VOCÊ CONHECEU A GOMA? Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.718   Qual é a col...

 

VOCÊ CONHECEU A GOMA?

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.718

 

Qual é a cola que você usa? Neste momento estamos tentando colar papel, mas a cola branca escolar está vencida e não presta mais para nada. Antigamente eu quebrava esse pequeno galho fazendo cola de goma na colher e no fogo. Então passei agora para o meu neto o tempo das cartas normais e das cartas de amor perfumadas através dos Correios. Se não levávamos as correspondências já fechadas, havia no balcão dos Correios um depósito de vidro grosso e transparente – semelhante a um tinteiro – que continha a famigerada goma arábica. Havia também um pequeno pincel e, o usuário mesmo colava a sua carta passando a goma líquida com o pincel. Não era coisa ruim nem complicada fechar uma carta. Um ato muito prático, por sinal.

A goma arábica era resina amarela de duas espécies de acácia encontradas na África subsaariana.  Esquentada para ficar líquida, iria para o recipiente a servir à clientela da repartição. Nunca procuramos saber onde era vendida ou se era exclusiva da importação dos Correios. Não sabemos se eles ainda usam a mesma goma em seus maravilhosos trabalhos.

E por falar em Correios, o seu prédio foi construído em Santana do Ipanema no Bairro que estava sendo ainda iniciado e lentamente se expandindo, o do Monumento. O terreno foi doado à União, pelo interventor municipal, Firmino Falcão Filho, o Seu Nozinho (ô). Construído o edifício em estilo padrão, continua o prédio sem sofrer nenhuma modificação significativa, externamente.

Na década de 60, os Correios, em Santana, tinham como maioria dos seus funcionários, pessoas de meia-idade, acima. Até mesmo carteiros.

Mas, voltando à goma arábica, qual será a goma usada atualmente pelos Correios? A tecnologia utilizada hoje, permite à indústria fazer cola de tudo. Até daquele tipo que não permite funcionário desonesto esquentar a missiva arábica para amolecer a goma, abrir e ler o conteúdo da carta, como já aconteceu.

Atualmente, pelo menos em Santana do Ipanema, uma geração nova faz funcionar essa repartição que existe na terra desde antes de Santana vila.

Com goma ou sem goma, vamos varando as eras e encoivarando os tempos.

GOMA ARÁBICA EM PEDRAS (FOTO:MERCADOLIVRE)

 

  CERCA DE VARA Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.716   Os sertões nordest...

 

CERCA DE VARA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.716

 



Os sertões nordestinos vão perdendo cada vez mais a vegetação nativa do seu Bioma. A caatinga vai se transformando em área pelada, não pelas secas periódicas, mas sim pelas ações destrutivas provenientes da falta de consciência de donos de terras. Sertão pelado faz desaparecer fauna, flora, construções e objetos   sustentados pela mata em pé. Fumaça na mata, fumaça na matéria-prima, fumaça no produtivo. Assim vai se evaporando a tradição, menos pela chegada do moderno, mas pela falta de amor aos devastadores da Natureza. E eles não são poucos.   A cerca de varas está no meio dos feitios sertanejos, mas em extinção apesar de tantas mostradas por aí.

O uso geral desse tipo rudimentar de cerca é mais encontrado em casas, sítios e propriedades rurais cujos donos possuem baixo poder aquisitivo. Antes, era a falta do arame farpado depois, a própria economia, pois despesa com arame e estacas de madeira ou de cimento continua nas alturas. Antes as cercas de varas protegiam os jardins feitos pelas donas de casa e a roça verdejante da sanha devoradora do gado miúdo: bodes e carneiros. Hortas eram coisas raras nos sertões, pois a valorização estava apenas na lavoura do feijão, do milho da mandioca. E a proteção de cercas de qualquer tipo contra o bode, a cabra, o cabrito, é coisa praticamente perdida, pois o bicho sobe até em árvores e faz malabarismos por cima de cercas de varas.

Cercas de madeira podem ser verticais e horizontais, feitas de varas, de vime, de cipós, de garranchos, de tábuas, de bambu ou mesmo de estacas juntas abraçadas por aramado.  No tempo do cangaço facilitava bem a investida silenciosa dos cabras de Lampião às residências casebres de taipa. Apesar de ser uma coisa barata e simples, não é para todo mundo a habilidade de se construir uma cerca bem feita de quilômetros de distância. Na atualidade, porém, é saber onde conseguir essas varas com o sertão pelado.

Quanto a outras serventias em possuir uma cerca de madeira é a precisão em ministrar uma surra num cabra safado, dizia um amigo nosso. O marido chega bêbado em casa, perturbando, só resta a dona do lar “danar-lhe uma surra de vara para quebrar-lhe as pontas”.

O amigo tinha experiência!

CERCA DE VARAS (FOTO: AUTOR NÃO IDENTIFICADO).

 

 

 

  AS BRIGAS DO TEMPO Clerisvaldo B. Chagas, 14 de junho de 2022 Escritor Símbolo do sertão alagoano Crônica: 2.715   As brigas de ...

 

AS BRIGAS DO TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de junho de 2022

Escritor Símbolo do sertão alagoano

Crônica: 2.715


 

As brigas de touros em território santanense era uma opção para o longo tempo sem futebol.  O auge da bola com tantos times formados nos bairros da cidade, entre eles o São Pedro, desapareceram com o tempo, com a falta de estímulos. Futebol foi embora de vez. Então, jovens fazendeiros começaram a organizar brigas de touros como saída da apatia do domingo. Praticamente não havia arena definida para os combates que podiam ser na fazenda, no leito seco do rio Ipanema ou numa estrada de pouco movimento. Houve uma certa paixão pelos embates, mas as apostas era o incentivo do negócio. Apesar de tudo, o novo esporte não conseguia atrair multidões, Depois de certo tempo, não muito, teve o mesmo destino do futebol.

Já as brigas de galo tiveram boa duração.  Todas as classes sociais tinham seus representantes nas rinhas da cidade. Era uma febre em que víamos direto os nossos amigos com um galo debaixo do braço. O animal brigava tanto no solo das ruas quanto nas rinhas mais sofisticadas de Santana. Quanto às apostas não sabemos informar uma vez que não frequentávamos esses lugares. A nossa impressão é que o motivo de ter acabado tudo foi a proibição, pois esse esporte possuía grande potencial para o crescimento. Mesmo assim, ainda se encontram pessoas cuja paixão fazem-nas burlar a Lei. Há alguns meses um galo de briga solto na rua atacou uma senhora. Sua sorte foi uma sombrinha aberta conduzida por ela que a livrou de várias investidas do bicho. Foi atendida no Unidade de Saúde Posto São José.

Outra opção ao lazer, foi a corrida de cavalos. No princípio teve êxito e se desenvolveu. Acontecia no sítio Barroso a 2 ou 3 km da cidade. No grande terreno plano ainda não havia o Cemitério do Barroso, São José. As corridas eram feitas sem nenhuma proteção com cerca de arame farpado. A multidão de Santana do Ipanema lotava as duas margens da pista de corrida e, a cada uma delas, mais aumento de indivíduos baseados na fama e nas apostas do hipódromo sertanejo. Tinha tudo para dá certo, mas um dos apreciadores faleceu devido a uma peitada de um dos cavalos. Acabou tudo.

Quanto ao jogo de bola, está uma lástima.

Quer futebol? Dirija-se a Olho d’Água das Flores, Pão de Açúcar Palmeira dos Índios ou Arapiraca, Cabra Velho.

Mas que coisa!

BRIGA DE TOUROS (FOTO: SEUMENINO).