ORGULHO SERTÃO Clerisvaldo B. Chagas, 23 de abril de 2019                                              Escritor Símbolo do Sertão ...

ORGULHO SERTÃO



ORGULHO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de abril de 2019
                                             Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.096

Barreiro entre sertão e agreste. Ao fundo, serrote de Japão. (Foto: Ângelo Rodrigues/Repensado a Geografia de Alagoas).
O ouro do meu sertão é a água. Transparente, barrenta, suja, é a esperança de barriga cheia, fartura e vida. Quando chove semiárido é paraíso, quando armazena, divinos aplausos. A armazenagem sertaneja é feita naturalmente através das depressões, caldeirões e rachaduras de lajeiros pela água das chuvas. Chamamos a esses lajeiros, “pilões de pedras”, encontrados em inúmeras fazendas. São muito usados para lavar roupa, porém, mitiga a sede de animais domésticos e selvagens; e ainda serve às necessidades do gasto doméstico. Os humanos bebem dessa água sem restrições.
Quanto à armazenagem feita pelo homem o “barreiro” é o mais popular. Geralmente é feito em lugar baixo para aproveitar as águas de enxurradas e riachos. Era feito em batalhão (mutirão) onde o terreno é escavado e esvaziado através de couro de boi. Modernamente esse trabalho é feito através de tratores e nunca sai barato para o agricultor. O barreiro tem a forma tradicional esférica, mas pode assumir outras formas.
O “açude” ou “barragem” é muito maior do que o barreiro e varia de 100 metros a quilômetros, 3, 4 e até mais. Ultimamente os governos vêm disseminando cisternas de alvenaria ou plástico rígido, individualmente, nos sertão e agreste. Nas estiagens essas cisternas são abastecidas através de carros-pipas pelo governo do momento.
As estradas, as comunicações, os transportes, tudo com muita intensidade, fazem com que não se ouça mais sobre mortes de ser humano pela falta d’água. Rebanhos ainda morrem no sertão, muito mais pela falta de alimento do que pela sede. Apesar dos pilões de pedras, barreiros, açudes... Muita água se perde no sertão e toda armazenagem ainda é pouca.
Nós, sertanejos, continuamos resistindo bravamente iguais ao mandacaru, facheiro, xique-xique, rasga-beiço e coroa-de-frade. Fincados nessa terra abençoada de Meu Deus, lutando contra as adversidades e beijando corolas como abelhas embriagadas pelo néctar.
Sim, orgulho em ser nativo...
Nativo do SERTÃO.

O PEIXE DE CADA DIA Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2019 Escritor S ímbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.095 CENTRO PESQ...

O PEIXE DE CADA DIA

O PEIXE DE CADA DIA
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.095
CENTRO PESQUEIRO. (FOTO: MARCO ANTÔNIO/SECOM/MACEIÓ).
Quem passou pela última vez na chamada favela de Jaraguá, ficou ressabiado com o que viu. E o pior era que o lugar abrigava famílias que viviam da pesca, gente de trabalho honesto e decente. Não sabemos se ficaram satisfeitas com o deslocamento para outro ponto litorâneo, mas por certo estão esperançosos pela entrega do Centro Pesqueiro no lugar da favela, no próximo dia 6 de maio, pela Prefeitura de Maceió. Pescadores e comerciantes terão oportunidade de trabalho em lugar espaçoso, estruturado e dignificante, especialmente os que trabalham no Bairro Jaraguá da balança do peixe. Pelo menos no que se comenta, o novo espaço terá todas as condições de atender com estrutura tanto aos vendedores quanto a clientela do pescado.
O novo Mercado do Peixe contará com fábrica de gelo, estaleiros para barcos e depósito para o material de pesca, área de venda e armazenamento, lanchonete, oficinas, fabricação e consertos de redes de pesca, fabricação e conserto de leme e elétrica e motor para barco, além de sorveteria e outras prestações de serviços. O local ganhou um sistema de iluminação, instalado pela Superintendência Municipal de Energia e iluminação Pública (SIMA). Difícil é um lugar que vende peixe, atrair turistas, mas esta é uma das propostas, para o novo mercado que contará com a geração de cerca de mil empregos. Esperamos que toda a expectativa seja atendida para o bem dos habitantes maceioenses.
Emendam-se assim todos os benefícios das praias vizinhas como Jatiúca, Pajuçara, Ponta Verde e Cruz das Almas, ao grande empreendimento “turístico” do Bairro Jarágua, que ainda luta pela sua revitalização como o VLT – já presente na área – e funcionamento de órgãos públicos nos antigos armazéns que caracterizam a tradição aduaneira. Na próxima incursão à capital, iremos visitar a nova área da balança, isto é, o Centro Pesqueiro anunciado como maravilha.
Torcemos para que tudo dê certo e o Centro seja de fato um ganho real extraordinário para o alagoano. Mil empregos a mais com toda estrutura honram sim qualquer estado brasileiro.
O escritor não adora, mas não deixa passar em branco um aromático peixe assado.
(FOTO: MARCO ANTÔNIO/SECOM.MACEIÓ).










QUARTA-FEIRA SANTA             Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.094 – L...

QUARTA-FEIRA SANTA



QUARTA-FEIRA SANTA
            Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.094 – Literatura viva
Aos escritores alagoanos
 
                                     (FOTO: B. CHAGAS).
Lembrei-me do antigo relógio da Matriz como se aguardasse as doze badaladas costumeiras. Nem era meia-noite ainda. A grande lua redonda sorria como nunca no céu límpido, extremamente iluminado. Silêncio sepulcral na minha rua, ausência total de humanos, talvez somente almas em passeio noturno. Uma brisa leve soprava como algo vivo; e apenas um gato gordo e peludo mostrava-se na via tentando escalar certa árvore adormecida. O riso do céu continuava na Quarta-Feira Santa, bela e lúgubre numa solidão de fim de mundo. Veio à mente a novela “Noite” de Érico Veríssimo; a matraca de luto agitada pelo saudoso sacristão Jaime; o comprido das procissões; sons harmoniosos e inexistentes de violão boêmio. Um arrepio na pele.  
Lá no alto do relevo perto e longe, uma luz de poste acenava. Para quem se mostrava aquele foco? Tristonho como o roxo dos panos que esconde os santos, solucei sem soluços. Sarjetas enxutas, natureza morta, silêncio calado na minha rua, em todas as ruas... Metais reluzentes nas antenas retorcidas, ausência de pirilampos, nem um grito dentro da noite, nem metamorfose de bitucas na calçada. Espicho o pescoço ignorante. Monto no tempo e revejo o leito seco do rio ali pertinho, a areia grossa, a languidez de outra Semana Santa, no passeio solitário do poeta. Novamente o hálito misterioso daquele dia e desta noite soma-se às dores de Maria e sopra no coração do sutil observador da rua. O que estará pensando os céus?
Recolho-me à noite de dentro, à noite sem o riso farto da lua cheia, ao mundo das filosofias, dos enigmas, dos idílios reticentes ou das virtudes duvidosas. Portão fechado, passos de bichano, um café pequeno que transgride a hora, perguntas mudas, respostas sem tempo... Uma implosão de ais. Não sei se a madrugada entra na Semana Santa ou se a Semana Santa entra pela madrugada. Será que o gato subiu na árvore? Será que surgiu algum retardatário na rua? Não posso responder pelas bitucas, nem pela luz do poste que imita estrela. Estou perdido e achado dentro da “Noite” de Érico Veríssimo, de um conto de Fábio Campos ou da angustiosa vivência de Jesus.
Hoje é noite de quarta-feira, de Quarta-Feira Santa.