SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
IMPRENSE, ZÉ Clerisvaldo B. Chagas, 7 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.395 ...
IMPRENSE, ZÉ
Clerisvaldo B. Chagas, 7 de outubro de
2020
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 2.395
Com o mundo dos circos em alta e pouquíssimas diversões na cidade, a chegada de um deles agitava toda uma população, Em Santana do Ipanema, o circo era armado onde hoje estar implantado o Mercado de Cereais, no Bairro Monumento. Posteriormente os circos ficavam armados por trás da Delegacia de Polícia no lugar Aterro. Havia no local uma árvore centenária com uma casa ao lado de uma senhora branca, alta, cara enrugada, irritadíssima e “boca porca” chamada Mirindão. Apesar dos nossos apelos literários e ecológicos, o então, prefeito Paulo Ferreira amolou o machado na árvore de Mirindão. Os circos, geralmente distribuíam brindes (ingressos) com autoridades e gente de influência. Logo cedo, o palhaço perna de pau estava nas ruas acompanhado pela criançada com tinta preta nos braços como senhas para o espetáculo noturno. E quando não era o perna de pau, era o palhaço montado num jegue, virado para trás e megafone à mão.
“Peguei na aba do meu chapéu...” E a meninada
respondia atrás: “Mulher buchada não vai pra o céu...”
O circo era grande espaço cultural. Além do
espetáculo propriamente dito, apresentava ainda a segunda parte denominada:
drama. Peça teatral muito bem encenada que chegava até arrancar lágrimas de
muita gente. Alguns adolescentes sem dinheiro costumavam “maiá”, na linguagem
deles, significava burlar a vigilância, passa sem ser notados pelas cerca de
arame e entrar por baixo da lona, saindo em baixo do poleiro. Vez em quando
eram flagrados pelos do circo.
Pois bem, um sujeito não perdia espetáculo.
Mostrava um belo cartão ao porteiro com o nome IMPRENSA e entrava sem ser
importunado. Um dia, porém, o porteiro estava com um mau humor terrível e
indagou abusado: “O senhor é o quê? Repentista, comunista, jornalista ou o que
peste é?
E o cabrão, fazendo trejeitos com a cara mais
sem-vergonha do mundo, respondeu: “Eu mando imprensar, bobagem! Como você não
imprensa, eu entro”.
Mas o progresso que derrubou teatros, bailes e
folclore, também não deixou escapar o circo de uma permanente e mortal rasteira
de validade.
VOCÊ CONHECE? Clerisvaldo B. Chagas, 5 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.383 (FOTO: B. CHAGAS). Con...
VOCÊ CONHECE?
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de outubro de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.383
Conheci
o início da formação do paraíso no rio Ipanema, quando estive lá em uma pesca
de esgotamento de poço. Um dia inteiro esgotando águas de pequenas poças e um
fim de tarde com peixe para dar e vender. Lembro-me que fui a convite de Luiz
Fumeiro, o fundador do time Ipiranga. Já havia avenidas de mato ralo, algumas
rochas descobertas, várias em formato de panelas com se tivessem sido
esculpidas pelo homem. Fiquei encantado. Tempos depois passei ali na minha
caminhada a pé pelo rio Ipanema, das nascentes a foz, o lugar havia evoluído.
Cerca de vinte anos depois, a transformação foi enorme. O rio Ipanema escavou
cerca de 1 km do leito, descobrindo rochas de todos os tamanhos. As plantas
começaram a nascer pelos arredores, na areia, pelas frestas das rochas,
surgindo muitas espécies da caatinga: rasteiras, cactáceas, xerófitas e
arbóreas com altura de 15, 20 metros. Entre os desenhos das rochas fios d’água
e poços formam um conjunto incrível que duvido seja menos belo do que os
jardins da Babilônia.
O
Ipanema cheio é um rio comum, ele seco é um jardim em diversos trechos do
Sertão. Revelamos esse paraíso para os santanenses, tivemos lá várias vezes,
inclusive com Dona Joaninha – saudosa líder comunitária – e a reportagem da TV
Gazeta. O lugar passou a ser um refúgio natural para os animais como serpentes,
teiús, raposas, gatos do mato, aves e pássaros, alguns levados e soltos ali
pelo próprio IMA. Uma família que mora às suas margens, usa e defende o trecho
como propriedade particular proibindo as ações predatórias do homem.
O
trecho do rio Ipanema é chamado de “Cachoeiras”, localizado logo após os
subúrbios Maniçoba/Bebedouro. Enquanto o trecho urbano do Ipanema estar
recebendo toneladas de fezes pelos esgotos da cidade e pela própria responsável
pelo saneamento – segundo denúncia de vereador na tribuna – o paraíso das fezes
e o paraíso verdadeiro dividem o Pai de Santana entre inferno e céu. Conheça as
“Cachoeiras”.

O PÉ DE PICA DA PREFEITURA Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.382 Antiga pre...
O
PÉ DE PICA DA PREFEITURA
Clerisvaldo
B. Chagas, 2 de outubro de 2020
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.382
Após
a primeira reforma da prefeitura de Santana do Ipanema, em 1938, para a época,
o ambiente ficou bastante agradável. Chamava atenção os grandes janelões de
madeira que abriam e fechavam através de cordões robustos permitindo a entrada
intensa da claridade natural. As laterais do prédio suportavam bem o movimento
de pessoas e, tanto nessas laterais quanto no pátio frontal havia várias
árvores ajardinando o edifício. Mas, apesar da beleza das árvores, havia um,
porém. Algumas delas botavam frutos estranhos.
Eram relativamente pequenos, duros e esverdeados. Possuíam formato de
duas glandes, uma para cima, outra para baixo. Ninguém nunca definiu o nome
científico das árvores safadonas. Nem também se sabia se teriam sido plantadas
naquela reforma ou muito depois.
Homens
feitos mostravam com malícia aos adolescentes, os frutos em formato de cabeça
de pênis. Estes era colocados na mão fechada escondendo uma parte e mostrando
apenas a outra, o que de fato se assemelhava ao órgão sexual. Tanto havia
admiração de quem conhecia o troço, quanto risos sem-vergonhas depois. Naquele
tampo havia certo cuidado para não ser mostrados às mulheres e gerar
constrangimentos. Mas também havia aquelas que agiam semelhante aos homens. As
árvores permaneceram na prefeitura por longo período. Para evitar maiores
constrangimentos e repercussões negativas ao poder público, as árvores foram
derrubadas a golpes de machado, tudo indica no governo municipal Genival
Tenório.
“Como
se chama essa árvore?”, indagavam os curiosos. A resposta era quase sempre a
mesma: “Um pé de pica”. E Assim, como
ninguém sabia o nome verdadeiro do vegetal, o “pé de pica” ia varando as
gerações. Após sua erradicação, acabou-se o constrangimento feminino e até o
prédio ficou mais iluminado.
No
primeiro governo Isnaldo Bulhões, o prédio da prefeitura sofreu uma segunda
reforma que pareceu muito adiantada para a época, porém, atualmente, bem que a
prefeitura ficou pequena para tantas atividades. Já está obsoleta. Mas, mesmo
que seja construído um edifício nova geração de arquitetura, estar banido para
sempre o
charmoso
e safado Pé de Pica.

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.