SOBRE MIM
Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
O TEMPO DÁ UM TEMPO Clerisvaldo B. Chagas, 24 de outubro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.788 Desconsiderand...
O
TEMPO DÁ UM TEMPO
Clerisvaldo
B. Chagas, 24 de outubro de 2022
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.788
Desconsiderando
o período anterior às ferrovias em Alagoas e os primeiros ramais, chegamos a
1891. A linha de ferro para o vale do Paraíba, bifurcando-se em Lourenço de
Albuquerque, foi inaugurada no ano acima, chegando até Viçosa. Nessa fase, as
pessoas do Sertão que viajavam até à capital, passavam dias em lombos de
cavalos de sela. Os relatos anteriores à linha férrea em Viçosa, estão
praticamente fora das informações encontradas no dia a dia estudantil, no que
se refere às maratonas que o sertanejo enfrentava para chegar a Maceió. Com a
composição chegando até Viçosa, as viagens sertanejas, receberam até um bom
alívio, porque os cavaleiros se dirigiam até àquela cidade, onde embarcavam no
trem até Maceió.
Somente
21 anos após Viçosa, isto é, em 1912, já no fim do ano, os trilhos chegaram a
Quebrangulo, encurtando bastante a jornada dos sertanejos viajantes a cavalo.
Passaram a apanharem o trem em Quebrangulo (antiga Vitória). Somente em 1934
(22 anos após), a estrada de ferro desceu dos altos e alcançou Palmeira dos
Índios. Com o trem na “Princesa do Agreste”, as viagens cavaleiras não
acabaram, mas foram mais encurtadas ainda para o mundo sertanejo. Somente
quando os caminhos foram alargados e surgiram as estradas de rodagens, o Sertão
se ligou a Palmeira dos Índios com os ainda raros automóveis e caminhões. Para
os dias atuais não, mas para à época já era um belo conforto a mais. Os
sertanejos chegavam a Palmeira em boleia/carroceria de caminhão ou automóvel no
dia anterior à viagem do trem. Dormiam nos hotéis da cidade e ainda na
madrugada, desciam para a estação na cidade às escuras. Foi assim que viajaram
às cabeças de Lampião e Maria Bonita até à capital.
Depois,
com rodagem direta até o litoral, mesmo na poeira, na lama, nos catabius (solavancos
na buraqueira) representava uma conquista extraordinária. Essa geração já
chegou com o asfalto pronto, Sertão – Maceió e se não sabe nada do passado, até
pensa que tudo foi sempre assim. Porém,
mesmo neste início do Século XXI, o Sertão alagoano ainda não pode contar com
um único aeroporto. Estagnou na conquista dos transportes.
Fazer
o quê?
PALMEIRA
DOS ÍNDIOS, VISTA PARCIAL (FOTO: PREFEITURA).
O SERTÃO E O PORCO Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão alagoano Crônica: 2.787 Dificilment...
O
SERTÃO E O PORCO
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2022
Escritor Símbolo do Sertão alagoano
Crônica:
2.787
Dificilmente
faltava nas fazendas o porco doméstico que era criado em pequeno grupo de 3 a 4
cabeças, em chiqueiro de varas ou alvenaria. Esse porco era criado principalmente,
com restos de comida, abóbora e muitas outras coisas extraídas da roça e do
mato. Isso era para complementar a renda do agricultor que recebia a visita de
quem comprava porco ou levava para a feira, em gradeado ou tangendo, a pé. Sempre
encontramos gente que não gostava de criar o animal por causa do mau cheiro, da
falta de comida, além da voracidade do bicho; porém, a fedentina não estava no
porco, mas sim na imundície das misturas que se formavam no chiqueiro. Havia
basicamente duas raças de porcos no Sertão denominadas pelo povo de: baé e do focinho
grande. O porco baé, pequeno, arredondado engordava ligeiro e possuía maior
valor. O porco de focinho grande, levava o triplo do tempo e era desvalorizado.
Com
as experiências genéticas e nutricionais, surgiu há cerca de quarenta anos, o novo
porco chamado pelas indústrias de “suíno” e pelo povo do Sertão de “porco
galego”. Foi desenvolvido para os grandes criatórios com mais carne e quase sem
banha, melhor preço de venda, alimentado somente com ração. O porco doméstico
continuou endo chamado de porco e, consequentemente foi desaparecendo. O porco
galego, com todo exagero, parece um jumento na altura e é muito comprido.
