IPANEMA EM PRETO E BRANCO Clerisvaldo B. Chagas, 23 de dezembro de 2013 Crônica Nº 1110 ESTÁDIO ARNON DE MELO (AUTOR). Onte...

IPANEMA EM PRETO E BRANCO



IPANEMA EM PRETO E BRANCO
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1110
ESTÁDIO ARNON DE MELO (AUTOR).

Ontem vivi dois momentos diferentes, um às luzes da manhã outro na parte vespertina. Levado sobre uma pesquisa no Bairro Lajeiro Grande voltei espiando o muro do Ipanema Atlético, time da cidade. As marcas de propaganda de várias casas comerciais, vão virando pinturas de museu, relembrando os bons tempos do Canarinho do Sertão. Portão escancarado, convite aos passantes que têm e não têm o que fazer. Entrei desconfiado como herege na igreja e pude notar o verdume da grama, das árvores, da serra Aguda como pano de fundo. Estavam ali os blocos de cimento a guisa de arquibancada, o aramado retorcido, os nomes gigantes nas cabinas de rádio. Dois times de brincantes maltratavam a bola no estádio vazio melancólico. O tempo abafado fazia colar às costas à camisa sob o céu azul rajado de branco. Onde anda o Ipanema que não canta mais sequer na segunda divisão? Mais uma vez o “canarinho” mergulha na tristeza de uma solidão inglória. Fogem os empresários, dão às costas os políticos, capengam os salvadores. E o altivo timão de outrora vai batendo com a bengala nos obstáculos da vida. Na descida ao fundo do poço todo santo ajuda. No espocar de foguetes é que são elas.
FOTO: AGÊNCIA BRASIL
No contraste tristonho matutino, explode alegria no Mané Garricha entre a tarde e a noite venturosa. As cores se misturam no estádio e Marta vai comandando um espetáculo costumeiro e delirante. É o torneio internacional que faz a vibração do público para Chile, Brasil, Escócia e Canadá. A seleção brasileira feminina disputa com a chilena o título do torneio e consegue um 5 x 0. Mais uma vez campeã, exulta a seleção, festeja o povo brasileiro.
Mas, aqui na minha terra, aqui na Rainha do Sertão, aqui onde o canário trilava altaneiro, foi tomado pelas cinzas. As mesmas cores que marcavam o orgulho nacional no Estádio Mané Garrincha, desbotaram com tantos obstáculos no alto da Camoxinga, da Santa Sofia, do Lajeiro Grande... De Santana do Ipanema. A cidade, sem entender direito, consternada com a ausência do seu time no campeonato, sem rever o verde e amarelo nos embates, desencanta e murcha com um IPANEMA EM PRETO E BRANCO.









DICIONÁRIO DA CANTORIA Clerisvaldo B. Chagas, 20 de dezembro de 2013 Crônica Nº 1109 FOTO RARA E ÚNICA. CLERISVALDO E ZÉ DE ALME...

DICIONÁRIO DA CANTORIA



DICIONÁRIO DA CANTORIA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1109
FOTO RARA E ÚNICA. CLERISVALDO E ZÉ DE ALMEIDA CANTAM PARA OS VELHINHOS COM APRESENTAÇÃO DE JOSÉ PINTO DE ARAÚJO, NA IGREJA MATRIZ DE SENHORA SANTANA.

