CINZAS Clerisvaldo B. Chagas, 22 de fevereiro de 2012.            Para quem gosta da folia de Momo, infelizmente, tudo hoje se transforma ...

CINZAS

CINZAS
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de fevereiro de 2012.

           Para quem gosta da folia de Momo, infelizmente, tudo hoje se transforma em cinzas. Tem início nesta quarta o período da Quaresma, valorizado no calendário cristão ocidental. Nas igrejas católicas do Brasil, as igrejas realizam o simbolismo significativo, geralmente, logo às sete horas da manhã e às sete da noite, quando os fiéis comparecem para o sinal das cinzas. O ato convida as pessoas à reflexão, o dever católico a ser cumprido, mudança de vida para melhor, moral e religiosamente, lembrando a efêmera passagem por esse mundo e a certeza inflexível da morte. A Quaresma ocorre quarenta dias antes da Páscoa, sem contar os domingos e os feriados. Dependendo da data da Páscoa, o seu posicionamento varia a cada ano. A oscilação ocorre entre o início de fevereiro até a segunda semana de março. A quarta-feira de Cinzas para quem quer vivenciá-la parece dia de paz e de mistério que conforta o indivíduo nessa caminhada com tantas incertezas que o mundo nos oferece. Os sons dos batuques tão vivos das brincadeiras são trocados pela cadência suave das apresentações religiosas.
     Missas são celebradas tradicionalmente nesse dia quando os participantes são abençoados com cinzas pelo padre que preside a cirimônia. O sacerdote marca a testa de cada celebrante com cinzas, deixando uma marca que o cristão normalmente deixa em sua testa até o pôr do sol, antes de lavá-la. É bom lembrar a tradição simbólica do Oriente Médio de jogar cinzas sobre a cabeça como sinal de arrependemento perante Deus. Encontramos essas passagens na Bíblia, onde são relatadas em vários livros. Deus gosta da pessoa que se arrepende de atos não recomendados por ele no Livro Sagrado. Ainda se referindo ao Catolicismo Romano, Cinzas é um dia de jejum e abstinência. Seguindo as orientações da Igreja, o seguidor evita comer carne na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira da Paixão, num sinal simbólico e respeitoso ao Criador. Mesmo para os brincantes do Carnaval dos três dias, a quarta oferece a quietude, vez em quando ofertada ao espírito, para a sua recuperação do agito vibrante da folia.
         Para outras religiões, a quarta-feira pode até possuir significado diferente, porém, sempre dentro da observação moral ou religiosa do ser humano. Para viver plenamente um dia místico, não é necessario que o homem seja seguidor assíduo de qualquer corrente religiosa. O seu recolhimento e reflexões podem lhes trazer um bem que será aplicado com bastante êxito no seu cotidiano. Enquanto para alguns o dia é apenas um feriado normal de cura da ressaca, para outros é uma oportunidade valiosa de avaliação e descanso espiritual. Reflexão profunda no dia de hoje não faz mal a ninguém. A vida é limitada. E embora muitos não queiram saber, vícios e paixões, logo, logo, transformar-se-ão em CINZAS.













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PENSAR EM DEUS Clerisvaldo B. Chagas, 21 de fevereiro de 2012.           Perdem-se à distância os sons da folia na madrugada. Ganha espa...

PENSAR EM DEUS

PENSAR EM DEUS
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de fevereiro de 2012.
          Perdem-se à distância os sons da folia na madrugada. Ganha espaço no tule da memória um romantismo secreto nos longos estertores da segunda. Surgem no céu da melancolia estrelas, Lua, nebulosas que acompanham o cantarolar do banheiro, o balançar da cadeira, um chorar esconso de violões. Derramam-se devaneios em idílios ilusórios de boca rósea, beijos apaixonantes e cândidos aconchegos. Voa sutiã jogado, cai à camisola seda, sufoca perfume-veneno, enigmáticos da hora. Mulher que pode ser (fantasia ou não) resíduos sutis de melancolia:

“Eu amanheço
Pensando em ti
Eu anoiteço
Pensando em ti
Eu não te esqueço
É dia e noite
Pensando em ti
Eu veja a vida
Através dos olhos teus
Me deixa ao menos
Por favor pensar em Deus (...)”