Condições mesmo para criá-lo somente nas granjas milionárias de exportação. Por
aqui não conhecemos nenhuma nestas condições, mas dizem que têm granjas fortes
de suínos em Traipu e Arapiraca. O caboclo que saiu da roça para a periferia da
cidade, trouxe o hábito para um chiqueiro no quintal, já utilizando o suíno, ‘o
galego”. Um tormento de fedor para a vizinhança.
Não
existe sabor nas águas melhor do que o camarão, bem como não tem em terra nem
nos ares, carne mais gostosa do que a de porco. Mas, já havia restrição a ela
no Antigo Testamento e mesmo sobre forte pressão muita gente a evita. Já
ouvimos um médico dizer a uma senhora cheia de problemas físicos: “se a senhora
bem soubesse não comeria carne de porco”. Também ouvimos outro médico falar que
até as proteínas do animal não combinam com as proteínas humanas. Nossos
antepassados já evitavam carne de porco. Comer ou não comer, eis a questão. Afinal de contas, nem somos a China e nem a
Rússia, medonhas devoradoras do produto.
SUÍNO
DE GRANJA OU “PORCO GALEGO”, AINDA NOVO (FOTO: NUTRIÇÃO E SAÚDE ANIMAL.COM.BR).
LAGOAS SERTANEJAS Clerisvaldo B. Chagas, 20 de outubro de 2022 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2786 As lagoas serta...
LAGOAS SERTANEJAS
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de outubro de
2022
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2786
As lagoas sertanejas acontecem quase sempre por
motivo de uma depressão do terreno. Podem ser maiores de que um campo de
futebol ou simplesmente do tamanho de uma quadra esportiva. O que não falta
mesmo na zona rural sertaneja são nomes de lagoas em numerosos lugares, mesmo
que muitas delas estejam extintas por negligência, porém, sítios, comunidades
(vários sítios politicamente juntos) e até povoados tornaram-se amplamente
conhecidos pelas suas lagoas. No Agreste, mesmo, existe a cidade satélite de
Arapiraca, cujo nome é Lagoa da Canoa, já bastante conhecida e de progresso
crescente. Não iremos comparar as pequenas lagoas sertanejas com as mais
famosas que deram nome ao estado, mas sim, exaltar as suas serventias.
Durante o inverno, as lagoas sertanejas recebem
águas das chuvas, das enxurradas... Das torrentes. Funcionam ao natural como os
barreiros que são artificiais. Acontece, porém, que são pobres em profundidade.
O líquido acumulado mata a sede, principalmente dos rebanhos bovinos, equinos,
muares, asininos, ovinos e caprinos. É uma diversão espetacular para gansos e
patos das fazendas, marrecos e paturis selvagens. Aliás, todos os bichos não
domésticos procuram saciar a sede nas lagoas. Pode acontecer nessas fontes de
pouca duração também, um círculo curto em criatório de peixe miúdo. Alguns
proprietários mais zelosos, limpam as lagoas antes da chegada das águas e assim
também aproveitam o líquido para a bebida humana, tal qual o barreiro.
Durante a estiagem, algumas ainda duram algum
tempo com água conforme o lençol freático, outras, logo secam. Então vem a
outra face da lagoa. A umidade faz criar pasto para o rebanho, tanto no leito
quanto nos arredores, fazendo um lugar privilegiado igual a uma várzea. Até as
guinés ou galinhas d’angola aproveitam as pequenas formações de capoeiras para
ali esconderem seus ovos. Podem representar lugar de banho e lazer para o
homem, mas nunca notamos plantio nas lagoas sertanejas. Quando secam formam uma
poeira cinza clara ou escura e feia e que ficam ocupadas por garranchos,
gravetos, quando não são cuidadas.
As pequenas lagoas fazem parte da alma
sertaneja.
Vida inteligente no Sertão alagoano.
LAGOA SERTANEJA EM TEMPO BOM (CRÉDITO: PORTAL
FÉRIAS).
Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.