O SOM EM 4 TEMPOS Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2012. Crônica Nº 876 Passamos um pouco dos vinte e seis anos de um movime...

O SOM EM 4 TEMPOS


O SOM EM 4 TEMPOS
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2012.
Crônica Nº 876

Passamos um pouco dos vinte e seis anos de um movimento musical na minha terra. Foi exatamente no dia sete de maio de 1986, quando quatro jovens santanenses lançaram um compacto duplo pelo selo Beverly (Copacabana), causando euforia nos meios artísticos e nessa cidade alagoana. O grupo “O Som em 4 Tempos”, foi formado pelos músicos e cantores, Dênis Marques, Adeilson Dantas, Dotinha e Pangaré, rapazes da sociedade local que procuravam vencer através da música. Pangaré surgiu com “Você Chegou”; Dotinha com “Novo Horizonte”; Adeilson Dantas com “Colorida”, todos com composições próprias. Dênis Marques lançou a letra do escritor Clerisvaldo B. Chagas “Galopando em Emoções”, mas também com música própria. O lançamento do disco teve o apoio da imprensa do estado, inclusive, destaque no Jornal de Alagoas. Aquele momento representou mais uma vitória da terra sertaneja que festejou junto aos seus novos ídolos o ingresso na MPB. Na época, o êxito alcançado pelo quarteto, serviu de inspiração para outros jovens que tentariam mais tarde a mesma trajetória.
Quando o compacto foi lançado, as rádios da região rodavam com frequência os novos sucessos, causando satisfação para aqueles que sonhavam em seguir adiante na arte da voz. Mas, tempos depois, pareceu haver um esfriamento na sequência e o quarteto perdeu forças entre seus membros e não tivemos notícia de outros discos lançados em grupo. Atualmente Dotinha é professor na cidade de Arapiraca. Pangaré passou a ser Valdo Santana e de vez em quando surge com novidades. Dênis Marques, que também é músico, desenhista e professor, continua suas apresentações artísticas com “Dênis, Violão e Voz”. Quanto a Adeilson Dantas, radialista e empresário da “Adeart”, onde realizava suas filmagens com sede em Olho d’Água das Flores, faleceu prematuramente, vítima de acidente automobilístico. A região sertaneja está sempre contratando Valdo Santana e Dênis Marques, individualmente, para maior brilho nos festejos do Sertão e de outras plagas. Ultimamente alguns nomes surgem no cenário musical santanense, mas a carreira de cantor nunca foi fácil para ninguém.
Sem dúvida nenhuma, o feito desses jovens está em nosso livro “O Boi a Bota e Batina; historia completa de Santana do Ipanema” que aguarda lançamento na fila (cinco à frente) por ser muito volumoso e o mais caro. De qualquer maneira, puxamos do baú a realização dos quatro rapazes que, pelo menos três continuam conosco. Que bom recordar O SOM EM 4 TEMPOS!. 

CARNEIRO E SERRADOR Clerisvaldo B. Chagas, 1º de outubro de 2012. Crônica Nº 875 A hoje chamada Literatura de Cordel contribuiu m...

CARNEIRO E SERRADOR


CARNEIRO E SERRADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 1º de outubro de 2012.
Crônica Nº 875

A hoje chamada Literatura de Cordel contribuiu magnificamente para o aprendizado e o hábito da leitura no Nordeste. Aprendi muito com o mundo encantado dos poetas escreventes e repentistas. Geralmente quem escrevia cordel era o poeta repentista aposentado, o vate que não usava o repente, ou o simples apologista. O poeta nato faz tudo perfeito. O que tem apenas a veia poética, constantemente se engancha na métrica, ficando a estrofe capenga. É igual a um piso em que as peças ficam assentadas desiguais, provocando topadas. Rimas sem métrica doem nos ouvidos e irritam na leitura. Muitos não querem que a literatura tenha nome cordel e sim, cordão. Os cordões, tipos barbantes sustentavam os livretos vendidos nas bancas de feiras, mas esses folhetos também eram expostos no chão, sobre um pequeno pedaço de pano ou de lona. Ali o próprio autor vendia os seus trabalhos lendo para o povo as suas obras. Acontecia ainda a ocasião em que o vendedor era apenas um intermediário, porém, tinha veia poética, voz bonita e outros dons que convenciam à compra. Um desses folhetos que ainda faz sucesso foi publicado em 1954 por João Martins de Athayde: “Peleja de Serrador e Carneiro”. Nessa linguagem, “peleja” é uma cantoria entre dois repentistas nordestinos.
Li inúmeros folhetos e decorei muitos versos. Na peleja acima, tem uma passagem em que o poeta Serrador aproveita o nome do oponente e diz:

