OBRAS DE ARTE NAS TOCAIAS Clerisvaldo B. Chagas, 6 de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.641 A I...

OBRAS DE ARTE NAS TOCAIAS




OBRAS DE ARTE NAS TOCAIAS
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.641

A Igrejinha das Tocaias. Foto: (Clerisvaldo B. Chagas).
Obra de arte é uma obra criada ou avaliada por sua função artística ao invés de prática. Entende-se a representação de um símbolo, do belo.
Voltados mais para a prática do que para a beleza, estivemos na RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural – no bioma caatinga, em Santana do Ipanema. Trata-se da primeira RPPN do Sertão e que recebeu o nome Reserva Tocaia. A denominação vem do lugar onde houve uma emboscada, no tempo da escravidão, cujas vítimas foram uma senhora e um bebê que iria a pia batismal. O episódio e sua periferia fazem parte da história do município e foi registrada por nós com o título “A Igrejinha das Tocaias”. Apesar de ter havido no local apenas uma emboscada, o povo denominou a região como “Tocaias”.
A “Igrejinha das Tocaias”, em forma de cordel, estar sendo reeditada e fará parte também de vídeo para um projeto da Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas no mês de abril com o nome Projeto Ambiental Reserva Tocaia.
Além disso, haverá um panorama sobre as outras Reservas de Alagoas e demais biomas.
Eu e o professor e escritor Marcello Fausto, parceiro literário e diretor da Escola Helena Braga, ficamos encantados novamente com a beleza da região. Serrote Pintado, baixada, nascente do riacho Salgadinho – que escorre no inverno – e a proximidade do riacho João Gomes, outro afluente do rio Ipanema, produzem obras de arte no hoje cenário dominada pela seca.
A Igrejinha que ainda está de pé, dedicada a São Manoel da Paciência, cercas de pedras construídas por escravos, visão de serras distantes, mata preservada, exibem um cenário de filme de cangaço. Aliás, ali foram filmadas, recentemente, cenas sobre o filho de Corisco. E quando dissemos que pesquisar a Natureza também se torna delicioso lazer, comprovamos a frase no dia de ontem (domingo) quando não se tem pressa nenhuma em deixar a área visitada com o deleite de tantas obras de arte naturais.



OS FANTASMAS DOS ATOLEIROS Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.640 Fot...

OS FANTASMAS DOS ATOLEIROS




OS FANTASMAS DOS ATOLEIROS
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.640

Foto: ( G1).
O Brasil que gosta de imitar os outros países não copiou o desenvolvimento ferroviário dos Estados Unidos. Perdeu muito feio o miolo da história e foi atraído pelo canto da sereia. País Continental preferiu apostar em rodovias o que até hoje causa problemas considerados eternos. Se um trem transporta o equivalente a 400 carretas, imaginem o barateamento do frete aqui dentro e a capacidade de concorrer lá fora. Mas “o que está feito não se está para fazer” como diziam os mais velhos. Agora é correr até cair os cambitos atrás do prejuízo de dezenas de décadas. Corre-se atrás dos prejuízos das rodovias, das novas redes ferroviárias e a recuperação das sucatas. São milhões e milhões de reais perdidos que poderiam ter sido destinados ao social para melhorar a qualidade de vida da população. Veja um exemplo:
“O tráfego de veículos da BR-163 — rodovia conhecida como Cuiabá-Santarém — no trecho entre as localidades de Trairão e Novo Progresso, no Pará, está interrompido há algumas semanas, o que provocou uma fila de 40 km e cerca de 3.000 caminhões no local. O Ministério da Integração Nacional e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) admitiram o problema”.
Mas a sereia não cantou somente na rede de transportes do Brasil. Lembramos da época em que o Major Luís Cavalcante, conhecido como “O Major”, era governador de Alagoas. Depois de muita pressão popular no Sertão, construiu a Adutora de Belo Monte, trazendo água encanada do São Francisco para Santana do Ipanema e outros municípios. E no dia da inauguração, em Santana, enquanto seus bajuladores tomavam banho em praça pública com água dos canos, o Major discursava. Depois de dizer que naquele dia só não iria beber o sino e o ovo, explicava sorridente, ébrio de contentamento: “O ovo porque já está cheio e o sino porque tem a boca pra baixo”. E nós, o povo besta, ria acompanhando as piadas do governador. Por fim, o Major mandou que a partir daquele momento, os sertanejos quebrassem todas as cisternas que jamais iria faltar água no Sertão. Muitos cabras azoados assim o fizeram. Daí para cá nem precisa dizer, pois todos conhecem de sobra às aflições sertanejas nordestinas.
O maior atoleiro do momento, porém, se encontra em Brasília quando os bonecos engravatados, ladrões, gananciosos e infernais, desfilam pelos gabinetes imitando cenas de filmes de horror. Um espetáculo sombrio de pântanos em que as almas penadas, os fantasmas pairam sobre o lamaçal nebuloso e dantesco. Ê Brasil!

SOBREVIVENTES DA FOLIA Clerisvaldo B. Chagas, 1 0 de março de 2017 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica 1.639 Ilustraç...

SOBREVIVENTES DA FOLIA



SOBREVIVENTES DA FOLIA
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.639
Ilustração (Cultura-Estadão).
Repete-se o ciclo e finalmente março de novo. Para uns, o mês das águas, para outros, o primeiro dia de real trabalho no Brasil. Terceiro mês do ano no calendário gregoriano e um dos sete meses com 31 dias. O nome março surgiu na Roma Antiga, quando era o primeiro mês do ano e chamava-se Martius, de Marte, o deus romano da guerra. Em Roma, onde o clima é mediterrânico, março é o primeiro mês de primavera, bem como para que se comece a temporada de campanhas militares.
Para a grande maioria do trabalhador do Brasil, apenas um mês longo, sem feriado e início da dureza. A classe política de Brasília nem está dormindo direito, aguardando ansiosos certas rebordosas que irão despontar neste mês de guerra. No rio São Francisco, como sempre, inúmeros afogamentos das nascentes à foz. Em Pão de Açúcar morrendo uma policial do estado sergipano. No interior de Alagoas, acaba-se o tão falado Carnaval de Piranhas que durou alguns anos polarizando a festa de Momo. É isso que dizem os foliões santanenses que sempre se deslocaram para o rio. E Pão de Açúcar como opção capricha na alta temperatura (terceira do Brasil) desestimulando muitos aventureiros em direção a terra Espelho da Lua.
Com muita zuada e quase ninguém nas vias, agoniza os velhos carnavais santanenses que parecem enjoados nesses tempos modernos. No Sertão inteiro, os que não estão pulando sem graça, dividem-se entre às próprias residências, chácaras, fazendas e sítios torrados pela seca. Entram na cachaça à sombra do alpendre, dos juazeiros, das algarobeiras.
Em Olho d’Água das Flores, é dia tradicionalismo em contar os bêbados logo pela manhã em famoso beco da cidade.
Chega a tão odiada pelos bebões quarta-feira de cinzas, mas abraçada pela fé católica como início da Quaresma; período de quarenta dias em que se aproveita para uma faxina negativa e reconciliação com o Grande Arquiteto do Universo. Isso faz lembrar o saudoso vereador santanense Zé Bodinho: “Não bebo durante a Quaresma de modo nenhum”.
E nesse amanhecer de março, enquanto uns estão ainda roncando jogados nas vielas, lambidos pelos cachorros e outros contam os bêbados dos becos, a Igreja abre as portas para cruzar a testa dos fiéis com cinzas bastante significativas. Afinal, tudo vira cinzas mesmo, apreciadas pelos sobreviventes da folia.