CABEÇAS DURAS Clerisvaldo B. Chagas, 25 de maio de 2011. Até quando teremos que ouvir e vê espetáculos degradantes de famílias soterradas ...

CABEÇAS DURAS

CABEÇAS DURAS
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de maio de 2011.

Até quando teremos que ouvir e vê espetáculos degradantes de famílias soterradas ou desabrigadas em Maceió? Nós alagoanos conhecemos de sobra à certeza anual das tragédias de inverno. É o tal entra prefeito e sai prefeito, mas ninguém ousa assumir a função social de contenção de catástrofes ocasionadas pelas chuvas de outono-inverno. Antes eram as ocorrências absurdas e desumanas das cheias lagunares que deixavam os alagoanos estressados de tanta repetência da verdade e das manchetes nacionais. Color, bom ou mau administrador como prefeito ou nos Martírios, construiu com mérito o dique-estrada que, além de conter as águas de inverno, desafogou o trânsito pelo centro, criando um novo complexo de vias na região dos Bairros Bebedouro e Vergel. Nunca mais se ouviu nacionalmente o que ali ocorria. Acontece, porém, que famílias invadiram o além-dique por falta de pulso das sucessivas administrações, permitindo até construções de casas comerciais e residências com primeiro andar. Se os gestores forem permitir que o povo faça como quer, ou por falta de determinação ou conivência política, tipo não perder voto, nunca teremos uma solução definitiva para esses problemas que constrangem o cidadão e tocam fundo nas pessoas. Além das invasões pela água nos terrenos planos, temos os eternos problemas nas encostas, principalmente entre a região de baixo e da Maceió de cima.
Quem passa durante o período de estiagem, pelas periferias das barreiras, fica até com mal-estar ao prolongar a vista para as casas à beira dos abismos, barreiras já comidas, sem a mínima proteção, nem mesmo com uma pequena cerca que evitaria no momento, quedas de crianças. São os fundos das residências diretamente ligados para as ravinas, em cerca de dois ou três metros. É tanto dinheiro que entra nos cofres públicos, mas os gestores não escutam o canto dos pardais, anunciando mudança de tempo. Onde estão os engenheiros do nosso estado? Onde se escondeu a engenharia alagoana que poderia fazer um serviço continuado de contenção de encostas, até o último perigo das barreiras e grotas de Maceió. Um serviço grandioso, decente, humanitário que depois de concluído, servisse de exemplo para o Brasil e boa parte do mundo onde as tragédias se repetem pelo mesmo motivo.
Mais uma vez estamos diante de imagens e notícias degradantes que nos deixam frustrados como ser humano que vale alguma coisa. Estão aqui, frente a nós, paisagens humilhantes coloridas, nítidas, arrasantes e evitáveis. Os que respondem pela segurança pública, continuam preocupados em encher os cofres particulares, sem temor algum quanto a justiça dos homens que anda comprometida até o pescoço, usando a velha filosofia do “quem for podre que se quebre”. No final das pequenas ou grandes tragédias eles sabem que não haverá punição para ninguém e o povo será acusado de cabeça dura, até que os primeiros momentos do impacto sejam cobertos por outras novidades.
Não creio que você que está lendo esta crônica, esteja com a casa em risco. Mas se tiver ouça o canto dos pardais, porque em breve (com os grandalhões nada acontecerá) você, juntamente com outras centenas de vítimas, também será incluído no rol dos CABEÇAS DURAS.

FEIRA DO RATO Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2011. Ao vermos estampada a imagem nos jornais do trem de superfície ganho por Maceió, ...

FEIRA DO RATO

FEIRA DO RATO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2011.