“O sítio de Serrador
Está pra quiser vê-lo
A estrada é larga e franca
Que passa até um camelo
Mas se um carneiro for lá
Se arrisca à onça a comê-lo”.

Ora, como pode um simples carneiro, tão manso e tão humilde sair-se de uma enrascada dessa? O mesmo João Martins de Athayde vai para a boca do seu personagem e responde:

“Serrador se você visse
Desse carneiro as marradas
Você saia correndo
Vendendo azeite às canadas
Passava de porta em porta
Avisando aos camaradas”

Relembrando essa passagem meditei sobre a situação do povo. Carneiro é apresentado como animal dócil e presa fácil. Mas quando cisma, todos têm medo da sua marrada que pode matar até mesmo um touro. As multidões enganadas pelos suas lideranças sofrem os desenganos, anos a fio, como rebanhos de ovinos conformados. Como seria diferente se tivessem a consciência da força que possuem. Na obra poética do velho mestre Athayde, brilha uma lição de bastidores na peleja entre CARNEIRO E SERRADOR. 

FESTA DO POVO Clerisvaldo B. Chagas, 28 de setembro de 2012. Crônica Nº 874 Vamos chegando à reta final das eleições. Os candidato...

FESTA DO POVO


FESTA DO POVO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de setembro de 2012.
Crônica Nº 874

Vamos chegando à reta final das eleições. Os candidatos intensificam desesperadamente seus atos, dobrando o som para estourar ouvidos. Vai ficando cada vez mais difícil disciplinar as atitudes dos postulantes que partem para o excesso. Logo nas primeiras horas permitidas por lei, o som já está nas ruas não importa a quantidade de decibéis. As pesquisas que são feitas não são publicadas oficialmente, em muitos casos, levando a dedução de que quem as faz pertence à situação. Não sendo divulgada, também se supõe que aquele candidato esta no mínimo, na terceira colocação. O aperreio vai chegando para quem anda a reboque. Inúmeros veículos são solicitados a pessoas de municípios mais distantes para impressionar o eleitor em carreatas. Uns inventam vaquejadas como atrações de comícios, outros recorrem à cavalhada, cavalgada, mala preta, quebrando a cabeça com as invenções atrativas ante a Justiça mais vigilante com manobras radicais. Quando o eleitor fica mais calado é sinal de que os da situação não andam bem. Algumas alas perdidas desistem em favor de outros candidatos e a expectativa cresce em cada estado brasileiro.
No desenrolar da campanha, em Alagoas, sai à notícia da falência de uma das maiores fortunas do estado, a do usineiro João Lira. Todos os sites noticiam o fato. Como o homem também enveredara pelos caminhos da política, pessoalmente e em apoio a inúmeros candidatos, em eleições passadas, não deixa de causar certa agitação estadual. Cai a atuação política e vem o receio de desemprego no império Lira. Em São Paulo, a eleitora beija na boca de José Serra e passa a ser notícia nacional com direito à foto e tudo. Pesquisas sérias são divulgadas e antigos imbatíveis seguem na traseira. Dizem que é a festa da democracia agitando cabeças e bolsos dos participantes. Alguns comícios movimentam-se à base da aguardente defronte aos palanques, enquanto os candidatos gesticulam contra ela. Nas casas e nas ruas, as pessoas tapam os ouvidos com os desfiles das zoadas eleitorais intensas. Mesários são convocados. Uns vão satisfeitos pela oportunidade em servir, outros vão xingando “puxados” pelas orelhas. O mês vai terminando, mostrando a primavera para os da frente e o inverno para os de trás.
Estamos perto do fim da agitação democrática, chata ou não chata, mas necessária ao processo que melhora a base da civilização. Muitas novidades ainda vão chegando por aí. Eleição, FESTA DO POVO.