1.   Cantoria, peleja – Duelo de estrofes realizado entre dois cantadores violeiros-repentistas do Nordeste;
2.   Cantoria de pé de parede – Cantoria tradicional realizada em casa de família, principalmente em casa de fazenda e não em salões, festivais, congressos e semelhantes;
3.   Baionada  - Cada uma das fases  em que se divide a cantoria, após pequeno descanso dos cantadores;
4.   Emborcar a viola – Parada súbita da baionada, por um dos cantadores, ao escutar uma estrofe criativa e rara do parceiro e que ele não tem condições de “pagá-la”, no momento;
5.   Pagar o verso (estrofe) – Fazer uma estrofe tão excelente e rara quanto à do companheiro;
6.   Cantar elogio – Hora de elogiar as pessoas para arrecadar dinheiro;
7.   Baião de viola – Musical retirado das cordas da viola, enquanto os poetas pensam o que vão dizer;
8.   Deixa – rima obrigatória que o vate tem que fazer ao iniciar sua estrofe rimando seu primeiro verso com o último deixado pelo parceiro;
9.   Balaio – defeito grave em que o cantador, ao invés de cantar repentes como o parceiro, tentar burlar a plateia com versos decorados – cantar balaio;
10.          Repente – Estrofe criada na hora;
11.          Sextilha – Estrofe composta por seis versos, base da cantoria;
12.          Estrofe – Conjunto de versos de quantidade variável. Cada linha é um verso;
13.          Tema, mote – Um ou dois versos fixos para serem repetidos ao final de uma estrofe com dez pés (linhas, versos);
14.          Gênero – Cada uma das mais de 40 modalidades de estrofes usadas em cantoria, com musicalidades próprias. Exemplos: sextilhas, sétimas, martelo agalopado, martelo alagoano, martelo miudinho, mourão de sete linhas, mourão, oitavão rebatido, gemedeira, galope beira-mar, mourão perguntado e tantas outras.


PRA CIMA CHOVE? Clerisvaldo B. Chagas, 19 de dezembro de 2013 Crônica Nº 1108 Nas anedotas do sertão nordestino, têm casos em q...

PRA CIMA CHOVE?



PRA CIMA CHOVE?
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de dezembro de 2013
Crônica Nº 1108

Nas anedotas do sertão nordestino, têm casos em que o cabra realmente morre de ri. E pegando a comicidade de frase de um caso longo, o sertanejo fora da terra costuma perguntar ao conterrâneo que chega: Lá pra cima chove? Esse lá pra cima se refere à altitude do sertão vista do litoral. Traduzindo tudo: No sertão estar chovendo?
Saindo de Santana do Ipanema e contando os velhos chavões para os da capital, sobre a seca braba, vamos repetindo: Vaca dá leite em pó e as galinhas estão comendo pipoca. As donas de casa jogam o milho no terreiro e antes que ele caía ao chão, vira pipoca devido à temperatura. Por trás da parte cômica, preocupação com o   gado, à pastagem, à morte dos animais. Vemos as usinas produzindo e armazenando bagaço de cana para vender aos sertanejos. A preocupação aumenta pela falta d’água nas torneiras do interior e, o céu azul e liso não traz esperanças nenhuma. Mas eis que à noitinha na varanda do apartamento, sobe uma lua danada de bonita. Lá longe ainda em direção nordeste, o relâmpago dá sinal de vida. Esfrego os olhos sem acreditar. Serão apenas reflexos dos faróis da noite! Procuro em vão um matuto igual ao mim para ansioso perguntar à moda tão distante: Pra cima chove?
No outro dia embarco para a minha terra e a pergunta da noite anterior vai confortando a alma. Estar chovendo muito em Santana do Ipanema. Toró brabo, diz um sujeito, após ouvir o celular. E o tempo nublado da capital até Dois Riachos vai fechando, fechando, e, o carro com ar ligado e a chuva gradativamente forte vai dando aspecto de inverno ao sertão de meu Deus! Nuvens pesadas pairam sobre as serras da Lagoa, Gugi, Macacos... Velhas conhecidas nossas. A Rainha do Sertão e todo o município confirmam as informações e a meteorologia. É muita água dos céus, meu camarada! Dessa vez o Bairro Lagoa do Junco, formou de fato uma lagoa à beira da BR-316, parte de cima escorrendo sobre a pista.
Pronto! A vaca não vai mais produzir leite em pó. As galinhas deixarão de comer pipoca apressada e eu não mais precisarei perguntar aos velhos conterrâneos: Lá PRA CIMA CHOVE?