O CEASA DE SANTANA Clerisvaldo B. Chagas, 3 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.411   Quando o, e...

 

O CEASA DE SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.411







 

Quando o, então, prefeito Nenoí Pinto, disse que iria construir um Centro de Abastecimento Hortifrutigranjeiro em Santana do Ipanema, houve muita alegria e esperança de melhores dias. Foi desapropriada uma área de terra, próxima ao açude do Bode e as máquinas ainda chegaram a trabalhar naquele chão que já fornecera material para o açude e para a BR-316. Portanto um terreno que deixou de ser agricultável. Todavia, a obra parou de repente e o lixo logo tomou conta do local. Sobre a desistência de continuar os trabalhos, só o prefeito da época poderá dizer o motivo. As donas de casa engoliram seco e continuam abastecendo as suas respectivas cozinhas, chorando com o preço absurdo de feira livre e casas comerciais.

Houve-se muito a frase de que Santana do Ipanema é a melhor cidade do interior de Alagoas, para se viver, mas ela tem seu calcanhar de Aquiles há décadas: a carestia. Lembremos dos versos de um poeta sertanejo anônimo, da metade do século XX:

Maceió é pra negócio

Santana pra carestia

Mulher feia só no Poço

Ôi pelado n’Água Fria

Cachaceiro no Chicão

E ladrão na Maravia...

 

Portanto, continua a necessidade de um Centro de Abastecimento onde qualquer pessoa possa comprar em grosso por um preço razoável e abastecer sua casa e de familiares. Está aí uma sugestão de suma importância para os seis candidatos a prefeito de Santana.  Aliás, o Centro de Abastecimento não é só para a cidade, mas serviria à toda região do semiárido. Temos que avançar em diversos setores, principalmente para facilitar uma alimentação em conta, farta e saudável.

Quanto ao local, o que não falta nos presentes dias, são terrenos à venda por todas as periferias de Santana

Hoje, onde funcionaria o Centro, tem uma belíssima creche e um posto de Saúde.

Quando virá o nosso CEASA?

CEASA DE MACEIÓ (FOTO: bairros de Maceió.Net)

 

 

    CHUVAS DE OUTUBRO Clerisvaldo B. Chagas, 2 de novembro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.410 Entramos no ...

 

 

CHUVAS DE OUTUBRO

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de novembro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.410

Entramos no início da safra do caju e da manga que se estica até, aproximadamente, fevereiro. Com o litro de castanha vendido a 50,00 reais, as recomendações médicas ao produto viram coisa de rico.

Mês de outubro sempre foi o mês mais seco em nosso sertão alagoano, porém, no dia 27 último, aconteceu muita chuva no Sertão e Alto Sertão do nosso estado. Alegria e riqueza para o sertanejo que, logo no dia seguinte já estava com as ferramentas da roça para o planto de milho, fava, feijão-de-corda, melancia, abóbora e outros cultivares. A chuvarada veio beneficiar a safra da manga e do caju. Além disso, a chuva que veio acompanhada em alguns lugares, com raios e trovões, mostra a antecipação das trovoadas que beneficiam o semiárido com água no prolongamento da primavera/verão. Ajuda ao sertanejo a chegar ao próximo inverno com água nos barreiros e nas barragens, engordando o gado, melhorando a pastagem, duplicando a produção leiteira.

Com certeza teremos o nosso prato típico de volta com força: galinha de capoeira com feijão-de-corda e manteiga de garrafa.

Quando chove assim, de início sobressaem no comércio as casas de material agrícola, mas as outras se retraem com a diminuição da família rural na cidade durante à semana e em feira-livre. A família não pode perder tempo na cidade em troca da lida no campo. Porém, após a safra dos seus produtos, novamente o agropecuarista retorna ao comércio trazendo os familiares. Circula o real em todas as bibocas e as palestras puxam as bocas de orelha a orelha.

Deus pinta uma Natureza dinâmica desde os primeiros pingos de chuva. O boi, alegre cava o chão, o peixe dá lapadas no açude, O quero-quero faz festa pelas manhãs, o carão rodeia a lagoa e os sapos orquestram nos banhados. O chefe da casa corrige a biqueira, a velha da fazenda acende o cachimbo de coco catolé e o azulado da fumaça faz corrupio no oitão.

Quando as abelhas rasgam o espaço em busca das floradas, o escritor se irmana ao sertanejo e diz: “O paraíso voltou”.

CHUVA NO SERTÃO (FOTO: B. CHAGAS)

 

 

  SEU CARRITO E O OVO DA JUMENTA Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.409   J...

 

SEU CARRITO E O OVO DA JUMENTA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.409

 

Já falei aqui sobre o personagem da minha terra, Carlos Gabriel, o Seu Carrito. Bodegueiro na Rua Antônio Tavares, muito prosperou no seu negócio com bodega bem sortida, bastante elegância e educação. Magro, aprumado, chapéu de massa, fala mansa e compassada, bigode sem exagero e muito querido ali naquelas redondezas. Gostava da fazer folclore em tempo de Semana Santa, quando promovia o pau-de-sebo e a casa-de-urtiga, no terreno baldio defronte a bodega onde hoje é a casa do, então, prefeito Paulo Ferreira. No salão do seu estabelecimento de esquina, sempre tinha pessoas palestrando. Carrito alimentava essas palestras, quando havia pausas entre as compras da sua clientela.

O comerciante gostava de contar histórias das administrações passadas, de Santana do Ipanema, dos bairros, da cidade... Era uma espécie de historiador local, para uma plateia, infelizmente, analfabeta em maioria. Foi através dessas palestras que escutei ali quando rapazinho, sem saber que no futuro estaria reproduzindo em livro os ensinamentos do querido bodegueiro. Posso exemplificar sobre o histórico da igrejinha de São Pedro, nossa vizinha da Rua e Bairro São Pedro. Caso soubesse do meu futuro como escritor e historiador da terra, teria obtido livro completo sobre nossa cidade, mas é proibido prever o dia de amanhã.

Nas imediações da bodega, já na rua de baixo, chamada Rua de Zé Quirino (construída por ele, o Quirino), morava uma cliente da bodega, fofoqueira de ofício. O que via, o que quase via, o que nada via, “espalhava aos quatro ventos”, como reza o ditado popular. Por isso ou por aquilo andou boatando coisas. Nunca procurei saber o quê. Carrito, não querendo ser direto e grosso com a cliente, aproveitou uma daquelas palestras em que a cuja estava presente e disse para todos com muita seriedade: “Tinha uma jumenta lá no sítio Sementeira (estação experimental do governo) que botava ovos semelhante às galinhas...”  Ninguém entendeu nada, nem indagou, inclusive eu que estava presente.

Só muito depois fui raciocinar e compreender que Seu Carrito dava uma lição na mulher presente, tiraria à prova da sua língua ferina quando ela espalhasse a conversa da jumenta da Sementeira.

Carrito, além de historiador, aplicava assim seus dotes da psicologia.

Obs. Somente depois das bodegas, vieram as mercearias, maiores e mais sortidas.

PAU DE SEBO. (FOTO: DIVULGAÇÃO/SEJAL)