Ao vermos estampada a imagem nos jornais do trem de superfície ganho por Maceió, ficamos satisfeitos com sua beleza e modernidade. Quem conhece os vagões utilizados em Alagoas, não deixa de compará-los aos velhos trens americanos do tempo de índios e caubóis. Mas não se deve olvidar a grandeza da prestação de serviço desses possantes transportes feitos de ferro, as lutas do povo do estado pera tornar realidade o progresso através das composições. Quando a época só oferecia cavalo, burro, carro de boi e mais tarde o caminhão, o empenho popular tinha razão em querer o conforto do trem de passageiros. Eles permitiam longas viagens, bem como a possibilidade de escoar os produtos agropecuários, centradas nas péssimas estradas de problemas permanentes. Os ramais de Maceió, Viçosa, Quebrangulo e Palmeira dos Índios, foram comemorados com muita euforia porque representava o novo, o progresso estadual, ainda que demorasse tanto a chegar ao Agreste. Tudo foi polêmico como ainda hoje. Interesses diversos, descasos, lutas, projetos não cumpridos, irritações permanentes e promessas políticas, foram sendo escritos na história alagoana do final do século XIX e primeiro terço do século XX. O trem de Piranhas, mesmo de ramal isolado, prestou relevante serviço naquele trecho do Rio da Unidade Nacional, em consonância com burros de carga, carros de boi e navios. Os trens entram em romances de Graciliano Ramos, Clerisvaldo B. Chagas e livro de Floro de Araújo Melo, como complementação indispensável à história do período. 
Não deixa de ser, portanto, motivo de grande satisfação contemplar a nova imagem do trem que chega para servir a região da Grande Maceió.  O danado é muito bonito, confortável e igual ao de qualquer outro lugar civilizado do mundo. Segundo a CBTU ─ Composição Brasileira de Trens Urbanos ─ serão oito composições com três vagões cada, e que estarão em pleno funcionamento ainda no primeiro semestre. Esse meio de transporte recebeu a denominação de VLT que significa Veículo Leve sobre Trilhos. O amigo quer experimentar uma voltinha no VLT? Pois nós também. Como quem escreve, Zé, pode ficar de fora de maravilha igual a essa? Quem perde é somente a tradicional imundície da Feira do Passarinho ou a antiga enrolada da Feira do Rato, que terão de ceder espaço para o bichão bonito que já chegou.
As opiniões vão-se dividindo e já existem os eternos pessimistas que estão profetizando o sucateamento dos novos veículos, antes mesmo do início dos serviços. São os que carregam energia negativa às costas, um perigo constante para o ânimo e êxito de amigos, vizinhos e colegas de trabalho. O velho e exaurido transporte à base de ônibus, teima em não se modernizar fisicamente nem em número de passageiros e cumprimento de horários. Coisa mesmo de província. Esperamos que o VLT traga com ele uma mentalidade atualizada e futurista para romper o gargalo do transporte urbano de Maceió. Fora todos os hábitos nocivos da FEIRA DO RATO.

CABEÇAS DECEPADAS (Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2011).           Tocamos aqui outra vez sobre alguns momentos tristes da História ...

CABEÇAS DECEPADAS

CABEÇAS DECEPADAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2011).

          Tocamos aqui outra vez sobre alguns momentos tristes da História de Alagoas. Um episódio difícil para a sensibilidade alagoana foram os excessos monstruosos praticados pelos irmãos Moraes. Após as lutas entre lisos e cabeludos, os filhos do vigário de Palmeira dos Índios, padre José Caetano de Moraes ─ assassinado por pertencer à facção dos lisos ─ foram à vingança. Àquele sacerdote fora morto pela força governamental comandada pelo major Cobra que estava incumbido de prendê-lo e enviá-lo a Maceió. Não houve justiça. Reunindo numeroso bando, 40 ou 50 homens afeitos à desordem, os irmãos Moraes praticaram absurdos em várias partes do estado, não poupando nem as criancinhas. Foi inútil a perseguição de força contra eles, comandada por Pedro Ivo Veloso da Silveira, com 100 homens. Os irmãos Manoel de Araújo Moraes e José de Araújo Moraes estavam dispostos a matar a qualquer pessoa que pertencesse ao partido dos adversários. Um dia, o bando cruzou o Ipanema e foi esbarrar em Águas Belas, Pernambuco, à casa do pai do Barão de Atalaia, membro da família Sinimbu, partidário dos cabeludos. Entre Santana do Ipanema e a cidade pernambucana, o povoado Poço preveniu-se contra uma possível invasão, fazendo uma trincheira contra os irmãos Moraes no lugar onde havia um poço. O bando passou ao largo até cruzar a fronteira estadual. O barão havia partido para Maceió, mas tendo a casa cercada, o seu pai conseguiu escapar miraculosamente. Com a demora proposital do retorno do bando, a população do Poço desmobilizou-se, permitindo a entrada dos bandidos que fizeram misérias no povoado. Daquele dia em diante, o lugar que já era Poço, passou a ser chamado de Poço das Trincheiras até hoje.
         O próprio povo alagoano, revoltado com o terrorismo implantado pelos filhos do padre, empreendeu caça aos dois irmãos aonde quer que eles se encontrassem. Manoel Moraes foi logo assassinado nas matas de Vicente de Paula, por um homem mameluco. José, entretanto, continuou com seus atropelos de horror à população, mas também gerando anedotas no imaginário popular. Transpondo o rio São Francisco, caçado incessantemente, internou-se na caatinga do município de Porto da Folha, solo sergipano. Seu bando havia se esfacelado, ele se achava só, perseguido sem trégua por uma expedição chefiada por José Afro Cavalcante Pimentel, Vitorino e Apolinaro mais o rastejador Izidro da Hora. José foi encontrado no lugar denominado Cipó de Leite, às faldas da serra da Vaca. Faminto e cansado, o bandido procurava assar uma cobra para comer. Entregou-se sem resistência. Foi preso e degolado na hora. A cabeça foi colocada em sacola de couro cru usada para transportar água. O grupo perseguidor seguiu, então, para Canindé, numa canoinha que ficou conhecida como “Cabeça do Moraes”.

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          Atualmente existem secretários de prefeituras que querem mandar mais que o prefeito, mestres em decapitar quem nunca lhes fez mal. Pagam o bem recebido antes com ciúme e guilhotina afiada. Para os que não aprendem, chegará o dia em que, como fazem com outrem, terão suas próprias CABEÇAS DECEPADAS.