COURO DE JUMENTA Clerisvaldo B. Chagas, 23 de janeiro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.830   Em torno dos ...

 

COURO DE JUMENTA

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.830

 



Em torno dos anos 60, um coronel do sertão, em Poço das Trincheiras, resolveu convidar os amigos e oferecer farra e almoço na sua fazenda. Houve muitos comentários na época em toda a região. Todos beberam animadamente, até que saiu o tão aguardado almoço. No final da refeição, o coronel pediu atenção para um pronunciamento e perguntou aos convidados se sabiam o que tinham comido. Diante de tantas respostas inocentes, o coronel ria e falava: “vocês comeram carne de jumenta”. E para provar o que disse, mostrou o sexo da jega quando houve um burburinho grande na roda de amigos. Uns se conformavam dizendo que “foi bom”. Outros metiam os dedos na goela para provocar vômitos. Foi um deus-nos-acuda! Esse caso teve muita repercussão principalmente nos ciclos boêmios da região sertaneja.

Pois bem, com aproximadamente 60 anos depois desse fato, estávamos entrevistando o senhor Daniel Manoel, de 81 anos e que trabalhou em todos os curtumes de Santana, sobre os detalhes daquela atividade em nossa terra.  Quando ele nos dizia que os curtumes curtiam couro de todos animais domésticos e selvagens, falou o seguinte: “Uma vez curtimos o couro até de uma jumenta, enviado pelo coronel fulano de Poço das Trincheiras”. Que coincidência medonha! A prova fatídica após tanto tempo, do caso do Poço. Como se descobre as coisas sem perguntar!  Entretanto, não é que esqueci de acrescentar essa passagem no livro terminado “Santana, o Reino do Couro e da Sola”. Eita “coroné”, danado!

A nossa ética na tradição brasileira, é não ao consumo de carne cavalar e semelhantes, mas os chamados coronéis sertanejos em muitos casos faziam as suas próprias leis, inclusive, retirar o couro das costas dos seus desafetos, em forma de tiras.  Voltando ao caso do couro do asno fêmea, não sabíamos antes da curtição desse couro. Foi curtido com qual finalidade? Talvez para ser exibido durante muito tempo como troféu, rir outras vezes daquela situação e afirmar o poder de mandachuva até nas brincadeiras farristas de péssimo mau gosto.

De qualquer maneira, agradecemos ao nosso entrevistado por essa lembrança inusitada de 60 anos atrás, na história dos curtumes.

ASNO PASTANDO NO LEITO DO IPANEMA SECO (FOTO: B. CHAGAS).

 

  GOELA ABAIXO Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2023 Escritor Símbolo do sertão Alagoano Crônica: 2.829   Estamos lendo sob...

 

GOELA ABAIXO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2.829

 



Estamos lendo sobre um projeto público, ao mesmo tempo lembrando de uma palestra que assistimos em Arapiraca, há muito tempo. Uma senhorita que atuava na Cultura, nos explicava de plano que foi elaborado para os artistas da terra e, que foi um grande fiasco. Disse ela que após o fracasso, a equipe sentou-se para analisar a causa de tanto descontentamento quando posto em prática o projeto. A equipe descobriu o “X” do problema. Não era aquilo que a classe queria.  E ficou a lição de que em projeto público a classe interessada deve ser ouvida e fazer parte do projeto. Nunca impor de goela abaixo. Todos convocados, novo projeto à mesa e êxito total na sua implementação. Mas, o que impressionou mesmo naquela palestra que ouvimos, foi a humildade da palestrante em reconhecer o seu erro e ainda aconselhar a todos os presentes.

Estar aí um motivo para afastamento da arrogância e da soberba de alguns dirigentes nesse país, que agem como aquele que dá uma esmola na rua. Muitos que se elegem a alguma coisa com o voto do povo, caem na tentação de acharem que “tudo agora é meu”, e assim agem como os antigos escravocratas donos de engenho do passado, acreditando piamente que são superiores aos que os colocaram no poder. Até que frequentam templos religiosos para serem vistos e assim darem satisfação à sociedade, não acreditam, porém, intimamente que Deus está acompanhando de perto todos seus atos malévolos, mascarados de caridade.

E como ouvimos do cantador de viola sobre a morte, a riqueza acumulada (ilicitamente) não cabe no caixão, nem o poder e nem nada além do corpo e alma corrompida que seguirá para regiões onde se pagará até o último ceitil de tantas dívidas acumuladas na terra. Nada adiantará a desfaçatez de homenagens terrenas e bestas porque o corrupto estará pagando caro longe da soberba familiar.     Isto não representa desabafo algum, apenas uma observação juntos aos repentistas nordestinos. Afinal, como dizia o quadro que havia na Farmácia Vera Cruz: “entrai pela porta estreita, larga é a porta da perdição”. Mas, que perdição? Perguntam os incrédulos.

Antes de partir você saberá.

ARAPIRACA AO ENTARDECER (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

  VISITEI A ESCOLA Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de janeiro de 2023 E scritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.828   Ontem (te...

 

VISITEI A ESCOLA

Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de janeiro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.828

 



Ontem (terça) visitei a Escola Estadual Prof. Aloísio Ernande Brandão, na região do Complexo Educacional.  Programado também, um encontro com o prof. Marcello Fausto, tendo em vista programações literárias em andamento. Matei a saudade dos arredores onde estão situados também o Colégio Estadual Mileno Ferreira e o Colégio Estadual Laura Chagas. E se a satisfação retorna em rever a educação, outras visões negativas no perímetro deixam entristecidos qualquer profissional do ramo ou aluno dos áureos tempos do Ensino pelas imediações. Muito abandono em obras físicas do entorno e flagrantes de descasos interno que chocam, revoltam e comovem ao mesmo tempo. Prefiro, porém não detalhar meus olhares no negativo e, correndo o risco de ser otimista para o Complexo, acreditar em inúmeras providências que deverão ser tomadas.

Somente para falar de uma coisa não boa, no tempo em que estávamos, ainda na ativa, uma chuvarada derrubou parte do muro que cerca o complexo. Anos e anos depois, a fatia derrubada do muro aumentou tanto que em percentagem não sabemos calcular. Sozinho por ali, tentei fotografar gado bovino, ovino, equino e muar que fazem do complexo verdadeiro paraíso de fazendeiros sem fazendas que teimam em criar os bichos no terreno escolar e do governo. Como ainda estava muito cedo, a bicharada ainda não havia chegado. Sem nada dizer da minha impressão, fui conversar com o professor  Marcello sobre temas literários e aí sim, muitas notícias boas que fazem flutuar a esperança.

E no terreno insalubre onde estão assentados hoje os três colégios do estado, repasso para o professor Marcello minha teoria sobre o riacho Camoxinga que na última cheia invadiu as três unidades de ensino. Há milhares de anos toda aquela área por onde passava o riacho, foi aterrada pelo próprio riacho obstruindo seu leito e fazendo o córrego abrir novo caminho para chegar até o rio Ipanema. Hoje escorre por trás do casario da rua Gilmar Pereira de Queiroz e prossegue contornando a área aterrada (onde estão os colégios), fazendo meandros mais ravina nas proximidades da foz, sob a Ponte Cônego Bulhões. Mas nunca encontrei estudioso na cidade para rebater minha tese, teoria, opinião ou mentira geográfica. Enquanto isso, no período de cheias, o riacho continua ameaçador. Fazer o quê?