 “Todo poeta é sistemático, professor! O senhor também?” Queima-me a indagação do vate-repentista. O que é ser sistemático? A lágrima atrevida tenta romper trançados e corrompidos cílios. E a radiola, a eletrola, a “mataola” aperta a fonte sentimental do sonhador tocado. Um vozeirão inconfundível e inexistente decreta e elimina com dardo amoroso e manso:

“(...) Nos cigarros que eu fumo
Te vejo nas espirais
Nos livros que eu tento ler
Em cada página tu estás
Nas orações que eu faço
Eu falo no nome teu
Me deixa ao menos
Por favor pensar em Deus”.

Tisnam-se os horizontes da aurora. Morro ou vivo um pouco lembrando você. Melodias dão sobrevida à paixão não domada, ao roliço pescoço para beijos quentes. Voltam os violões, o acordeom, o perfume agreste dos seus cabelos. É um sensível procurando a vida e confessando o que antes deixou de ser confessado. “Alô, alô, vai para a deusa da blusa branca; assina, você já sabe”. Deixa-me ao menos, por favor, PENSAR EM DEUS.  


FLORIANO E SILVÂNIA Clerisvaldo B. Chagas,   20 de fevereiro de 2012. Crônica Nº 722           Quando morre pessoa conhecida nossa, fic...

FLORIANO E SILVÂNIA

FLORIANO E SILVÂNIA
Clerisvaldo B. Chagas,  20 de fevereiro de 2012.
Crônica Nº 722

          Quando morre pessoa conhecida nossa, ficamos desconcertados, pois, apesar da certeza, nunca estamos preparados para a passagem, nem a nossa nem a dos amigos e parentes. Quando a despedida é violenta, mais desconcertos ainda e, na tragédia dupla, ficamos, além de assustados, sem acreditar que o fato tenha mesmo acontecido. O caso de Floriano Salgueiro Silva, filho do industrial Domício Silva (compadre de meu pai, Manoel Chagas) e da professora Iracema Salgueiro, colega da minha mãe Helena Braga das Chagas, deixa a sociedade santanense perplexa e enlutada com a fatalidade da BR-316. Pessoa de nível social elevado, entretanto, Floriano levava uma vida simples, desde o nosso coleguismo nos bancos escolares do Ginásio Santana. Estava sempre contribuindo com inúmeras formas para o melhoramento do nosso município, mantendo um relacionamento pacato, decente e dinâmico em todas as esferas de Santana. Como gostava do tema “cangaço”, convidou-me por cerca de três vezes para à sua fazenda à margem do São Francisco para dali visitarmos a Grota de Angicos, onde se deu a hecatombe conhecida mundialmente. A ele, meses atrás, havia dedicado uma das minhas crônicas sobre o assunto.
         Silvânia Maria Lima Silva, sua esposa, ministrava suas aulas de Literatura na Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva. Mestra em fazer amizades, possuía energia positiva contagiante, sendo querida no trabalho ou em qualquer lugar aonde chegasse com o seu astral. Foi a nossa Vice-gestora durante uma campanha para a direção da Escola Estadual Mileno Ferreira. A tão amada pelos alunos, colegas e funcionários, Silvânia Maria, transferiu-se para outro plano ao lado daquele a quem amava, num fatídico sábado do Rei Momo, dia escolhido por Deus para uma conversa a sós com o ilustre casal para Santana do Ipanema e para ELE, o Pai que tudo sabe. E lá se vão uma nobre ex-colega e um amigo que ministravam exemplos de vida diariamente na “Rainha do Sertão”.
          Santana recebe golpe duplo no desfalque difícil do preenchimento em curto prazo. Ultimamente estávamos com a ideia de, justamente, com Floriano e outro ex-colega que atualmente vive em Maceió, promovermos um encontro com os que estudaram conosco no Ginásio, cerca de cinquenta, para um encontro de um dia em lugar aprazível do município. Difícil agora pensar no mesmo assunto novamente. Para Santana enlutada, ficou a saudade dorida e as ótimas lembranças de um casal encantador: FLORIANO E SILVÂNIA.