem obrigatória de diferentes povos. Sua capital Doha, também ganhou espaços nos jornais do mundo inteiro ao pagar bem aos jogadores estrangeiros e sediar reunião global sobre o clima. Essa localização tem particular importância porque os maiores produtores mundiais de petróleo ficam nessa região. Esse dado faz com que o Oriente Médio desempenhe um papel geopolítico importantíssimo no cenário internacional. São quinze países dentro dessa região, sem contar com dezenas de outros bem próximos dos três citados continentes. Todo o Oriente Médio é apaixonado por futebol, embora não tenha o destaque de outros lugares do globo. A estratégia da FIFA, além de amenizar a tensão do lugar, incentiva o esporte na Ásia Seca onde jorra dinheiro e petróleo.
     Os Estados Unidos não gostaram porque estão acostumados a mandar em tudo. Mas parece que o mundo vai perdendo o medo da Águia com a pintura da nova Geografia. É bom saber que o Catar fica de um lado do Golfo Pérsico e o Irã do outro. Para o Tio Sam, que mete política em tudo, a decisão da FIFA não podia mesmo agradar porque soa para ele como uma forma de prestigiar indiretamente o inimigo. Mas ─ como se fala em advocacia ─ o perdedor tem o direito de espernear. Já aqui no Brasil, ontem à noite, o apresentador de jornal Boris Casoy, com um toque sutil de preconceito disse, ironicamente, que a escolha do Oriente Médio devia ser por causa do futebol primoroso da região; e rebateu depois para aproveitar a gíria das ruas, referindo-se ao país de Doha: "Ora, vai-te catar!" Da Rússia não falou nada. Seu nome não deixou.
     Boris é um dos melhores apresentadores do Brasil. Todavia, vez em quando, comenta coisas sem base e conhecimento de causa. Quer dizer, é bom, mas também (citando jargão) foi não foi, pisa no tomate. E, ao contrário do que disse o grande âncora, sem preconceito nenhum é a hora do Catar e de Boris se CATAR.

ANIVERSÁRIO (Clerisvaldo B. Chagas, 2 de dezembro de 2010)      Hoje é meu aniversário. Para que esconder, se escrevo sobre o cotidiano? Um...

ANIVERSÁRIO

ANIVERSÁRIO
(Clerisvaldo B. Chagas, 2 de dezembro de 2010)
     Hoje é meu aniversário. Para que esconder, se escrevo sobre o cotidiano? Uma Canon EOS 40 D ou um AirCross já seriam presentes de bom tamanho; ou uma caixa de fósforo, um palito ou um abraço. Bem, compadre, são coisas materiais, brinquedos do dia a dia. Na verdade, a melhor coisa mesmo para um aniversariante é saúde, fator não valorizada quando se tem. No plano espiritual, seria ótima a visita do filho do Homem para dizer: “Parabéns cabra velho, você não tem parelha, não! Continue contando comigo.” Quem terá inventado esse negócio de aniversário?
     Falam os pesquisadores que o aniversário teve início ligado a assuntos de mágica e religião. Para proteger o aniversariante de coisas ruins, é de onde vem os costumes dos parabéns, presentes, celebração, inclusive velas acesas. As velas protegiam o aniversariante e ainda garantiam sua segurança no próximo ano, segundo os tempos mais antigos. Até a Igreja e o próprio cristianismo, não aceitavam esses rituais, alegando costumes pagãos. Pelo menos até o quarto século, pensava-se dessa maneira. Voltando à velha Grécia, sempre dando conta de tudo, achavam os gregos que cada pessoa tinha um espírito protetor também chamado gênio, e este inspirava, assistia o nascimento e vigiava o indivíduo em vida. Durante o natal, esse espírito protetor teria uma relação com o deus. E como os romanos gostavam de copiar os gregos, apoiavam esses pensamentos da calejada Grécia. Havia bolos de mel, redondos, que imitavam a lua, e eram iluminados com velas, depois colocadas no templo de Ártemis (deusa da lua e da caça). As velas eram dotadas de magia especial para atender pedidos. Dizem que a pessoa, durante o aniversário, estava perto do mundo espiritual. Mas bem que os egípcios tinham tradição de realizar aniversários. Muitos dos costumes da Grécia eram importados do Egito. A bíblia não relata aniversários de hebreus, nem sequer o de Jesus. E esses parabéns para você, que se canta no Brasil, migraram dos Estados Unidos quando a letra foi adaptada para o português em 1942. Ela foi criada em Kentucky, pelas irmãs e professoras Mildred e Patrícia Smith Hell, para ser cantada na entrada da escola, pelas crianças. O título é “Bom dia a todos”.
     Costume pagão ou sem ser pagão, hoje é meu aniversário. Difícil é planejar o que fazer. Após os quarenta, os aniversários vão ficando mais sisudos e discretos. Chegam às lembranças das mães satisfeitas em torno da mesa repleta de crianças aguardando parabéns, doces e bolo. Do adolescente e do adulto novo comemorando com cervejas nas rodadas entre os amigos. Depois... Depois é apenas uma lembrança danada do aconchego maternal que não retorna. Missa em ação de graças, meditação e agradecimentos profundos ao Dono da vida. Uma nova parada para reaver o fôlego e prosseguir a jornada do aperfeiçoamento. Não posso esconder com o teclado à frente: hoje é meu ANIVERSÁRIO.