O RAIZEIRO Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.167 FOTO: NATURAL & BE...

O RAIZEIRO


O RAIZEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.167
FOTO: NATURAL & BELA GARRAFADAS

As plantas selvagens curativas utilizadas pela sabedoria dos pajés foram preservadas no crânio dos caboclos descendentes. O raizeiro ou a raizeira é pessoa simples que herdou os conhecimentos das plantas e com elas trabalha. Apesar do nome raizeiro, utiliza-se todas as partes da planta e não somente a raiz. Em todas as regiões brasileiras, encontramos esses doutores do mato, tanto fazendo garrafadas, quanto vendendo partes avulsas das plantas. Existem aqueles que apenas sabem fazer um tipo específico de garrafada, como exemplos têm a garrafada para alérgicos ou para bebida cachaça, chamada “misturada” ou “ninho de garrincha”, no sertão. Mas tem os que fazem garrafadas para todos os tipos de doenças.
Em todos os mercados do Brasil, mulheres vendem ervas para os mais diferentes fins. Muitas delas apenas vendem, mas não fazem as garrafadas. Acumulam, porém, a experiência como elo entre o raizeiro e o cliente. Para todos os tipos de doenças, desde as mais simples às mais perigosas, não falta esse tipo de medicina nas bancas dos mercados. Se não tem o que você procura, o produto pode ser encomendado. E quando se pergunta os nomes de tanta coisa de dentro da garrafa, geralmente o raizeiro desconversa. Cita dois ou três produtos e complementa “com muito mais”. Quem é da profissão também tem os seus preceitos, assim como a parteira prática e o rezador (benzedor, curador). É comum o raizeiro encomendar produtos de outra região: casca, raiz, folhas e entrecasca.
Em vários lugares do país, os conhecedores de mato são valorizados em reuniões, seminários e congressos dos conhecimentos naturais. São bases para estudos e pesquisas. Em outros lugares, entretanto, a valorização do raizeiro fica apenas em parte da população que não dispõe do acesso a médicos e farmácias. 
E se você sente atração pela Fitoterapia, não precisa adoecer para acompanhar o prazeroso trabalho de um raizeiro. Isto é, se souber conquistá-lo, pois a profissão guarda vários segredos que não gostam de exposições.
Quer tomar um “ninho de garrincha”?

AS CUECAS DE LABIRINTO Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alag oano Crônica: 2.166 RIACHO...

AS CUECAS DE LABIRINTO


AS CUECAS DE LABIRINTO
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.166

RIACHO DO NAVIO. (FOTO: BLOG ROBÉRIO SÁ).
A tradição teve início quando alguns pescadores de Santana do Ipanema foram pescar no alto sertão de Pernambuco, precisamente no riacho do Navio. Com o tempo e novos adeptos, foi formado um grupo de cerca de vinte pessoas que anualmente ia à pesca no Navio. Uma feira bem sortida para passar três dias e uma longa viagem que parecia não ter fim. Em um poço do riacho, cercado de pedras e árvores frondosas, a turma fazia acampamento e dormia em redes ou em barracas. Havia o cozinheiro, mas qualquer um podia comer o que quisesse a qualquer hora do dia ou da noite. As mantas de carne ficavam expostas no lajeiro à disposição e o restante da feira em engradados.  As brincadeiras eram grosseiras desde cortar os punhos da rede alheia aos cabeludos palavrões.
Durante a noite alguns cantavam, outros ralavam lata para não deixarem o companheiro dormir. Algumas vezes o pescado ficava exposto no areal e no pedregulho por falta de tratadores. A força da cachaça não deixava.
Depois essa tradição foi arrefecendo, os enfrentantes foram rareando e parece que hoje não mais existe. A distância também contribuiu contra a adesão de novos adeptos.
Naquele fuzuê todo, encontrava-se o senhor Sebastião Gonçalo, apelido “Labirinto”. A sua idade avançada não se incomodava com as brincadeiras sobre si. Cidadão decente e querido, sempre estava presente nas viagens a Pernambuco. Em Santana, companheiros começaram a dizer que Sebastião Labirinto só possuía uma cueca. Bastião afirmava que não, possuía doze, mas que eram todas da mesma cor. As lorotas continuaram até que um dia Sebastião chegou à roda de amigos com um pacote debaixo do braço. Conversa vai, conversa vem, quando os companheiros voltaram a brincar com o mesmo assunto. Sebastião entregou o pacote a um deles, dizendo olhe aí. Aberto o pacote, para surpresa de todos, havia onze cuecas iguais.
Sim senhor, exatamente o estoque de cuecas de Sebastião Labirinto.
Matou a pau.

OS PONTOS DAS PONTES Clerisvaldo B. Chagas, 19 de agosto de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.165  RAVINA S...

OS PONTOS DAS PONTES


OS PONTOS DAS PONTES
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de agosto de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.165

 RAVINA SOB A PONTE  DO RIACHO JOÃO GOMES. (FOTO: B. CHAGAS).
O trânsito de automóveis se expandiu muito no mundo e inúmeras passagens, pontes e viadutos não acompanharam a modernidade. Muitas são bem feitas, garantidas, mas se tornaram estreitas mais tarde e deixaram de priorizar o pedestre. Em Alagoas temos a ponte sobre o riacho Traipu e a de Dois Riachos, antigas, substituídas e convivendo ao lado das mais novas, como história de museu vivo. Em Santana do Ipanema, temos a ponte Cônego Bulhões, General Batista Tubino, Barragem e do Aterro. A do aterro recentemente ganhou pequena passarela em ambos os lados. Ponte curta sobre o riacho Camoxinga, extremamente perigosa, desafoga o trânsito central pela BR-316. A Cônego Bulhões em pleno Comércio, já foi ampliada e continua estreita, formando um funil para o trânsito.
A Ponte General Batista Tubino, em pleno comércio, possui passarelas estreitas e nem sempre um pedestre passa pelo outro sem descer para a pista perigosa. Além disso, sua murada não tem altura de segurança. Assim como o antigo Edifício Breda em Maceió, a ponte sempre aumenta a estatística de suicídio, da murada baixa às pedras do leito do rio Ipanema. A ponte da Barragem, na BR-316, tem as mesmas características da primeira, um ponto defeituoso do século XXI. Dizem os políticos, que não falta dinheiro, falta projeto. Assim os pedestres vão enfrentando automóveis e carretas numa ponte longa, estreitíssima, que mete medo.
Existe também a ponte sobre o riacho João Gomes, cujas passagens de pedestres têm a altura das canelas. Foi muito difícil pesquisar e fotografar o riacho, pelo trânsito intenso na rodovia. É passar correndo pelo seu leito, antes do próximo veículo que vem embalado. As margens do riacho são rigorosamente cercadas de arame farpado e que não há oportunidade de pesquisas por ali.
Quem diria! Tanta espera para se construir uma ponte e quando vem é para assustar os caminhantes.
Mesmo assim vê-se lixo ensacado, em baixo, jogado do alto. E olhe que o lugar é área de reserva ambiental.
Chega de pontes por hoje.